Discurso do líder do CDS, Nuno Melo
É que o CDS não é passado apenas. Nós temos orgulho no nosso passado. Mas o CDS é muito presente. E se o CDS não fosse presente, nós não tínhamos conseguido alcançar as superações que alcançamos quando era mais difícil. Nós não podemos esquecer que o CDS não vive de uns fogachos parlamentares. Aliás, o CDS não desapareceu, apesar de conjunturalmente, num tempo curto, não estar na Assembleia da República. O CDS resistiu sempre.”
Nuno Melo insiste na ideia que a ausência do CDS do Parlamento durante dois anos foi um acontecimento isolado e acidental que não se voltará a repetir. E coloca o partido acima de outros que sugere que podem ser conjunturais (como aconteceu com o PRD) e que podem, no futuro, desaparecer de forma tão fulgurante como entraram no sistema político (naquilo que pode ser visto como a primeira farpa velada ao Chega). O CDS, apesar de ter estado fora da AR, está imune — nas palavras do seu líder — ao esvaziamento.
Porque o CDS governa sozinho seis câmaras municipais conquistadas em listas próprias. A minha saudação a cada Presidente de Câmara, a cada Vereador, a cada Presidente de Junta de Freguesia, a cada Membro da Assembleia de Freguesia. Conquistadas em listas próprias. Não dependendo de ninguém. Mas o CDS também ajudou, e muitas outras, a que o espaço político de centro-direita fosse prevalente relativamente à esquerda. E por isso eu soube também todos os nossos autarcas, que em mais de 40 autarquias, em coligação com o PSD, mas também no Porto, liderados pelo independente Rui Moreira, foram absolutamente determinantes com os votos do partido, com os mandatos eleitos, para que neste momento não seja a esquerda a governar os destinos desses munícipes.
O líder centrista tenta novamente contrariar a ideia de que o CDS é uma rémora que aproveita os restos do PSD. Nuno Melo lembra, por exemplo, que os centristas governam sozinhos seis câmaras municipais e que, em muitas outras autarquias, juntam-se ao PSD para impedir que o PS governe esses municípios. E, aproveitando estar a falar de autarquias, o CDS lembra também que foi o primeiro partido a dar a mão a Rui Moreira no Porto. A referência podia passar mais despercebida se o nome do autarca portuense não fosse um dos nomes apontados para liderar a lista da AD às eleições europeias. O líder do CDS — que só tem de escolher um elegível lugar mais abaixo na lista — está assim a dizer que os centristas sentem-se muito confortáveis caso a escolha de Luís Montenegro para encabeçar a lista Nas eleições de junho seja Rui Moreira.
O CDS voltou a ser determinante. Oito anos depois de maus governos de esquerdas para junto com o PSD na Aliança Democrática ajudar à derrota do PS em eleições legislativas, repetindo uma fórmula que nunca se alterou desde 1974. Em eleições legislativas sempre que o PSD e o CDS concorreram coligados nunca perderam essas eleições legislativas. Durante mais de vinte dias numa coligação o CDS nunca foi um parceiro menor. Nunca se sintam parceiros menores desta coligação, porque não somos. Somos aliados e leais em coligação.
Nuno Melo continua a rejeitar a ideia de que o CDS passou a ser uma espécie de “Verdes” do PCP. E puxa dos galões da vitória nas legislativas, dizendo que, quando se coliga com o CDS, o PSD consegue sempre ficar em primeiro lugar. Por isso mesmo, adverte, o CDS não deve ser visto como um “parceiro menor”. Mas é um parceiro com menos peso do que nos últimos anos: por ter apenas dois deputados o CDS não consegue ter força nem para derrubar nem para segurar um Governo. Em 2011 e em 2002, o CDS tinha esse poder, o que lhe dava mais força negocial dentro da própria coligação. Nesta mesma parte do discurso, após Passos Coelho ter acusado Paulo Portas de falta de solidariedade durante o governo da troika, Nuno Melo veio dizer que o CDS é aliado e “leal” em coligação. Foi também uma forma de responder ao antigo primeiro-ministro.
