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Em 26 de janeiro de 2017, Maria foi agraciada com a Ordem da Amizade pelo Presidente Putin, que a recebeu no Kremlin
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Em 26 de janeiro de 2017, Maria foi agraciada com a Ordem da Amizade pelo Presidente Putin, que a recebeu no Kremlin

Em 26 de janeiro de 2017, Maria foi agraciada com a Ordem da Amizade pelo Presidente Putin, que a recebeu no Kremlin

"Publiquem o calendário de invasões que eu preciso de planear as minhas férias." Maria Zakharova, o rosto polémico da diplomacia russa

Fluente em inglês e mandarim, a porta-voz da narrativa russa é também a influencer com fotos de armas, gatos e Steven Seagal. Entre o estilo de aço e o showbizz, chamam-lhe a troll-in-chief de Putin.

O batom rubro, as selfies glamorosas, as pacatas brincadeiras com os cães ou os longos elogios ao ministro Sergeĭ Lavrov. Com mais de 200 mil seguidores, Maria Zakharova é a prova de que um feed de Instagram pode ter tanto de beligerante como de inofensivo, num estranho casamento entre fotos de ramos de flores, cestos com morangos e descontraídas tardes de tiro ao alvo — “para algo completamente diferente”, legendava a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da federação russa, devidamente munida da sua arma, numa publicação de agosto de 2020.

Quando a torneira das redes sociais começou a fechar na Rússia, os perfis-celebridade foram ensaiando o seu êxodo para outras paragens online. Não por acaso, a sua comunidade de fãs entupia a caixa de comentários com dúvida e expectativa: “Maria, você tem VKontakte?”, “Não quer ir para o vk? Ali as pessoas podem continuar a ter a sua página”. À semelhança de outras estrelas da nação, que se viram forçadas a mudar de pouso para manter uma voz, e imagem, ativas, Zakharova despediu-se esta semana com um publicação informativa, redirecionando os seguidores. Seja qual for a plataforma, o ânimo parece não esmorecer, mesmo que cada vez mais entalado entre a fúria de quem condena o conflito através de comentários de ataque: “Estamos sempre com você, onde quer que esteja”, “Continue a promover ainda mais a Rússia na sociedade internacional!!!”, “Obrigado, Maria, pelo seu trabalho!!!!

O post de despedida do Instagram, publicado já esta semana © Instagram Maria Sahkarova

“Uma mistura de aço e entretenimento converteu estas mulheres em celebridades. Que importa se estão a fazer o trabalho do diabo’?”, descreve Ed Cumming no artigo recente publicado no The Telegraph, em que passa revista ao “exército de batom vermelho” de Vladimir Putin, uma tropa de elite no feminino que tem como missão “espalhar a narrativa” do Presidente russo. Ao lado de Maria, por exemplo, e também incluída na lista de sanções por ter promovido o destacamento de forças russas para a Ucrânia, está Margarita Simonyan, editora-chefe da emissora RT (ex-Russia Today), que esbanjou sarcasmo quando lhe perguntaram como se sentia na sequência da medida tomada pela UE. “A Maria Zakharova e eu puxámos dos nossos lencinhos”, para “podermos verter uma lagriminhas“.

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Sob uma selfie com um vestido florido, já devidamente instalada no seu mais atual palco digital, o Telegram, Zakharova, a mulher que mudou as feições de diplomacia russa, e um dos rostos salientes em tempo de guerra, anunciava: “Hoje em direto no Rússia-1 discutiremos com Vladimir Solovyov se há vida após o Instagram e o YouTube. E o que é pior: fotos de patos ou armas biológicas”. 

