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A manifestação que suspendeu as negociações com o Governo e gerou críticas e polémica
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A manifestação que suspendeu as negociações com o Governo e gerou críticas e polémica

A manifestação que suspendeu as negociações com o Governo e gerou críticas e polémica

Sapadores. PSP atenta a elementos "radicais", os "Capacetes Negros" no WhatsApp e o papel do Chega nos protestos

Descontentamento dos Bombeiros Sapadores começou a crescer nas vigílias que começaram em setembro. Com um grupo de WhatsApp, começaram a juntar-se em todas a reuniões.

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Na última terça-feira de manhã, quando os cerca de 300 Bombeiros Sapadores começaram a chegar ao quartel de Alvalade, em Lisboa, a PSP já tinha um dispositivo de segurança montado — quer nas imediações, quer ao longo do percurso que o grupo ia fazer até à sede do Governo. A marcha de três quilómetros não foi comunicado às autoridades — o que motivou o envio do caso para o Ministério Público —, mas a polícia, apurou o Observador, já sabia que estava prevista uma manifestação através da vigilância feita dias antes aos grupos que organizaram o protesto. E esta monitorização não se ficou por aqui. A PSP garante estar atenta às movimentações dos Sapadores para antecipar novas manifestações que “ponham em causa a segurança das pessoas e a ordem pública”, garantiu outra fonte desta força de segurança.

Com a subida do nível de contestação dos últimos meses — primeiro, com os protestos na escadaria da Assembleia da República; e, mais recentemente, à porta do edifício-sede do Governo —, a recolha de informações desta força de segurança tornou-se ainda mais apertada e o objetivo é “perceber se nos dias de manifestações vai haver protestos violentos”. “Isso é um trabalho permanente”, acrescenta a mesma fonte.

Petardos, fumo vermelho e palavras de ordem. Tensão em protesto dos Bombeiros Sapadores leva à suspensão das negociações com o Governo

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Neste momento, a maior preocupação dos serviços de recolha de informação da PSP é dirigida ao que fontes desta força de segurança descrevem como a “nebulosa”: elementos radicalizados, um grupo “mais restrito” dentro do conjunto de sapadores que têm aderido ao protesto, que defendem e promovem uma contestação e ações mais violentas contra o poder político. “Temos polícias da área das informações atentos a esses grupos de risco e o que fazemos é perceber o que está a ser planeado para podermos antecipar” medidas de contenção.

Esse trabalho está a ser feito de forma permanente e tem vindo a ser reforçado com a ameaça, por parte dos manifestantes, de que a contestação vai continuar e pode tornar-se ainda mais visível. Sem entrar em detalhes sobre a forma como essa monitorização é feita, fonte da PSP revela que, além da “auscultação de informações” — que pode passar pelo contacto com elementos do corpo de bombeiros que partilhem dados internos sobre novos protestos não comunicados às autoridades, como o desta semana —, também promove uma “participação ativa” nos circuitos de informação internos dos bombeiros.

Das vigílias à criação do grupo “Capacetes negros”

O cenário que se criou na última terça-feira — dia em que se viram centenas de bombeiros em protesto, a derrubar barreiras policiais e a rebentar petardos — começou a montar-se, na verdade, há vários meses. Os Sapadores ouvidos pelo Observador justificam o escalar na tensão com o aumento do descontentamento pela falta de respostas às reivindicações que têm mais de 20 anos. Em setembro, estes bombeiros decidiram dar início a várias vigílias que se multiplicaram em diversos pontos do país, com destaque para Lisboa e Porto.

Na capital, os Sapadores estiveram durante mais de um mês à frente da Assembleia da República, em protesto pela revisão da tabela salarial, pela regulamentação da carreira e do horário de trabalho. Durante esse mês, defende um dos bombeiros que participou nas vigílias e na última manifestação, “ninguém ouviu” estes profissionais. “Ninguém quis saber, os políticos não quiseram saber, porque estávamos ali calados, de forma ordeira”, acrescenta. E foi durante este mês que os trabalhadores de vários pontos do país começaram a ter mais contacto. A Lisboa chegavam, por exemplo, bombeiros de Leiria ou Coimbra para participar nas vigílias.