Durante dois anos, meus queridos amigos, nós acreditamos, nós persistimos, nós lutamos e é por isso que estamos aqui, porque vencemos. E este, neste momento, é um exercício realmente de superação extraordinário, porque devo dizer-lhes que há dois anos, a maior parte dos comentadores políticos comentavam que o CDS tinha acabado. E por estes dias últimos, o comentário é de quantos deputados o CDS ia eleger, quem é que ia estar num governo, seja como for, porque o CDS conta. Conta e não conta pouco. E é por isso que eu lhes quero dizer, meus amigos, que o CDS não se mede, nunca se mediu por dois anos da ausência da Assembleia da República.
Melo lembra a travessia que o CDS fez fora do Parlamento e como teve de resistir durante esse período quando todos (no campo político e fora dele) já davam o CDS como estando praticamente morto. Tem agora a sua vingança poética, ao lembrar que a “maior parte dos comentadores políticos” que há dois anos davam como certa a morte do CDS, tenham passado a falar sobre quantos deputados ou governantes ia ter. Melo está alinhado com o presidente da Mesa do Congress, J0sé Manuel Rodrigues, que minutos antes adaptava uma frase atribuída a Mark Twain: “As notícias da morte do CDS foram manifestamente exageradas”.
Há dois anos, meus queridos amigos, prometi-vos que o meu primeiro ato simbólico, mas político, seria aparafusar naquela parede da Assembleia da República a nossa placa que fez notícia quando saiu. Apertei-a, e eu mesmo e está lá. No que dependa de nós, nunca mais de lá sairá. Está lá, no lugar que lhe pertence por direito. Porque a Assembleia da República, a casa-mãe da democracia, é, por essência, a casa do CDS. Nós ajudamos a construir a democracia. Fizemos-la todos os dias, e assim será de novo, agora, com o Paulo Núncio, com o João Almeida, que são dois, mas acreditem, valerão por 50.”
O líder do CDS não se importa apenas com a simbologia do logótipo Governo (tendo sido um dos maiores críticos do símbolo minimalista do Governo de Costa), mas também em construir momentos mediáticos que mostrem a nova vitalidade do partido. Daí que Nuno Melo tenha recordado que o CDS tenha voltado a ter uma placa com o nome do partido na Assembleia da República. Mesmo que seja numa zona muito menos nobre que a anterior (a habitual foi entretanto ocupada pelo Chega), ficou o boneco que simbolizou o regresso centrista ao Parlamento. Neste regresso ao Parlamento, Nuno Melo volta a provocar o Chega, ao dizer que os seus dois deputados valerão por 50. Ora, além de estar a valorizar a sua micro-bancada, Melo está a atirar ao partido que tem essa coincidência de número de deputados (o Chega).
Peço-lhes mesmo que estejam felizes. Que percebam que este dia não é um dia fundacional para o CDS, mas é um dia muito importante para o CDS. Eu peço que estejam felizes, porque o CDS conquistou muita coisa. Isso deve-se a todos nós. Não perdi um segundo, durante dois anos, a falar para dentro, a pensar em ajustes de contas. Somos todos CDS. Fazemos todos falta no CDS. Sem exceção. E quando era mais difícil, quando em tantos havia à descrença, conseguimos uma reestruturação administrativa e financeira, que eu lhes devo dizer, é de facto impressionante. E só é possível, só foi possível porque este partido é um partido corpo inteiro.
Nuno Melo tem o seu momento de guru espiritual quando pede aos congressistas que sejam felizes na militância do CDS. E, nesse positivismo, aproveita para dizer que não se concentrou em atacar o antecessor (Francisco Rodrigues dos Santos) e segue a máxima do Papa Francisco de que contam todos, todos, todos. “Somos todos CDS”, diz o líder do partido.
Em 2024, meus queridos amigos, os votos do CDS foram realmente determinantes para a vitória da Aliança Democrática. Nestas eleições, o CDS não foi muleta e o PSD não foi barriga de aluguer. O mérito é de todos. E conquistamos o direito de estar naquele governo porque trabalhamos, porque estivemos na rua, porque contribuímos com ideias, porque demos muitos dos nossos melhores quadros. Os dois partidos, devo dizer não obstante, souberam ler os tempos. Os dois partidos, o PSD e o CDS, foram realmente essenciais para a derrota do PS. E quero dizer-lhes aquilo que é um exercício aritmético. É evidente que a vitória aconteceu porque o PSD e o CDS juntaram esforços e juntaram os votos. Mas para quem tiver dúvidas, subtraia ao resultado obtido em 2024, o resultado obtido pelo CDS sozinho, o nosso pior momento, o nosso pior resultado.