A avaliar pelas intervenções, seguidas ainda via Facebook (onde reúne quase meio milhão de seguidores) ou Youtube, há espaço para ambos. No primeiro, não são raras as partilhas que reclamam a verificação dos factos devido ao seu teor. Se num momento surge a esforçar-se no ginásio, no outro vemo-la a apontar o dedo à “xenofobia na internet” e ao “nacionalismo por muitos anos alimentado no território da Ucrânia e encorajado pelo ocidente”. Em qualquer dos casos, sempre distante dos aborrecidos homens de fato cinzento que em tempos chefiaram a informação veiculada, fosse na era soviética ou mesmo após o seu colapso. “Foram-se as estatísticas secas, substituídas em vez disso por linguagem bombástica e pelas piadas. Ela é um dos poucos porta-vozes na Rússia conhecidos pelo nome. Os seus briefings tornaram-na uma estrela online, conquistando milhões de visualizações”, descreve o Buzzfeed, que em 2018 dedicava um longo trabalho ao trajeto de “Masha”, que liderou a entrada do Ministério dos Negócios Estrangeiros numa era moderna marcada pelo trunfo das redes sociais, cuja importância desconheciam até 2008, ano da chegada à Presidência de Dmitry Medvedev e período em que a carreira de Maria descola de vez.

“É uma menina!” O berço, a vida na China e a escala em Nova Iorque

Os médicos juraram que o sexo seria outro, mas a 24 de dezembro de 1975 o destino trocou as voltas ao casal Zakharov. “Os meus pais esperavam um rapaz, os médicos assim o garantiram. Quando acabaram por ter uma rapariga, penso que o meu pai não me levou muito a sério. Ele amou-me, educou-me, mas as suas expectativas eram baixas. Penso que nunca consciencializei muito isso, mas deve ter deixado uma marca”, admitiu Maria no artigo citado, revelando ainda que foi sem surpresa que percebeu que as mulheres eram muitas vezes desconsideradas no meio profissional russo.

Apesar dessa eventual frustração inicial, à data do seu nascimento, a verdade é que Zakharova é bastante próxima da família e não deixou de seguir um caminho muito parecido com o paterno, no âmbito da diplomacia. A mãe, Irina Vladislavovna, é uma historiadora de Arte ao serviço do moscovita Museu Pushkin, enquanto Vladimir Yuryevich, um “absoluto homem do sistema”, como é descrito, trabalhou na Embaixada da URSS/Rússia em Pequim, ascendeu ao posto de Secretário-Geral Adjunto da Organização de Cooperação de Xangai, e lecionou na Escola de Estudos Orientais da Escola Superior de Economia.

New spokesperson of Russia's Foreign Ministry Maria Zakharova

Numa das primeiras imagens no papel de porta-voz dos Negócios Estrangeiros, num encontro em 2015 com o ministro saudita Adel bin Ahmed Al-Jubeir e o seu homólogo Sergeĭ Lavrov

Getty Images

A família residia, aliás, em Pequim quando a União Soviética colapsou, com a sua passagem pelo país a justificar a fluência em mandarim de Zakharova, — que em fevereiro de 2020, com a China já fustigada pela pandemia de Covid-19, endereçava uma mensagem de apoio ao país expressando-se na respetiva língua. Para lá se mudara em 1981 e de lá saiu em 1993, com os pais, agora regressados a Moscovo, a verem perdidas todas as poupanças e a depender de salários do setor público, enquanto para Maria era tempo de ingressar num liceu. Acalentava o sonho de se tornar correspondente estrangeira ou diplomata, apesar dos avisos maternos, que lhe lembravam que ambas as profissões estavam por norma vedadas às mulheres naquele país.

Ainda em 1993, entrou no prestigiado Instituto de Relações Internacionais na capital russa (MGIMO), onde se formaria em 1998. Com os estudos focados na China, concorreu pela primeira vez a um lugar no Ministério dos Negócios Estrangeiros, sem sucesso. Semanas depois, e ativada a rede de contactos do pai (e o empurrão do embaixador russo em Pequim), lograva por fim o acesso ao Ministério, na qualidade de assessora de imprensa para as relações com a China. Segundo Maria, conseguiu o trabalho graças “à intervenção do destino”. Se o sonho de qualquer graduado no MGIMO era ser contratado por uma multinacional, só por convicções ideológicas (ou falta de alternativa), afirma, se acabaria no Ministério.