Na capital, os Sapadores estiveram durante mais de um mês à frente da Assembleia da República, em protesto pela revisão da tabela salarial, pela regulamentação da carreira e do horário de trabalho.

Esses contactos deram origem a vários grupos no WhatsApp — uns para organizar os protestos na zona Norte, outros para organizar os protestos na zona Sul, promovendo a aproximação entre Bombeiros Sapadores de todo o país. Durante este período, “todos os partidos pararam para ouvir as reivindicações”, acrescenta outro bombeiro sapador ouvido pelo Observador. “E praticamente todos quiseram receber-nos para nos ouvir, mas nada mudou.”

Mas a 2 de outubro, com algumas vigílias ainda a decorrer e sem sinal de negociações entre estruturas sindicais e Governo, o Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS) decidiu marcar um protesto frente ao Parlamento. Nessa manifestação, estes trabalhadores começaram a dar sinais de descontentamento. E começou a ficar mais claro que as formas de luta pacíficas tinham os dias contados. Subiram as escadas da Assembleia da República, rebentaram petardos, gritaram palavras de ordem — muito à semelhança daquilo que aconteceu esta terça-feira.

Bombeiros sapadores sobem escadaria do Parlamento durante manifestação e polícia tenta barrar entrada

Já com os ânimos exaltados, o Governo decidiu avançar para a mesa das negociações e a primeira reunião para discutir o futuro da carreira dos Bombeiros Sapadores aconteceu no final de outubro. Logo na primeira reunião, a 6 de novembro, os trabalhadores quiseram garantir que estavam a par daquilo que estava a ser negociado e muitos — sobretudo os Sapadores do Regimento de Lisboa — estiveram à porta do edifício-sede do Governo. Os sindicatos não aceitaram a primeira proposta apresentada e a redução salarial avançada pelo Executivo de Luís Montengero — de quase 1.100 euros para 1.917 euros — trouxe ainda mais indignação.

Terá sido nesta altura que os vários grupos criados no âmbito das vigílias migraram para um mega-grupo no WhatsApp com os contactos dos trabalhadores de todo o país, para que começassem a ser organizados os protestos junto ao edifício onde decorriam as negociações. Com o nome “Capacetes Negros” — numa alusão ao seu próprio equipamento —, este grupo inorgânico começou por organizar o protesto do dia 25 de novembro, dia da segunda reunião de negociações entre Governo e sindicatos.

Esse encontro terminou como o anterior — sem acordo — e, mais uma vez, o descontentamento cresceu. “Aldrabões” e “vergonha” eram já algumas das palavras ouvidas junto à sede do Governo no final de novembro. E com a falta de respostas, o grupo “Capacetes negros” começou a ter cada vez mais membros, adicionados por outros bombeiros. E assim foi preparado o protesto desta terça-feira, que terminou com a suspensão das negociações por parte do Governo, avisando que “não aceita negociar perante formas não ordeiras de manifestação”.

Com a falta de respostas, o grupo "Capacetes negros" começou a ter cada vez mais membros, adicionados por outros bombeiros.

Vários membros deste grupo garantem que escolheram o quartel de Alvalade como ponto de encontro uma vez que esperavam vários autocarros de outros pontos do país e, por uma questão de logística, seria mais fácil concentrar os bombeiros sapadores ali. O facto de a PSP já lá estar, fez com que alguns se exaltassem. “A ideia seria só dirigirmo-nos para o local. Normalmente, combinamos mais perto. Mas quando começámos a ver um dispositivo policial, os ânimos também começaram a exaltar-se“, descreveu um dos sapadores, que garante, no entanto, que os petardos utilizados não foram comprados através do grupo, mas sim adquiridos de forma individual.

Quanto à forma do protesto. “Houve alguns fundos para as tarjas, por transferência, mas não havia fundo nenhum para comprar esse material [petardos]”, acrescentou ainda o bombeiro.

