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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Reunião com a task force, a camisola 13 para as capas e um discurso com várias mensagens: o primeiro dia do resto da vida de Villas-Boas

Villas-Boas tinha discurso de vitória em rascunho mas só deixou "war room" com núcleo duro para ida à varanda que vai fazer capas de domingo. Com resultados, falou. Para todos. Por todos. Com todos?

Pode ser um pormenor, um daqueles detalhes a que se tem de prestar uma especial atenção para detetar, mas quando falou depois de votar na manhã deste sábado no Estádio do Dragão o condicional ia começando aos poucos a desvanecer-se no discurso de André Villas-Boas. Aquele trajeto pelo interior do recinto que fez até chegar à zona mista onde se encontravam os jornalistas mostrava um homem pleno de confiança, de peito cheio e com aquele sentimento de “alívio” por ter feito tudo o que podia fazer. Logo no início ainda se enrolou na palavra “ultrapassar-se-ão”, com o seu toque de nervosismo à mistura, mas depois não mais travou entre as várias respostas onde procurou sempre respeitar tudo e todos qualquer que fosse o resultado.

Não podia dizer, não podia expressar e de preferência até não podia sequer pensar (como se isso fosse algo passível de controlo) mas Villas-Boas tinha aí a noção plena de que seria o 32.º presidente do FC Porto.

Acompanhado por Tiago Madureira e Francisco Araújo, o antigo treinador dos azuis e brancos tinha feito o que mais gosta ou não tivesse ascendência britânica na família: ser pontual. Olhando para aquilo que eram as previsões de votação dos candidatos das três listas, foi a sua que cumpriu quase à regra tudo o que tinha sido desenhado e distribuído. Essa foi uma das marcas da longa campanha de mais de três meses que fez desde que apresentou oficialmente a candidatura a 17 de janeiro na Alfândega do Porto: ter previsibilidade. Nos atos, nas palavras, nos gestos, nos passos. Agora, era a hora de colher frutos. Se as sondagens internas iam apontando para uma vitória confortável, a adesão massiva de associados nas primeiras horas tornou-se uma mera confirmação de que o dia seria histórico não apenas pelo recorde de votantes nas eleições.

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Por isso, e quando saiu do Estádio do Dragão rumo à sede que foi uma espécie de “caixa forte” de ideias, de pessoas e de projetos ao longo de mais de dois anos na preparação do novo sonho de vida, André Villas-Boas já imaginava o tipo de discurso que teria de preparar: o de vitória. Foi isso que fez. Escreveu tópicos, pensou nas mensagens todas que queria passar, fez alguns acrescentos mediante aquilo que também ia sentindo, quase se esqueceu que também tinha de comer. Ainda passou por casa, para estar algumas horas a descansar e em família, mas voltaria à Rua do Agramonte ao final da tarde. Entrou como candidato, saiu como líder. Mais de quatro décadas depois, Pinto da Costa iria sair com uma derrota pesada abaixo de 20%.

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As primeiras vitórias estavam conquistadas. Pessoas próximas da candidatura apontavam a meio da tarde para um triunfo que deveria rondar os 65% e os 70% – mas sem deitar foguetes. Pessoas próximas também da candidatura sentiam do lado contrário uma espécie de sentimento de resignação que ganhou redobrada expressão perante as palavras de Marta Massada na zona mista em representação da lista de Pinto da Costa. Tão ou mais importante, respirava-se um ar diferente. A mudança notava-se na forma como as pessoas não tinham qualquer problema em falar alto a assumir o voto em Villas-Boas. A viragem sentia-se na maneira como pessoas que nunca tinham votado antes tinham passado pelo Estádio do Dragão. O fim de uma era assinalava-se em conversas entredentes onde se dizia que até alguns elementos dos Super Dragões que não da cúpula mais próxima da dirigente teriam admitido que não iriam dar o seu voto a Pinto da Costa.

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A festa estava preparada, as garrafas de espumante continuavam no gelo. Quando subiu à sala que descreveu ao Observador como “war room” onde preparou nos últimos dois anos a candidatura e quando se fechou com um núcleo duro mais alargado entre os dez grupos do WhatsApp, o sinal estava mais do que dado: até haver fumo branco da contabilidade de votos, não haveria comentários. De nada nem de ninguém. E a festa acabou por chegar de fora para dentro, com todos os convidados no interior da sede e as dezenas que se tornaram centenas de portistas ao longo da Rua do Agramonte a festejarem a vitória ao mesmo tempo que Vítor Baía, visivelmente abatido pelos resultados, dava os parabéns à lista B enaltecendo o legado passado.

Nenhum pormenor passou ao lado ao longo da noite. Sabendo que os jornais necessitavam de fotos do novo presidente do FC Porto para fazer as capas que iriam assinalar a manhã deste domingo, Villas-Boas vestiu a réplica da camisola 13 de Juary, o herói que marcou o golo decisivo na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1987 frente ao Bayern, agarrou num cachecol, subiu a uma coluna de som e saudou todos os adeptos em êxtase à porta da sede com gritos de “Porto! Porto! Porto!”. Essa parte estava cumprida, agora haveria de novo um pouco mais de recato enquanto os resultados estivessem ainda a ser preparados, como o próprio José Pedro Pereira da Costa foi ao palanque dizer. Seria uma questão de poucos minutos.

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Quando voltou a descer do primeiro andar rumo ao palco montado na sede entre muitos cumprimentos e abraços a todos os presentes, os olhos de Villas-Boas brilhavam de forma mais vibrante do que quando teve a frase da “cadeira de sonho” ao assinar contrato como treinador pelo FC Porto em 2011. Aos 46 anos, parecia um miúdo que cumprira um dos seus desejos de vida. E depois do “Porto! Porto! Porto!” e do típico “E salta André, e salta André, allez, allez”, ainda houve um “Vaaamoooossss” antes de começar um discurso que teria várias mensagens das entrelinhas para começar a preparar aquilo que será o futuro no Dragão.