O líder do CDS reitera que, como a AD venceu as eleições por 54 mil votos, os eleitores centristas foram fundamentais para que a AD ficasse em primeiro lugar e não atrás do PS (o que levaria à demissão de Luís Montenegro). No entanto, Melo ignora que a AD podia ter uma vantagem de quase 100 mil votos, caso não tivesse existido o fenómeno ADN, em que quase 100 mil eleitores podem ter confundido o voto e votaram no ADN e não da AD.
Se juntamos votos e mandatos à coligação, só fazemos sentido nela se também somarmos a nossa singularidade. Porque o CDS não é o PSD e a nossa singularidade significa a nossa marca. Significa aquilo que junta. Significa, nessa medida, aquilo que aproveita a Portugal. Num partido que tem uma matriz que é própria. Democrata, cristão, humanista, personalista, aberto a correntes liberais e a conservadores. É isto que o CDS é.
Continua o esforço de Nuno Melo para provar que o CDS não está a ser absorvido pelo PSD. E para puxar por aquilo a que chama de singularidade, Nuno Melo destaca o lado mais ideológico do CDS, lembrando a democracia cristã, mas também uma casa onde conservadores e liberais se devem sentir confortáveis.
Queria dizer-lhes outra coisa, porque a política também é feita de símbolos. No Largo do Caldas esteve sempre a sede nacional do CDS. Sempre. Durante o PREC, o processo revolucionar em curso, a extrema-esquerda cercou e assaltou a nossa sede. Destruiu património, rasgou documentos. Há dois anos eu diria que outros extremistas que davam como certo o desaparecimento do CDS anunciaram que seriam os novos donos do Caldas, com alguns milhões que garantiam tinham no bolso. O que eu lhes quero dizer neste momento é que não. Não são os novos donos do Caldas. A sede do Caldas, a sede nacional, é nossa. A sede nacional será nossa. E com estas coisas, no CDS, não se brinca.”
Nuno Melo volta a atacar o Chega. Chegou a ser noticiado que o CDS poderia ter — em virtude das dificuldades financeiras que enfrentava — de abandonar a histórica sede no Largo do Caldas. Na altura, de uma forma humilhante para o CDS, foi até noticiado que o Chega estaria interessado em comprar a sede. Agora o líder do CDS vem garantir que não tenciona sair do Caldas e atirou aos que quiseram fazer essa maldade ao partido (o Chega de André Ventura).
Modernizaremos a comunicação e a linguagem, porque precisamos chamar mais jovens. Eu quero dizer aos jovens de Portugal que o CDS pode e deve ser a sua causa. O CDS não é um partido antigo. O CDS é um partido moderno, que tem as respostas para os problemas que se sentem.
O presidente do CDS já percebeu que o Chega domina os escalões etários mais jovens (e já votantes) e — para não continuar a perder terreno também para a IL — elege como prioridade falar mais para a juventude. Mas não diz como (se irá, por exemplo, apostar num conta de Tik Tok). Limita-se a dizer que o CDS é moderno, que não é antigo, mas sem concretizar.
Continuaremos a ser sólidos nas convicções, competentes nas soluções, com valores, com sentido de serviço, apresentando experiência e sentido de serviço, mas também juventude e muita renovação. Nós queremos renovar os órgãos do partido com jovens, mulheres, mas também com pessoas mais velhas, com pessoas que ainda não tiveram a sua oportunidade. Eu tenciono nas eleições europeias dar o primeiro sinal.
Nuno Melo destapa um pouco o véu das escolhas para as Europeias — onde vai indicar apenas um eurodeputado em lugar elegível. O líder do CDS promete um “primeiro sinal” de renovação das listas e de presença de jovens e mulheres na candidatura às eleições de 9 de junho. Resta saber se a primeira indicação do CDS será mesmo uma mulher e jovem.