Ali, a sua primeira missão foi assegurar o Boletim Diplomático, uma publicação interna composta essencialmente por contratos, decretos e outros documentos. Foi em 2003 que se cruzou com Alexander Yakovenko, que viria a chefiar o gabinete de imprensa do Ministério, mais tarde embaixador russo no Reino Unido); e que conheceu Sergeĭ Lavrov, que assumiria a pasta dos Negócios Estrangeiros em 2004. No ano seguinte, uma mudança de peso, com Maria Zakharova a ascender ao cargo de Secretário de Imprensa da Missão Permanente da Federação Russa junto das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque (EUA), onde Lavrov fora embaixador.

Russian FM Spokesperson Maria Zakharova

Em 2017, com o ministro Sergeĭ Lavrov, que conheceu no começo dos anos 2000

Getty Images

Os três anos seguintes foram passados entre o complexo da missão russa e o quartel-general da ONU, com Masha a ver desfeitas muitas das conceções que fazia do ocidente. Ao Buzzfeed, já sem lentes cor de rosa, recordou o “cinismo e dureza” que encontrou no Conselho de Segurança, “às portas fechadas”, e criticou a forma como os jornalistas americanos “nunca escreviam nada de bom sobre a Rússia”, interessados apenas em “crime, terrorismo e corrupção”.

Quem com ela privou assinala, sobretudo, a boa impressão então causada por Zakharova e a sua mudança de postura depois de sair dos EUA, e ainda mais depois da anexação da Crimeia, em 2014, nota naquele artigo o antigo ministro Andrei Kozyrev, fixado nos EUA e crítico da governação Putin.

Para a história da relação com Nova Iorque (cidade que confessa continuar a adorar) passou o episódio em que Zakharova circulou durante três horas por um museu empoleirada nas alturas. “Claro que fui de saltos. Era a National Gallery!”, rematou, imune a cansaços, nessa visita ainda em 2004, com direito a gratificação. “Minha senhora, de bom grado tiraria tudo o que está nesta galeria e deixaria os seus sapatos no centro. Estou farto de ver pessoas de ténis”, elogiou um velho segurança, que confirmaria junto de Maria grande parte da sua visão pessoal sobre o papel de cada género neste mundo.

Se a vida extra laboral é divulgada sem reservas nas suas redes sociais, o mesmo não se pode dizer sobre o clã mais chegado. Foi também em Nova Iorque que Maria se casou com Andrei Makarov, em 7 de novembro de 2005, no consulado russo da cidade. Têm uma filha em comum, Maryana, nascida em agosto de 2010, mas pouco mais se sabe sobre o casal. É preciso escavar na internet para obter um vislumbre do dia do enlace ou encontrar vestígios da vida em família — aqui e ali, nos primórdios da conta de Masha, a filha ainda é presença mas do marido, empresário, segundo consta, zero publicações.

4 fotos

Menos discreto é o gosto da porta-voz pela poesia — já escreveu versos sobre um piloto russo abatido na Síria e uma canção popularizada pela estrela pop Katya Lel.

O estilo todo-o-terreno no Instagram, no Telegram e no Youtube (e ainda uma Kalinka)

Para muitos, o balanço da sua prestação é de “fazer inveja a Donald Trump e Sarah Sanders”, uma personagem cuja pele enverga com a melhor das disposições.”Ela gosta mesmo do seu trabalho. Transformou a gestão das relações públicas do Ministério dos Negócios Estrangeiros num grande teatro“, admite Aleksey Maslov, professor na Escola Superior de Economia de Moscovo e conselheiro de Zakharova no começo dos anos 2000. É difícil agradar a todos, no entanto, mesmo no seio do próprio Governo russo. Para os mais conservadores, as suas intervenções oscilam entre o “ligeirinho” e o “excesso de dramatismo”, informalidades que em muitos casos parecem mimetizar os conteúdos que alimenta diariamente junto do seu público mais fiel.

