895kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Convenção do Bloco acontece a 21, 22 e 23 de maio, em Matosinhos
i

Convenção do Bloco acontece a 21, 22 e 23 de maio, em Matosinhos

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Convenção do Bloco acontece a 21, 22 e 23 de maio, em Matosinhos

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Travar PS, enfrentar Chega, lidar com os críticos internos: os desafios que o Bloco enfrenta

Bloquistas lançam nesta convenção estratégias para travar uma maioria PS — e lidar com a sucessão de Costa — e capitalizar com o Chega. Críticos internos garantem que direção sofreu "erosão".

O ano era 2018. A geringonça tinha nascido há três anos e o Bloco de Esquerda reunia-se para fazer o balanço da experiência. Mais do que isso: mais próximos do que nunca do poder, os dirigentes subiam ao palco da XI convenção, em Lisboa, para mostrar ambição — real ou insuflada — e faziam referências à vontade assumida de fazer parte de um Governo. “Queremos ser Governo? Sim, e estamos preparados”, garantia Mariana Mortágua. Começavam a escrever-se listas de bloquistas ministeriáveis. O Bloco devia ir “até ao infinito e mais além”, sintetizava Francisco Louçã. As listas de críticos, que pediam um partido mais radical e menos ligado ao poder, eram reduzidas.

O ano é, agora, 2021, e o mundo — o mundo lá fora, tal como na bolha política portuguesa — mudou. Desde a última convenção, o Governo recusou entrar numa geringonça 2.0 com o Bloco e o Bloco votou contra um Orçamento do Governo; o mundo mergulhou numa pandemia que trouxe nova crise económica consigo; os críticos internos do partido apresentaram-se numa moção que vai a votos; e a conversa sobre ir para um Governo — que classifica o Bloco como um partido “desertor” — acabou.

A última convenção aconteceu durante o período da geringonça. O Bloco dizia então que queria ser Governo

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O Bloco que se reunirá (parcialmente, por causa da pandemia) este fim de semana em Matosinhos, para a XII convenção, será necessariamente um Bloco diferente. Num conclave que servirá para posicionar o partido neste ciclo político, as cúpulas bloquistas quererão falar da relação com o PS e capitalizar com o voto contra no último Orçamento, mas também acertar a estratégia sobre a ascensão da direita do Chega; analisar as eleições que ficaram para trás — incluindo o desaire presidencial — e os objetivos para as que hão de vir; navegar por entre os casos polémicos que têm embaraçado o partido; e enfrentar uma oposição interna que quer ser ouvida.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Tudo isto enquanto outras sombras pairam sobre o pavilhão de Matosinhos: mesmo que não esteja visivelmente presente nos discursos do fim de semana, a futura sucessão na liderança do PS é um dos assuntos que ocupam a cabeça dos bloquistas.

O fim da geringonça e o “divórcio” do PS

A expressão é de António Costa, que há umas semanas comparava a relação com o Bloco de Esquerda à dos casais que se divorciam, mas que até podem voltar a juntar-se. Nesta convenção, os bloquistas terão, pela primeira vez desde o tal “divórcio”, a oportunidade de se deitarem no divã e analisarem o “relacionamento com o Governo”, que, “nas suas diversas vertentes, será o prato principal da convenção”, afirma um dirigente.

Acontece que para o Bloco o que aconteceu não foi exatamente um divórcio: os bloquistas esperam ter reunido argumentos com o voto contra o último Orçamento para agora surgirem mais fortes na mesa das negociações, onde já confirmaram que se sentarão. Se num primeiro momento admitiam que a decisão de romper com o PS, por acreditarem que as respostas à crise gerada pela pandemia eram insuficientes, representava um risco eleitoral grande, neste momento a direção está confiante em que a escolha foi a mais acertada.

Relação com o PS está mais tensa. BE espera capitalizar com isso, mas também existe o risco de ficar fora de jogo

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Por um lado, porque nas sondagens o partido vai mantendo percentagens semelhantes às que tinha antes de assumir esse risco; por outro, porque os dirigentes consideram que o tempo foi dando razão às exigências do Bloco. O segredo agora será insistir sem parar nessa “razão”, tentando provar porque é que no dossiê do Novo Banco — que foi uma das linhas vermelhas do BE no OE2021 e que voltou agora a aquecer, com a auditoria do Tribunal de Contas — o Governo estava errado; lembrando que, na questão dos apoios sociais, até Marcelo Rebelo de Sousa ficou do lado da oposição; ou frisando a necessidade de reforçar o SNS em tempos de pandemia.

