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ADEM ALTAN/AFP/Getty Images

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Turquia. O que pensam os jovens que temem Erdogan

No domingo, Erdogan usará um referendo para tentar ganhar ainda mais poder. O país está a tornar-se irreconhecível para quem cresceu num ambiente liberal? Há jovens turcos que acham que sim.

— Ter uma coisa e perdê-la é melhor ou pior do que nunca a ter tido?

É desta forma que Zaferhan dá início à nossa conversa. Responde assim quando lhe perguntamos se a Turquia está mesmo a afastar-se dos valores seculares que a fundaram. “O país mudou tremendamente, não é que não o reconheça, pois foi nele que cresci. É como rever um velho amigo com o qual sabes que ainda partilhas algumas coisas, pois é sempre assim quando as pessoas crescem juntas, mas não lhe acompanhaste o crescimento. Não é necessariamente mau que ele tenha mudado, mas agora tem que haver um esforço das duas partes para voltarem a encontrar os pontos que os unem”, diz Zaferhan, que tem 27 anos e trabalha como programador cultural na área do cinema em Istambul.

“Mas não te sentes turco?”, insistimos. “Sinto, sei que este é o meu país, mas tenho mesmo muita dificuldade em aceitar certas mudanças, que são profundas e visíveis. A mudança para uma educação baseada nos ensinamentos religiosos, a crença falsa de que construir infraestruturas megalónomas é o mesmo que desenvolvimento, a destruição da natureza, tudo isto é mau. Mas eu sei que ainda há pessoas que, como eu, aqui estão a tentar fazer alguma coisa e por isso sei que pertenço aqui”, esclarece Zaferhan.

"Todos os partidos representam uma geração que está presa a algum fanatismo religioso, uma geração mais velha, que dá muita importância às divisões étnicas e ainda é um pouco sexista também. Não penso que representem o futuro das gerações mais novas."
Zaferhan, programador cultural

O seu país está a mudar, e não é de agora. Se as novas emendas à Constituição passarem no referendo de domingo, o presidente será chefe do Executivo e poderá nomear a maioria dos juízes, assim como dissolver o parlamento, convocar eleições e governar por decreto. A consulta popular é apenas o último dos capítulos conhecidos desta história que o presidente Recep Tayyip Erdogan quer escrever sozinho. Haverá outros, e as pessoas estão com medo. Há gente presa pelos 140 caracteres que escreveram no Twitter contra o governo. Os apelidos dos jovens que falaram com o Observador não são divulgados, pois mesmo os que vivem fora temem as consequências de falar com jornalistas sobre o que se passa na Turquia. Todos conhecem alguém que está preso pelas suas opiniões.

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A Turquia começou a fazer-se ouvir, primeiro a si própria, através dos rugidos confiantes do seu presidente, ampliados pelos megafones das mesquitas, e agora também no plano internacional. Nem sempre pelas melhores razões. Aos poucos — mas em simultâneo — Erdogan conseguiu assumir-se como a voz de todos os tradicionalistas árabes que tinham sido deixados para trás pelas elites militares, como rosto dos avanços económicos da última década e como o único homem suficientemente destemido para punir sem pestanejar os inimigos do Estado, sejam eles os terroristas do Daesh ou aqueles que lutam pela reinstituição de um regime militar.

Recep Erdogan, um dos políticos mais importantes da história da Turquia, quer deixar a sua marca. GETTY IMAGES

AFP/Getty Images

Em 1998, um ano apenas depois de mais um golpe de Estado, com os militares no pico da sua força, Erdogan foi preso e afastado do seu cargo como presidente da câmara municipal de Istambul por ter recitado um poema árabe. Aí se começou a criar o mito. Erdogan não tinha medo das suas origens, ninguém mais precisaria de ter.

Isto foi até as vozes que se opunham a Erdogan começarem a ser qualificadas de inimigos do povo. Erdogan forma o seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento em 2001, e governa o país como primeiro-ministro de 2003 a 2014. Em 2014 foi eleito presidente, no primeiro sufrágio direito para o cargo.