“Estou muito contente, orgulhoso e honrado por esta oportunidade que vocês me dão. Espero corresponder às exigências de todos os portistas, que é ganhar, conquistar títulos e sustentar o nosso clube para o futuro, que é o mais importante. Que noite histórica! Que orgulho enorme ver a força do nosso clube hoje. A cada um de vocês, muito, muito obrigado por tudo! Lancei-me nesta candidatura pelo nosso clube e por vocês. Ao longo de toda a campanha fui recebendo de todos vocês força, energia e a confiança que nos trouxe até aqui. Mostraram-me que era possível voltar a ver o nosso FC Porto com o orgulho que temos por ele. Fazendo fé nas notícias das últimas horas, esta poderá ser uma estrondosa vitória e é por isso que dedico esta vitória a todos os portistas onde quer que estejam, esta vitória é vossa, é dos associados do FC Porto”, apontou.

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“Este ato eleitoral é um momento histórico para o FC Porto e para o futebol português. Quero deixar uma palavra às restantes candidaturas, em especial à de Jorge Nuno Pinto da Costa, quero deixar o meu agradecimento por tudo o que deu pelo FC Porto, pela vida que deu ao FC Porto e a garantia que esta é e sempre será a sua casa”, destacou, naquela que seria a única referência no discurso ao adversário.

“Este é o FC Porto que todos desejamos e precisamos: forte, revigorado, com raça e onde os associados ditaram hoje a sua mudança e encaram os desafios que se avizinham. Vamos precisar de manter a nossa coragem para lutar dentro e fora dos relvados para recuperar de novo o lugar que é nosso por destino. Somos um dos melhores clubes do Mundo, o bastião da região Norte, somos o FC Porto, o melhor clube de Portugal. Temos uma longa missão pela frente. Trabalho árduo numa casa que tem de ser estruturada, arrumada e organizada. Que não haja dúvidas que hoje o FC Porto está livre de novo”, ressalvou, num dos momentos mais aplaudidos por todos os apoiantes perante aquela que acabou por ser a chave do triunfo.

“Hoje é o dia em que começamos a escrever uma nova e vitoriosa página na vida do FC Porto, um FC Porto dos sócios e para os sócios. Um FC Porto que lidera pelo exemplo. Um FC Porto vencedor. Recai sobre mim e toda esta Direção que me acompanha, um sentido de responsabilidade. Sabemos perfeitamente o caminho que queremos perseguir e estamos prontos para responder com trabalho”, referiu ainda, entre agradecimentos a várias pessoas dos órgãos sociais e do staff da campanha antes de chegar aos sócios. “Aos 26.743 [que foram ainda mais] que hoje esperaram o tempo que fosse necessário para se fazer história, obrigado. Pela responsabilidade que me passam, prometo dar a vida pelo FC Porto. Aqui chegados, este é um tempo de união, para nos unirmos em torno do FC Porto. Mas o mesmo vai precisar de todos vocês, da união e do respeito e do saber que todos juntos somos mais fortes. Vocês vão fazer história, nunca duvidem disso. O FC Porto é nosso. O FC Porto é nosso e há-de ser, dos seus sócios, de todos nós. Somos o FC Porto. Só há um FC Porto e viva ao FC Porto”, concluiu André Villas-Boas, antes de responder aos jornalistas.

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“Estou muito contente, é um momento histórico decidido pelos sócios. Dobra o valor recorde de 1988 e demonstra toda a força da nossa massa associativa. Era algo que vinha sentindo, uma onda enorme de apoio dos associados. Não sabíamos que se podia sentir aquilo que estava a sentir. Falta saber a contabilidade total do ato eleitoral mas os sócios votaram em massa. Humilhação de Pinto da Costa? Não, de todo. Agora está na altura de fazer uma boa e grande despedida ao senhor Pinto da Costa por tudo o que fez pelo FC Porto, se ele assim entender. De mim, contará com o meu respeito, amizade, iremos sempre tratá-lo com elevação e dignidade por tudo o que deu ao FC Porto. Certamente que é assim que os sócios do FC Porto assim o desejam. Espero que essa despedida possa honrar o nome do FC Porto”, começou por dizer.

“Clássico? Ainda não sei onde vou ver, em princípio será no meu lugar, irei manter os meus hábitos. Ainda não tenho qualquer informação institucional por parte do FC Porto. A minha ideia é deslocar-me ao meu lugar habitual e fazer ali uma despedida para os próximos quatro anos. Convite para a tribuna? Gostava de estar próximo dos associados, seguramente neste último jogo, de forma a agradecer-lhes todo o apoio e carinho durante esta campanha”, atirou, recordando os 15 dias que tem agora para a tomada de posse e dizendo que, sem se querer alongar muito no tempo, irá sentar-se com o treinador Sérgio Conceição.

Havia mais um mar de gente para atravessar e saudar no interior da sede até ao regresso à varanda, onde cada vez mais adeptos iam cantando o nome do agora líder com a nova música onde se ouvia “Ah pois é, pois é e o presidente é Luís André”. Os resultados estavam quase a ser conhecidos, sendo que a expressão da vitória tornou-se esmagadora perante os mais de 80% de votos que colocaram Pinto da Costa a sair pela porta pequena. No entanto, não havia tempo para perder. E enquanto a festa continuava, quase que num arranque daquilo que se espera este domingo no Dragão frente ao Sporting, Villas-Boas voltava a falar com os elementos para começar a preparar aquilo que serão os primeiros tempos na outra cadeira de sonho.

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