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Estação de S. Bento no Porto, 16 de maio 2022. Os trabalhadores da CP – Comboios de Portugal fazem hoje uma greve de 24 horas, para reivindicar aumentos salariais de 90 euros para todos os trabalhadores. ESTELA SILVA/LUSA
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ESTELA SILVA/LUSA

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Transportes de Lisboa e Porto vão ter "umbilhete.pt". Sistema único com aplicação e multibanco pode ser alargado a todo o país

Projeto "um bilhete.pt" promete "transformação" dos títulos de transporte. Sistema único arranca em Lisboa e Porto, mas está aberto à adesão de todos os municípios. Investimento é de 2,7 milhões.

O anúncio foi feito esta terça-feira no Parlamento, mas o trabalho já dura há meses. “Não começou do zero”, diz ao Observador o secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado. O projeto “umbilhete.pt” arranca oficialmente esta sexta-feira, com a assinatura de um protocolo entre as Áreas Metropolitanas (AM) de Lisboa e Porto e o Instituto da Mobilidade e Transportes (AMT). O objetivo é que em julho seja possível ir do ponto “A” ao ponto “B” usando um só cartão, mesmo que a distância entre eles seja de 300 quilómetros, e sem passar pela casa de partida, ou seja, por outra bilheteira. No final do ano, deverá ser possível fazê-lo com uma aplicação para telemóvel. E em 2024, bastará o cartão multibanco.

Tudo partiu da consciencialização sobre vários problemas. Além de ser difícil criar tarifários que abranjam tanto várias zonas do país como diferentes meios de transporte, por não haver um suporte comum, também estava a acontecer uma “ineficiência muito grande no trabalho desenvolvido pelas diferentes autoridades” municipais. Ou seja, “andava cada uma por si”, a desenvolver a sua própria tecnologia de raiz, o que resultava em “duplicações de custos e falta de compatibilidade”. Em suma, “não fazia sentido”, diz Jorge Delgado.

Então, o que vai mudar? Na prática, haverá “uma grande transformação” nos títulos de transporte. Em todas as vertentes. “O título de transporte tem duas componentes: a física, que é o cartão ou o telemóvel, e a tarifária, que é carregar o bilhete que nos habilita a fazer uma viagem no território onde esse cartão pode ser utilizado”, começa por explicar o secretário de Estado que tutela a mobilidade. Os exemplos mais conhecidos de títulos de transporte são o Andante, no Porto, e o Navegante, em Lisboa. Que hoje só podem ser usados exclusivamente na zona de origem. Mas isso vai mudar.

“Queremos permitir que o mesmo sistema possa ser usado em qualquer parte do território e, com isto, podemos dar um salto mais forte no sentido de se facilitar a criação de títulos intermodais, que possam ser usados intermunicípios, interregiões e, no limite, fazer que um título possa ser usado para uma viagem em todo o país“, revela Jorge Delgado.

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FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/OBSERVADOR

Para isso é preciso resolver um problema de compatibilidade. E fazer com que o sistema seja universal. É esse primeiro passo que vai ser dado esta sexta-feira, entre as AM de Lisboa e Porto. Mas o objetivo é estender a todo o país. “As AM já têm muito trabalho feito. Com esta plataforma, chamámos as duas áreas metropolitanas e dissemos: ‘vamos partilhar a informação e vamos uniformizar os critérios nestas duas áreas’. Em cima disto pomos o IMT (Instituto da Mobilidade e dos Transportes) a coordenar e a ficar fiel depositário de todo o trabalho que se fizer”.

Além disto, haverá um acordo de adesão, extensível a qualquer município que queira ter a plataforma “umbilhete.pt”. Não terá custos para os municípios, que poderão aproveitar o trabalho que vai ser desenvolvido no contexto deste protocolo, “não tendo de repetir esse trabalho e ficando com um produto compatível com os outros que estão a ser desenvolvidos no país”, resume o governante.

Por exemplo, será possível criar um título de transporte entre o Oeste e Lisboa ou entre o Porto e Braga, que fazem parte de comunidades intermunicipais (CIM) distintas, porque a atual barreira tecnológica que existe será derrubada (se os municípios respetivos aderirem à plataforma). “Dá-se a liberdade de criar os tarifários que se entender em função dos interesses que são razoáveis entre regiões. Não terá grande interesse haver um acordo entre a CIM do Alto Minho e a CIM do Algarve, mas entre CIM contíguas fará”.

Jorge Delgado dá um exemplo clássico de um problema que vai ser resolvido, que é a dificuldade que a CP tem sempre que quer criar um tarifário intermodal numa região, e tem de articular de forma específica com este território a parte do suporte físico, e compatibilizar todos os sistemas. Foi o que aconteceu quando se criou o Navegante em Lisboa, que permite usar o mesmo título em todos os transportes públicos de Lisboa. “Se isso estiver uniformizado, essa dificuldade deixa de existir. Queremos evitar que se desperdicem recursos, porque [hoje] todas as autoridades têm de desenvolver os seus sistemas de bilhética de forma autónoma, não partilhando recursos e, muitas vezes, fazendo a mesma coisa que outra autoridade já fez”.