Os métodos de contenção da oposição de Erdogan não são novos na Turquia e não é que os turcos vejam os militares como sinónimo de paz, de democracia, de abertura. Houve inúmeras purgas durante os vários golpes de Estado conduzidos pelo exército. O punho-de-ferro de Erdogan não é o mais forte que os turcos já sentiram, mas não deixa de ser ele o homem que lidera um regime com pouca abertura para acomodar vozes dissidentes.

“A oposição também é parte do problema. Todos os partidos representam uma geração que está presa a algum fanatismo religioso, uma geração mais velha, que dá muita importância às divisões étnicas e ainda é um pouco sexista também. Não penso que representem o futuro das gerações mais novas”, sublinha Zaferhan.

Mesmo assim, os jornais — os internacionais também — estão cheios de fotografias de crianças, mulheres, jovens com cartazes enormes com letras vermelhas que gritam “EVET!”. O “Sim” que Erdogan tanto espera, porque sabe que este referendo é um voto de confiança na sua forma de fazer as coisas.

Apesar da oposição ser clara, ainda há muita gente, incluindo mulheres e jovens, que consideram certo o caminho que Erdogan quer seguir GETTY IMAGES

AFP/Getty Images

“Sim, é verdade, eles apoiam-no. É difícil de entender. Eu quero acreditar que é uma espécie de negação ou fobia momentânea, mais ou menos como quando um homossexual pensa em assumir-se. A pressão e as possíveis consequências, que vão desde ser julgado pelos amigos a ser completamente posto de lado, pesam tanto que tu desligas a tua mente. Às vezes ficas em silêncio ou até acabas por apoiar o perpetrador. Há muito em jogo. O governo trata bem quem o apoia”, tenta explicar.

O pós-golpe

“É preciso não esquecer que este referendo também acontece na ressaca do golpe de Estado falhado de julho de 2016. Estas reações são normais, as pessoas estão com medo e o medo leva a escolhas autoritárias. As pessoas lembram-se dos anos 70 e 80, da violência”, contextualiza Zaferhan.

Poucas horas depois de as forças do governo terem neutralizado os rebeldes, Erdogan começou uma das maiores limpezas ideológicas de que há memória na Turquia. Dezenas de milhares de académicos, funcionários públicos, membros do exército, professores, polícias foram despedidos — muitos deles foram presos, poucas horas depois, e ainda não foram libertados. Muitos não conhecem as acusações e não sabem quando irão ser presentes a um juiz que talvez já seja, quando essa hora chegar, um dos homens escolhidos por Erdogan.

"Já não vivo no país onde a minha mãe e o meu pai viveram. Eles contam-me como foi e eu ainda me lembro de uma Turquia sem medo, onde as mulheres andavam de mão dada com os namorados e beijavam-se na rua sem problemas, mas agora tudo mudou. Há uma aura de medo. Pode não te acontecer nada, mas também podes ser preso pelo que escreves no Twitter -- é díficil respirar"
Tunc, fotógrafo

Os números mais recentes do governo falam em 113.260 pessoas detidas, das quais 23.861 foram posteriormente libertadas e 41.499 foram libertadas sob condição de se apresentarem periodicamente às autoridades. Mas há outras fontes, como o site TurkeyPurge, que vai dando conta, em tempo real, do número de pessoas detidas, e esses números são bem mais elevados. Há vários relatos que falam do afastamento de académicos supostamente ligados a Fethullah Gülen, o imã exilado nos Estados Unidos que um dia foi aliado de Erdogan, mas que o governo agora acusa de orquestrar a rebelião a partir da influência que ainda detém junto da academia e do funcionalismo público, e até de um cortador de mármores que foi preso por criticar o presidente.

A ideia de um regime presidencialista já faz parte do discurso político turco há muito tempo, mas o golpe de Estado ofereceu a Erdogan a possibilidade de utilizar os factos como alicerces da sua contenda. O próprio Gülen disse, logo a seguir ao golpe, que Erdogan podia ter estado por trás do episódio de forma a convencer o país da fragilidade da sua segurança. Neste processo, diz Tunc, um fotógrafo de 30 anos também de Istambul, “essa coisa do farol da liberdade no meio do Médio Oriente perdeu-se”. Para Tunc, “tudo mudou desde os anos 80”.