Com uma “visão crítica da governação do PS, em particular do período pandémico”, e propostas sobre mudanças de fundo — nas carreiras do SNS ou na legislação laboral — os bloquistas querem apresentar-se como o partido que continua a ser a chave para impedir uma maioria absoluta do PS. Por um lado, aproveitando a posição do PCP, que continua a viabilizar Orçamentos, o que pode permitir ao Bloco mostrar-se como a oposição mais dura à esquerda.

Questionados sobre se isto não deixará, pelo contrário, o BE numa posição mais irrelevante e fora de jogo na aprovação dos documentos mais fundamentais para a governação, os bloquistas recusam essa visão: o voto contra trouxe liberdade de movimentos e capacidade para subir a parada e mostrar exigência, garantem. Por outro lado, para isso contam com as mudanças no xadrez político português.

O fator Chega

Ironicamente, a ascensão do Chega em Portugal será também um assunto que o Bloco quererá transformar na sua força, e para ganhar força no eleitorado de esquerda. Em Matosinhos, deverão ser vários os bloquistas que dedicarão as suas intervenções a analisar essa mudança no cenário político, com a convicção de que o “debate mais cultural” que o Chega veio trazer é um dos confrontos perfeitos para o Bloco assumir, colocando-se do lado oposto da barricada — a estratégia tem aliás sido seguida pelo partido, regularmente, no Parlamento e foi adotada também nas presidenciais, quando Marisa Matias tentou surfar a onda do batom vermelho (#Vermelhoembelem) contra André Ventura. Sem sucesso.

Com o potencial que o Chega representa para uma polarização à esquerda, o Bloco quer apresentar-se como o partido que pode falar ao tal eleitorado esquecido e impor medidas ao Governo do PS. Nas presidenciais assumiu o confronto com o Chega como estratégia, mas não resultou: Marisa Matias acabou com menos de metade da votação de 2016.

Ainda assim, a convicção entre as cúpulas do Bloco é que o “caldo cultural que dá espaço à extrema-direita” tem de ser combatido e que o partido pode ter aqui uma posição chave, falando ao eleitorado que se sente “esquecido” ou abandonado pelos políticos.

E é neste ponto que os bloquistas acreditam que podem fazer a diferença: com o potencial que o Chega representa para uma polarização à esquerda, o Bloco quer apresentar-se como o partido que pode falar ao tal eleitorado esquecido e impor medidas ao Governo do PS. Resta saber se consegue e se a narrativa do Governo sobre um partido que considera um “desertor” em tempos difíceis cola, ou não, melhor do que a do Bloco.

Provar que as presidenciais não mostram um padrão

A convenção acontece escassos meses depois de o partido ter registado um sério rombo eleitoral: Marisa Matias obteve apenas 3,95% dos votos, abaixo de João Ferreira e muito abaixo dos simpáticos 10% que tinha conseguido em 2016. Por isso, será importante para o partido agarrar-se às sondagens e mostrar que as presidenciais foram fruto de circunstâncias específicas, em que Marcelo Rebelo de Sousa até à esquerda roubou votos, e que os estudos de opinião mostram uma tendência diferente quando o assunto são eleições legislativas.

Direção assumiu a derrota nas presidenciais, mas Marisa Matias foi a cara do mau resultado

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Por isso, nesta análise, Marisa Matias até pode ficar para trás — numa derrota que é assumida pela direção, mas cuja cara principal é a da eurodeputada –, mas o partido quer olhar em frente e desvalorizar o desaire eleitoral. Conta com um fôlego maior do que vários outros partidos: o Bloco tem tão pouca implantação local que as eleições autárquicas deste ano, que servirão de prova de fogo ou de vida para partidos como PSD, CDS e PCP, não são as mais relevantes para o percurso do partido de Catarina Martins.

O que não significa, claro, que não haja objetivos a fixar: é preciso segurar a vereação em Lisboa, mas um novo acordo com o PS na capital fica mais difícil se a hegemonia de Fernando Medina prevista pela primeira sondagem sobre a capital se confirmar; crescer nas grandes áreas metropolitanas; e mostrar que o partido consegue somar a norte do Tejo, idealmente elegendo mais representação.