É agora sobretudo a partir do Telegram, onde soma mais de 220 mil subscritores, que Maria tem vindo a manter a sua linha, entre ataques ao “surrealismo do regime de Kiev” e os já habituais momentos descontraídos, alheios ao som de bombardeamentos. Apesar das diferenças no template, o registo não difere daquele que cultivou no Instagram ao longo dos últimos anos, e onde se acumulam pérolas variadas. “Em Seul, uma máscara deve ser usada no corredor. É muito difícil fazê-lo, especialmente para correr. Mas é necessário”, assinalava a 25 de março de 2011, a fazer exercício e ainda com a pandemia em fundo. “Muitas vezes me perguntam: quais são as perguntas difíceis de responder? As estúpidas claro. O que são perguntas estúpidas? Por exemplo, aquelas que o interlocutor não consegue expressar sem um pedaço de papel ou um tablet, e a leitura é confusa. […] Não é fácil responder a perguntas baseadas em imprecisões ou erros factuais.”, desabafou em outubro de 2019, numa alusão ao seu trabalho.

“Celebrando o Dr. Steven”, entenda-se: celebrando Steven Seagal, com o ator que detém a nacionalidade russa desde 2016 (e que em 2021 se juntava a um partido pró-Kremlin) a surgir na imagem partilhada lado a lado com a porta-voz, num inusitado momento pop. “É assim que @slava_vlasovv me vê. Violência não é meu método. Só amor. Afinal, o coração está nas luvas, mostrava-se em 16 de setembro de 2019 numa produção com umas luvas de boxe calçadas. Aproximando-nos vertiginosamente do presente, estacionamos numa imagem com ursos de peluche, em vésperas do estalar da Guerra. “Um bom fim de semana para todos”, deseja no post.

No YouTube, um arquivo visual de boa parte das suas intervenções mais emblemáticas, também há peças com diversos temas em fundo, mas o estilo é quase sempre o mesmo. “A estupidez americana é pior que o terrorismo”, defendia Zakharova em outubro de 2016, o mesmo ano em que sprintou para o centro de uma sala para uns passos de dança, numa incursão pelo folclore russo. Numa cimeira em Sochi, Maria arriscou uma Kalinka, popularizada mundo fora.

Nesse mesmo ano, ainda, recordava as inspiradoras palavras da avó: “Costumava lembrar-me de que não há nada mais horrível que a guerra”, revelava Zakharova, insistindo que a Rússia não estava interessada num terceiro grande conflito à escala mundial.

Dieta, personal trainer e o ministério onde o Dia das Mentiras se tornou uma instituição

A diplomacia está longe de ser aveludada quando tem um microfone à frente, uma plateia capaz de a exasperar ou um programa televisivo que em dois tempos potencia desvios do protocolo. “Deixe-me falar ou vai mesmo ouvir o som dos mísseis russos“, disparou certa vez a um comentador ucraniano num talk show, enquanto em 2017, respondendo a um jornalista da televisão finlandesa sobre a campanha anti-LGBT que estava a ser levada a cabo na Chechénia pelo seu líder Ramzan Kadyrov, sugeriu que lhe oferecessem uma viagem para ir ver com os seus próprios olhos. “Não tem medo, pois não?”. “Foi como ter sido repreendido pela professora na escola, confessaria no rescaldo do episódio Erkka Mikkonen, depois de ver a porta-voz a tomar notas do seu nome, a fixar a câmara, e dirigir-se diretamente ao Presidente checheno. “Sr. Kadyrov, o briefing de hoje está a ser assistido por um representante da televisão finlandesa… Poderia organizar uma viagem para levá-lo à República Chechena, de forma a encontrar as respostas para as perguntas que tanto lhe interessam?” Aos olhos da Rússia, reconheceu Mikkonen àquele meio, “ela venceu”. “É muito boa a fazer o seu trabalho. O seu objetivo não é fazer as pessoas sentirem-se bem. Está ali para fazer o spinning de forma a ser vantajoso para a Rússia”.