Cartão multibanco nos transportes chega em 2024

O projeto, que tem um orçamento de 2,7 milhões de euros, será partido em três fases. Nos próximos cinco meses, até julho, será feita a adaptação de toda a tecnologia no que diz respeito aos cartões. Ao fim de dez meses, portanto no fim do ano, a expectativa passa por ter o projeto concluído para aplicações móveis. Em 13 meses deverá estar operacional o uso de suportes de cartões multibanco, neste caso direcionado para viagens mais ocasionais.

Questionado sobre o trabalho que será preciso fazer com os bancos ou com a gestora da rede Multibanco, o governante refere apenas que “já existem experiências piloto, quer no Porto quer em Lisboa, do uso do cartão multibanco como meio de pagamento para viagens ocasionais”, como acontece no aeroporto Sá Carneiro. “Para que possa estender-se a todo o país temos de fazer a compatibilização de todos os sistemas que existem nos locais para que todos leiam da mesma forma e todos permitam validar a viagem”.

A tecnologia pode ser incorporada num cartão ou numa aplicação móvel“, que podem ser carregados com dinheiro que permita ser descontado à medida que são gerados os títulos que o passageiro precisar e que existirem. “O suporte físico fica habilitado a ler qualquer dispositivo em qualquer sistema de qualquer região do país. A ideia é essa: comprei o suporte físico num ponto e ele será válido em qualquer sítio que tenha aderido. É esta a parte de universalização que queremos resolver”, sublinha Jorge Delgado.

Para já a experiência cinge-se a Porto e Lisboa, mas o Ministério do Ambiente está “convencido” de que “terá grande adesão” por parte dos municípios. Os tarifários serão desenvolvidos numa etapa seguinte, quando a tecnologia já for universal.

“Inteligência” do Andante pode chegar a todo o país

No Porto, a atual tecnologia do Andante é mais avançada do que qualquer outra que se usa no país. “É especial. É um projeto piloto”, ressalva Jorge Delgado que antes de ir para o Governo esteve ligado aos transportes no Porto. O que acontece com a aplicação Anda é que basta ativá-la quando começa a viagem e o sistema vai cobrando em função da distância e das zonas percorridas. “Tem inteligência suficiente para perceber o que eu andei e mandar a conta”, resume o secretário de Estado. Não é descabido, acredita, que possa chegar a todo o país. “É um primeiro projeto” com este alcance e “acredito que no futuro possa ser estendido a mais zonas, quiçá ao território todo“.

Outras das possibilidades do projeto é abri-lo a outras formas de mobilidade, como bicicletas e trotinetas, que “poderão fazer parte se aderirem à mesma plataforma tecnológica, numa viagem planeada entre dois pontos”. Será ainda possível facilitar o planeamento das viagens, dando informação sobre as várias opções que existem e a estimativa dos custos.

O ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro (D), acompanhado pelo secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado (D), durante a sua audição perante a Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação, na Assembleia da República, em Lisboa, 08 de fevereiro de 2023. ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Duarte Cordeiro e Jorge Delgado anunciaram o projeto "um bilhete.pt" no parlamento

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Arrancando em fevereiro, o prazo para a primeira fase estar concluída bate praticamente no arranque da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que decorre em Lisboa na primeira semana de agosto e deverá trazer ao país mais de um milhão de pessoas, que terão na mobilidade um dos desafios. Mas Jorge Delgado duvida que a solução possa estar em prática a 100% nessa altura. “Em julho estaremos com o produto concluído mas ainda com testes e numa fase que não terá, na JMJ, uma aplicação de forma muito extensiva”, admite.

Outra das novidades adiantadas pelo ministro Duarte Cordeiro esta terça-feira no parlamento é a criação de um cartão mobilidade, que terá uma lógica de funcionamento semelhante à dos cartões de refeição. Este projeto está ainda numa fase “muito incipiente”, diz Jorge Delgado, sendo “prematuro” adiantar pormenores.

“Pretende ser um produto que funciona como uma espécie de porta moedas, que pode ser oferecido a todos os trabalhadores de uma empresa, que os podem usar para adquirir produtos relacionados com mobilidade”, sejam títulos de transporte, viagens de táxi ou, “no limite, o pagamento da prestação da aquisição de uma bicicleta”. Mas “não está ainda nada definido”, nomeadamente “que tipo de uso pode ser feito com esse cartão, que tipo de benefícios fiscais vão ser dados às empresas que tenham o cartão”. Há apenas um objetivo único, que se estende aos dois projetos: fazer com que os portugueses abandonem o carro.

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