As polémicas de violência e assédio

O que começou por ganhar força no Twitter acabou por se materializar em algumas denúncias concretas e casos incómodos para o Bloco. Primeiro, foi conhecida a acusação — feita naquela rede social — por violência doméstica lançada por uma ex-namorada e ex-militante ao deputado Luís Monteiro, que devolve a acusação e vai reagir na Justiça, mas já desistiu entretanto da sua candidatura a Gaia e aos órgãos do partido.

Uma queixa interna, uma suposta onda de desfiliações e o caso Luís Monteiro. Os dias agitados do Bloco de Esquerda

Depois, somaram-se mais duas queixas internas no partido, ampliadas nas redes sociais, onde se garantia que havia uma onda de desfiliações no Bloco — que os números fornecidos pela direção do BE desmentem. Ainda assim, a sucessão de problemas relacionados com bandeiras essenciais para o partido colocam em causa a capacidade do Bloco de lidar com estes casos e manter um discurso coerente, equilibrando a credibilização das alegadas vítimas com o princípio da presunção da inocência.

Bloco investiga queixa de assédio contra militante. Contas no Twitter espalharam acusação falsa sobre deputado

O crescimento dos críticos

As contas são difíceis de fazer, uma vez que a maior corrente crítica da direção, organizada no movimento Convergência, não se apresentou a votos na última convenção, pelo que dizer que “cresceu” é relativo. Ainda assim, para este conclave esses críticos construíram uma moção e conseguiram 18,6% dos votos dos delegados, pelo que agora reclamam mais atenção e representação nos órgãos do partido.

Ao Observador, o ex-deputado Pedro Soares, que assina a moção, coloca “duas questões essenciais” para antecipar a convenção. A primeira é que o Bloco deve afirmar-se “através da radicalidade”, com um “programa próprio” cujas bandeiras — leis laborais, renegociação da dívida, reforço dos serviços públicos, regionalização — chocam de frente com o PS, avisa. Por isso, o ciclo do “geringoncismo” deve ser ultrapassado, para que o Bloco abandone o que classifica como um “discurso ambíguo” que permitiu, por exemplo, que a época da geringonça começasse e terminasse sem mexidas de maior nas leis laborais.

Voltar a ser “radical”, largar a obsessão por “lugares” e os “objetivos pequeno-burgueses”: o que exigem os críticos internos do BE

A outra crítica é interna: com a “hegemonia” da atual direção, perdeu-se “pluralidade interna”. Agora, “e logo no primeiro embate”, há uma “erosão” da cúpula, reclama, e por isso os críticos podem passar a ter um “papel fundamental na construção dos órgãos” do partido — “agora, a Comissão Política e a Mesa Nacional são todas da moção A”, da direção, reclama (um reparo que não é literal: os críticos internos estão representados nesses órgãos, sendo que o próprio Pedro Soares faz parte da Mesa Nacional do partido, embora a linha da direção esteja claramente em larga maioria). Os críticos garantem que o objetivo é “contribuir” de forma construtiva, mas avisam: é preciso analisar a “linha política” da atual direção, que terá “dois anos muito difíceis” pela frente. À moção E juntam-se outras três, a C, a N e a Q, que somam muito menos representantes.

Bem vindo, Pedro Nuno?

Não é claro se no palco de Matosinhos poderão ser deixadas pistas sobre este tema, mas é um dos assuntos que ocupam a cabeça dos dirigentes bloquistas. A sucessão no PS não é para já, mas há vários nomes — Pedro Nuno Santos e Fernando Medina surgem recorrentemente, mas Ana Catarina Mendes e Mariana Vieira da Silva também são referidas como hipóteses — que são colocados para o ciclo pós-Costa. E é a esse ciclo que o Bloco está atento.

Nas cúpulas, há quem veja com bons olhos uma sucessão protagonizada por Pedro Nuno Santos, que nos tempos da geringonça negociava com o Bloco de Esquerda no papel de secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. A vantagem óbvia é que com Pedro Nuno, da ala esquerda do PS, pode ser mais fácil chegar a acordos com o PS; a desvantagem é que, pelo mesmo motivo, o Bloco poderá correr um maior risco de ver o seu eleitorado ‘roubado’ por um PS mais virado para a esquerda.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.