O peso da religião

“Já não vivo no país onde a minha mãe e o meu pai viveram. Eles contam-me como foi e eu ainda me lembro de uma Turquia sem medo, onde as mulheres andavam de mão dada com os namorados e beijavam-se na rua sem problemas, mas agora tudo mudou. Há uma aura de medo. Pode não te acontecer nada, mas também podes ser preso pelo que escreves no Twitter — é díficil respirar”, diz Tunc pelo Skype.

Para o jovem fotógrafo, cujas primeiras memórias políticas são já do tempo de Erdogan, as coisas “perderam sentido” porque “lutar por aquilo em que se acredita tornou-se um ato criminoso”. As pessoas funcionam, diz, como uma espécie de multidão amorfa. “Se o líder quer uma coisa então toda a gente quer a mesma coisa, incluindo a maioria da imprensa. Se ele muda de opinião, por exemplo em relação à Europa, onde sempre quisemos estar, então tudo muda com ele. Não há lógica, não há individualismo, não há escrutínio, não há justiça. Os meus amigos vivem uma espécie de depressão existencialista e muitos procuraram uma vida fora da Turquia“, diz.

A religião ocupa de novo um papel central na vida das pessoas “e isso afeta tudo”, diz Tunc. “Já não há a religião de cada um, há a religião ‘certa’, e é uma forma de controlar o público. O governo utiliza a religião de forma profissional, não ser crente ou não tão crente é uma espécie de traição à Turquia. Agora somos só mais um país islâmico e capitalista, mas sem petróleo. Eu não chamaria à Turquia um bastião de coisa nenhuma neste momento”, diz.

"Se o líder quer uma coisa, então toda a gente quer a mesma coisa, incluindo a maioria da imprensa. Se ele muda de opinião, por exemplo em relação à Europa onde sempre quisemos estar, então tudo muda com ele. Não há lógica, não há individualismo, não há escrutínio, não há justiça. Os meus amigos vivem uma espécie de depressão existencialista e muitos procuraram uma vida fora da Turquia".
Tunc, fotógrafo

Já Zaferhan acredita que é possível manter a religião separada do Estado. Apesar de a religião islâmica pressupor uma organização governamental, e uma lei própria, Zaferhan não acredita que o seu país algum dia “venha a aceitar a imposição da lei Sharia”. É possível “existir uma predominância da religião islâmica e mesmo assim o Estado funcionar separadamente, mas é uma curva e requer a educação das pessoas nesse sentido. Não foram todos os Estados seculares de hoje um dia dominados pelo cristianismo? Muitos deles ainda não são constitucionalmente seculares. Por exemplo, a questão do aborto nos Estados Unidos ainda é discutida com base no facto de ser banido pela Bíblia”, argumenta.

Tunc não tem tanta certeza de que o país possa fugir ao fanatismo. “A maioria das pessoas obviamente não é fanática, mas muitos apoiam essa viragem para o conservadorismo porque os faz sentir mais seguros. E, no conjunto, parece que estás a viver no mundo deles, porque qualquer ponto de vista divergente é ‘ o trabalho do diabo’. Ser tratado como igual, viver num país onde cada opinião tem o seu espaço não deveria ser uma discussão. Eu nem sequer sou de nenhuma minoria étnica e sinto-me um exilado, isto é de doidos porque te faz questionar tudo. As minhas opiniões não são importantes”.

Voltar e não saber lá viver

Tugba é casada com um português, fala português e visita Portugal pelo menos três vezes por ano. Estudou fotografia e produção audiovisual em Lisboa e, depois de um período nos Estados Unidos, decidiu vir viver para Portugal com o seu marido, André. Mas a crise estava no auge, em 2012, e era difícil ser um casal de artistas. Em 2013 mudaram-se para Istambul, que é a cidade de Tugba, mas o país do qual ela passava a vida a falar, o país das minorias que não eram tratadas como tal, o país cheio de parques onde famílias de qualquer classe ou religião se juntavam para passar o domingo, o país onde os primeiros ministros eram poetas, cheios de mundo, e traduziam T.S. Eliot para turco, já não estava lá.