Se em abril de 2018, em inglês, frente a John Heilemann, para o documentário The Circus, da Showtime, Maria censurava a forma como o governo russo tem vindo a ser “demonizado” pelos EUA, já em fevereiro passado, a curta distância da invasão da Ucrânia, e perante os alertas deixados pelo ocidente sobre a iminência do conflito, Maria gozava com a “desinformação norte-americana e britânica“. “Quero pedir à Bloomberg, ao The New York Times e ao The Sun para publicarem o calendário das invasões previstas para este ano. Preciso de planear as minhas férias“, escrevia no Telegram. Já com a guerra em curso, continua a protagonizar várias colisões frontais com os jornalistas.

Ciente do poder das redes, em 2011 Zakharova tornava-se diretora-adjunta do departamento de imprensa, responsável pela organização de briefings, deslocações ao estrangeiro e gestão das redes sociais dos Negócios Estrangeiros. Uma mudança de peso nas responsabilidades profissionais que fez questão de acompanhar com uma metamorfose a título pessoal. “Masha abordou a questão de forma muito metódica. Começou a ir ao ginásio, contratou um personal trainer, que fixou uma dieta, e mudou a sua forma de vestir”, recordava uma fonte ao Meduza, parceiro do Buzzfeed, sublinhando a sua consciência do papel em representação do país, e a importância de uma imagem que seria escrutinada ao máximo.

Imagem também — e acima de tudo — de um país que começou a ser exportada via Twitter, uma novidade introduzida no Ministério, que mais cedo ou mais tarde acabou por ganhar a reputação de ser demasiado combativa e nem sempre com grande adesão aos factos. De resto, no Dia 1 de Abril de 2013, a conta oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros mudava de nome para “MFA Trolls”. Um ano mais tarde, em nome do departamento, Zakharova recebia o prémio entregue na categoria “Cultura, Media e Comunicações de Massa”, pelo sucesso na Internet russa.

President Putin Addresses Supporters On Anniversary Of Annexation Of Crimea

Refletida num ecrã, em 18 de março de 2022, no evento que assinalou o oitavo aniversário da anexação da Crimeia pela Rússia

Getty Images

De regresso à Rússia, depois da passagem pelo Estados Unidos, Masha liderou os briefings no Departamento de Informação e Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Entre 2011 e 2015, trabalhou diretamente com o vice-Presidente do departamento Alexander Lukashevich, que viria a substituir em agosto de 2015, tornando-se a primeira mulher no país a representar de forma oficial aquele Ministério. Em setembro de 2020, foi nomeada chefe do Departamento de Segurança Internacional e Nacional da Academia Diplomática do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa. Entre diversas honrarias, foi homenageada pelo Presidente Putin em 2013. Putin que, em 2020, num passo pouco usual, viu-se forçado a pedir desculpa ao seu homólogo sérvio depois de uma brincadeira de Zakharova que não caiu bem a Aleksandar Vucic. A partir de uma foto em que Vucic surgia frente a Donald Trump, num encontro na Casa Branca, a chefe da diplomacia fez uma montagem com as pernas da personagem de Sharon Stone, recriando a célebre cena de “Instinto Fatal” — e dando a ideia de que o Presidente da Sérvia estava a ser interrogado pelo dos EUA.

Antes de se sentar com o repórter do Meduza, Konstantin Benyumov, o meio em língua russa sediado na Letónia, para uma conversa de quatro horas ao longo de dois dias, num Starbucks ao pé do Ministério, Maria perguntou se “planeavam escrever coisas desagradáveis” a seu respeito. Avisou ainda que não abordaria certos temas, como comentar a política doméstica russa, por considerar de “mau tom falar publicamente de algo em que não é especialista”. A meio da entrevista, voltando ao celebrado Dia das Mentiras, que se tornou uma instituição nos Negócios Estrangeiros a cada primeiro de abril, a porta-voz puxa do telemóvel para ler uma das suas preferidas. “Olá, ligou para a embaixada russa. Se deseja que um diplomata russo fale com os seus inimigos políticos, marque 1; para recorrer aos serviços de hackers russos, marque 2; se tiver alguma dúvida sobre interferência eleitoral, marque 3 e aguarde o início de uma campanha política. Para garantir a qualidade dos nossos serviços, todas as chamadas telefónicas serão gravadas.”

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