Dentro deste grupo há ainda quem não concorde com a existência de movimentos inorgânicos, não ligados a sindicatos. “Mas foi com isto que abrimos noticiários. Nós fizemos ações ordeiras e ninguém nos ouviu”, descreveu outro sapador, que diz também admitir que “algumas pessoas tiveram comportamentos menos corretos, mas são meia dúzia”.

O papel do Chega nos protestos

No dia em que os Bombeiros Sapadores subiram a escadaria da Assembleia da República durante um dos maiores protestos do setor nos últimos anos, houve um momento que ficou para a história da manifestação: o modo como André Ventura foi recebido. E o Chega nem sequer foi o único partido a marcar presença, mas a forma como Ventura foi tratado entre palmas, abraços, sorrisos e agradecimentos foi notória — dentro e fora dos bombeiros e à semelhança de outras aparições em manifestações de polícias.

Dias depois, quando os bombeiros começaram por ser impedidos de entrar na Assembleia da República por estarem fardados, numa altura em que o Parlamento arrancava um debate sobre carreiras e subsídios, André Ventura foi o primeiro a manifestar-se contra. Ao Chega juntaram-se vários partidos, mas o líder do Chega ficou com o ónus de iniciar a discussão — que acabou com uma vitória para os bombeiros quando o presidente da Assembleia da República recuou e permitiu que entrassem. Para os bombeiros, mais um ponto a favor de Ventura.

A forma como Ventura foi tratado entre palmas, abraços, sorrisos e agradecimentos foi notória — dentro e fora dos bombeiros.

Em frente a câmaras e microfones vão-se separando as águas entre bombeiros e políticos, sindicatos e partidos, e há no setor a noção de que nem todos os profissionais têm uma inclinação ideológica para o Chega. Contudo, acredita-se no partido, tem crescido a sensação de que estar na linha da frente das reivindicações dos bombeiros tem surtido efeito junto do setor.

Dirigentes ouvidos pelo Observador confirmam que se sentem aproximações, que vários dirigentes dos sindicatos e até bombeiros não sindicalizados vão procurando o partido para informar, pedir opiniões e dar conta de avanços ou recuos nas reivindicações, principalmente sobre as reuniões com o Governo que, até ao momento, não surtiram efeito — e têm levado ao aumento dos protestos.

No partido, acredita-se que essa relação começou a estreitar-se porque alguns dos seus membros estão mais próximos da realidade dos bombeiros, nomeadamente por funções na política local, e essa questão, contam ao Observador, tem sido uma das grandes críticas do setor: a falta de literacia sobre a realidade da profissão e a queixa de que os voluntários são sempre a prioridade pelo facto de serem muito mais. A apresentação de propostas e a forma como o Chega tem agido — tal como fez anteriormente com as polícias — tem levado a essa constante aproximação.

No partido acredita-se que essa relação começou a estreitar-se porque alguns membros do partido estão mais próximos da realidade dos bombeiros, nomeadamente por funções na política local.

No Chega, conta um deputado, não há grandes dúvidas sobre as intenções: “Os bombeiros também são próximos de outros partidos, nomeadamente da esquerda, mas perceberam a força do Chega, o que tem sido proposto pelo partido, isso agrada-lhes, e estão a fazer a parte deles: aproximaram-se porque viram que somos a única alternativa para os ajudar.” Tal como tem sido dito nas ruas e à comunicação social pelos próprios bombeiros, também fontes do partido — que recusam a ideia de que o Chega “dá ordens” ou “incentiva” a manifestações mais violentas —, têm recebido queixas constantes sobre o facto de os bombeiros terem “atingido o limite” e estarem preparados para “levar a luta até ao fim”.

Uma coisa é certa: os bombeiros dizem que não vão parar e o Chega não se vai descolar desta classe profissional, até porque tem o sonho antigo — e desaparecido — de formar um sindicato e, perante as dificuldades, é relevante para o partido continuar a somar setores junto do seu eleitorado. Depois das forças de segurança, o partido, reconhecem fontes do Chega, não tem dúvidas de que esta será uma prioridade para os próximos tempos.

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