Tugba, que agora tem 29 anos, cresceu na época da “festa liberal”, como ela diz, numa conversa pelo Facebook que durou um dia inteiro, entrecortada pelas fotografias que ia tirando nas galerias de arte de Berlim, onde agora vive. Fala com um carinho quase familiar de Bülent Ecevit, primeiro-ministro turco quatro vezes, primeiro pelo Partido Republicano e depois pelo Partido da Esquerda Democrática (DSP). Ecevit era um homem das letras, professor, poeta, tradutor, jornalista, académico que inspirou toda uma geração de turcos que também se sentiam europeus. Ele próprio viveu e estudou em Londres, procurando explorar e trazer para o seu país autores americanos, britânicos e indianos.

"Os representantes do republicanismo e das políticas de esquerda estavam cansados das políticas do governo e de verem as suas suprimidas por políticos cada vez mais opressores. Foi em Gezi que tudo começou, que o estilo de vida começou a mudar, que as pessoas começaram a ter medo do 'outro'"
Tugba, produtora

Na Turquia, não era a economia o problema. André e Tugba abriram uma empresa de produção de conteúdos digitais para vários artistas e galerias de arte e tornaram-se uma espécie de fenómeno de popularidade, mas o ar rarefeito que se respirava, especialmente depois dos protestos em Gezi Park, em 2013, e da reação “desmesurada” da polícia, fez o casal repensar o futuro.

Os protestos de Gezi tiveram início numa manifestação pacífica contra os planos do governo em utilizar a área do parque para a construção urbana e espalharam-se a todo o país, quando a polícia decidiu esvaziar o parque à força. Por esta altura já havia tendas, comida, mantas e casas-de-banho no parque e os manifestantes estavam decididos a ficar. O leque de reivindicações alargou-se: o eco das vozes de Istambul contaminou todo o país e já não era apenas um assunto que trazia as pessoas para a rua, era toda uma lista de problemas: o desrespeito pelo secularismo, os ataques à liberdade de expressão e associação, a corrupção e o nepotismo. Quase quatro milhões estiveram na rua, em mais de 5.000 demonstrações públicas.

Nos protestos de 2013, no parque Gezi, a população reuniu-se pela reinstalação do secularismo de Ataturk, aqui na bandeira

AFP/Getty Images

“Os representantes do republicanismo e das políticas de esquerda estavam cansados das políticas do governo e de verem as suas suprimidas por políticos cada vez mais opressores. Foi aí que tudo começou, que o estilo de vida começou a mudar, que as pessoas começaram a ter medo do ‘outro'”, começa por explicar Tugba, que se lembra bem da Turquia onde cresceu, da sua adolescência no fim dos anos 90 e no início dos anos 2000.

“Nos anos 90, com o DSP (Partido da Esquerda Democrática), as pessoas, fossem de que religião fossem, quaisquer que fossem as suas opiniões, sentavam-se a discutir com respeito, todos os partidos iam à televisão. Isso hoje é impossível. Temos tantas minorias na Turquia, é um país tão rico. Eu cresci com vizinhos curdos, arménios, mulheres que usavam véu e outras que não usavam, mas partilhávamos na mesma as mesas dos cafés. Este governo dividiu-nos de tal forma que essa cola social dissolveu-se para sempre”, diz Tugba.

Enquanto escreve, Tugba vai pedindo desculpa, que espera que consigamos entender o “eles” e o “nós”. Diz que a linguagem dela prova que Erdogan já atingiu aquilo que queria, que os turcos se vejam uns aos outros como estranhos entre si. “Tento muito não ser assim, mas quando as coisas se tornam violentas, quando há uma espécie de carta branca do governo para a violência contra a oposição secular, é normal que nos tenhamos que defender. Muitas pessoas menos educadas sentiam-se afastadas do poder, e, de repente, Erdogan tornou-as mais importantes que as outras. Agora é ‘o seu tempo’, ‘o seu mandato’, ‘a sua vez’ “.

"Temos tantas minorias na Turquia, é um país tão rico. Eu cresci com vizinhos curdos, arménios, mulheres que usavam véu e outras que não usavam, mas partilhávamos na mesma as mesas dos cafés. Este governo dividiu-nos de tal forma que essa cola social dissolveu-se para sempre"
Tugba, produtora

Uma noite Tugba ouviu caças sobrevoar a sua casa e decidiu que tinha de ir embora. “Foi assustador ouvir jatos militares e bombas a explodir perto de nós. Ainda não sei se foi ou não Erdogan que orquestrou tudo, mas sei que o que se passou a seguir não me permitia continuar a viver na Turquia”. Era a madrugada de 15 de julho de 2016, a aurora do golpe de Estado falhado, e a aurora de um novo período na ascensão de Erdogan que, diz Tugba, “a partir de então começou a governar com base no medo de uma outra noite como essa”.

De manhã, o bairro de Tugba, onde “80% das pessoas sempre tinham votado à esquerda”, encheu-se de “uma multidão de patriotas enraivecidos que começaram a destratar as mulheres sentadas nos cafés, a perseguir pessoas a quem eu própria abri as portas de minha casa para se esconderem, a ofender e a bater em qualquer pessoa que não se lhes juntasse. Isto são outras ruas, não são as minhas nem as da minha família”, conta Tugba. Poucas horas depois, começaram as purgas, amigos seus, artistas, foram presos, apelidados de terroristas, por terem participado numa marcha pela paz. “Podíamos ter ficado e lutado, mas seriamos heróis para quem?”, pergunta Tugba, assumindo: “Quando tiveste o privilégio de ser educado na Turquia que eu conheci, sinceramente, começas a considerar que essa luta é uma perda de tempo”.

Erdogan, o omnipresente

A Busra, o que lhe faz confusão, além da violência, é a presença constante de Erdogan em todo o lado. Num artigo para o New York Times, publicado no mês passado, Busra descreve com pormenor o choque de chegar a casa. No aeroporto, na área das chegadas, via-se “uma espécie de pedra tumular com os nomes das pessoas que morreram no golpe de Estado de julho”, na estação de metro de Yenikapi, onde se muda para a linha que vai até à Praça Taksim, “colunas cilíndricas, forradas com fotografias dos polícias que morreram na luta contra os rebeldes, completadas com uma descrição de como tinham sido ‘martirizados'”, cobrindo todo o perímetro externo do estádio do Besiktas, “bandeiras da Turquia com frases como ‘Não nos renderemos’, ou ‘Meu Mártir, seguimos no teu caminho'”.

Este regresso a casa foi “estranho” e “um conflito interior”, diz Busra. “Na sua procura por uma espécie de monarquia presidencial, o presidente Erdogan decidiu que era boa ideia monumentalizar a tragédia em vez de ajudar os cidadãos a fazerem as pazes. É um culto do martírio claro e Erdogan escolheu capitalizar a ansiedade das pessoas”.

"Espero mesmo que as pessoas não aprovem estas mudanças. A Turquia está a ser oprimida, parece que não há esperança, o governo no AKP está a trazer de volta uma cultura árabe que eu respeito, como respeito todas as outras, mas que não é parte da nossa identidade, é uma fabricação."
Busra, jornalista

“Cada vez que vou a casa encontro um sítio pior”, conta a jornalista, de 29 anos, que neste momento vive em Nova Iorque e escreve para vários meios internacionais sobre a situação no seu país. “Espero mesmo que as pessoas não aprovem estas mudanças. A Turquia está a ser oprimida, parece que não há esperança, o governo no AKP está a trazer de volta uma cultura árabe que eu respeito, como respeito todas as outras, mas que não é parte da nossa identidade, é uma fabricação, estamos a afastar-nos do Ocidente até um ponto sem retorno“, diz Busra.

Zaferhan completa: “No fundo, tudo isto é um retrocesso que nos impede de nos preocuparmos com as questões do nosso futuro, porque temos que nos ocupar a lutar por coisas que já tínhamos adquirido. Custa abdicar de lutas como pela igualdade do género, proteção do ambiente, desenvolvimento e inclusão na área das tecnologias. O meu eu adolescente está mesmo muito desiludido com o facto de os desenvolvimentos políticos no país não o terem tornado nem um centímetro melhor”.

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