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Na Austrália registaram-se, há alguns dias, temperaturas a rondar 49ºC. As metas do Acordo de Paris, assinado em 2015, estão longe de ser cumpridas e a temperatura média global pode mesmo subir 3,2ºC até ao final do século, ao mesmo tempo que aumenta a acidificação oceanos.
Quando todos os relatórios científicos alertam para a necessidade urgente de reduzir, pelo menos cinco vezes, a quantidade de emissões lançadas na atmosfera, é evidente a necessidade de alterar comportamentos individuais e organizacionais. O Pacto Ecológico Europeu, conhecido como Green Deal, prevê que o executivo comunitário desenvolva medidas concretas para alcançar a neutralidade carbónica, de modo transversal a todos os setores de atividade, até 2050. Um deles é o dos transportes, sabendo-se que a mobilidade de pessoas e mercadorias é responsável por uma grande fatia da poluição atmosférica.
Uma das soluções mais visíveis é o investimento crescente dos construtores de automóveis em tecnologias de tração elétrica, com novos modelos a ser apresentados quase todas semanas. Em Portugal, os automóveis elétricos registam uma procura crescente ao longo dos últimos anos. Em 2019 as vendas subiram quase 70%, de acordo com os números da Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP), que indicam um total de 7.113 veículos 100% elétricos comercializados, número que inclui 17 autocarros.
O futuro elétrico é cada vez mais evidente na indústria automóvel. A maioria dos construtores está a investir no desenvolvimento de plataformas tecnológicas, envolvendo chassis e carroçarias, motores elétricos e baterias especialmente concebidos para a nova realidade, visando reduzir o impacte ambiental da nossa mobilidade.
Para perceber a urgência dessas medidas e colocar o problema em perspetiva basta ver os resultados de um estudo comparativo entre modos de transporte, levado a cabo pela associação ZERO. Para um trajeto Lisboa-Porto, um automóvel elétrico representa a emissão de apenas 1,2 Kg de CO₂ por pessoa. Em situação idêntica, um automóvel a gasóleo produz 10 Kg de CO₂ por pessoa. Um avião a turboreactor, na ponte aérea Lisboa-Porto, representa 36,1 Kg de CO₂ por passageiro, quando lotado.
Cascais: um exemplo a seguir
A frota da Cascais Ambiente está numa fase de transição, em linha com a política ambiental da autarquia cascalense que, este ano, vai apresentar o “Roteiro de Cascais para a Neutralidade Carbónica 2050”.
Em 2015 começaram a substituir progressivamente os veículos de combustão por veículos elétricos. Atualmente a frota de veículos da Cascais Ambiente é composta por 34 veículos, nove dos quais foram adquiridos em 2019. São duas varredoras elétricas, um lava-ruas, 13 automóveis elétricos (ligeiros de passageiros), 11 viaturas elétricas (ligeiros de mercadorias), a que se juntam sete viaturas híbridas. Além dos veículos ligeiros, está em curso um projeto-piloto com um veículo pesado de recolha de resíduos híbrido, com capacidade para 19 toneladas, cuja caixa de recolha e compactação é 100% elétrica.
Em 2017, a Cascais Ambiente foi a primeira entidade no país a adquirir uma varredora elétrica. Pioneirismo que se repetiu em 2019 com a aquisição do primeiro lava-ruas 100% elétrico em Portugal. Os veículos elétricos já representam mais de 10% da frota global da empresa, mas considerando apenas o parque de viaturas ligeiras aquela proporção ultrapassa os 18%.
A Cascais Ambiente registou uma redução significativa nas emissões CO₂, na ordem das 15 toneladas desde 2017, graças à substituição de viaturas a combustão por viaturas elétricas e híbridas. Luís Almeida Capão, Presidente do Conselho de Administração da Cascais Ambiente, estima que “até ao final de 2020, pelo menos mais nove veículos a combustão venham a ser substituídos por veículos elétricos, o que deverá colocar a frota elétrica na casa dos 15% comparativamente com o total da frota, e nos 28% se analisada apenas no âmbito dos veículos ligeiros.”
A Cascais Ambiente também está a implementar uma solução inteligente de gestão de frotas, através de um sistema autónomo que é gerido remotamente. As chaves dos veículos utilizados para serviços externos estão todas referenciadas com tecnologia RFID, permitindo disponibilizar alertas e sugestões de carsharing entre os utilizadores, de modo a otimizar a utilização dos veículos.
Além de um menor número de veículos em circulação e da consequente redução no consumo de combustível, a ideia deve também funcionar como exemplo para outras entidades iniciarem o processo de mudança para comportamentos ambientalmente mais responsáveis.
Frota elétrica? Uma aposta vencedora
Os automóveis elétricos têm um preço muito competitivo, especialmente, para as empresas. Em grande medida graças ao chamado Incentivo Verde, no valor de 2.250€, atribuível na aquisição de uma viatura particular, ou até cinco viaturas quando se trate de uma empresa. Depois existem incentivos fiscais como a dedução do IVA da aquisição, do aluguer de baterias quando aplicável, das manutenções e da eletricidade. Além disto, os automóveis elétricos não pagam Imposto Único de Circulação (IUC) e também não estão sujeitos a tributação autónoma. Acrescem as vantagens no estacionamento, gratuito ou com descontos em algumas cidades. Em Lisboa apenas precisam de ter o Dístico Verde da EMEL, que pode ser adquirido por 12€ e é válido por um ano.
As vantagens financeiras, a consciência ambiental e o prazer de condução são motivações de compra a ter em conta no momento da transição. Os automóveis elétricos “são automáticos, silenciosos, muito agradáveis e práticos de guiar. Por ter menos componentes que os carros com motores de combustão, um elétrico com 100.000 Km tem incomparavelmente menos ruídos parasitas que um Diesel”, constata João Fonseca, da GoEasy, acrescentando que “muitos modelos são autênticas montras tecnológicas, o que constitui um fator de atração.”
A GoEasy é uma empresa que atua nas plataformas TVDE (Transporte de passageiros em Veículos Descaracterizados via plataforma Eletrónica) e no setor do Turismo, assegurando também serviços de transfer ao aeroporto e passeios turísticos. Conta atualmente com 10 viaturas elétricas Renault Zoe na sua frota, que também inclui 10 viaturas a gasóleo. Com uma garagem própria para recarregar os automóveis, a aposta num local com tomadas convencionais revelou-se financeiramente mais proveitosa do que ficar dependente dos postos públicos.
João Fonseca considera que a rede pública existente ”não tem capacidade de resposta, quer pelo baixo número de postos rápidos, quer pela baixa velocidade de carregamento”. Considera ainda que “as soluções privadas que estão a surgir no mercado tornam desinteressante o preço por Km” e sublinha que “apenas se deve optar por uma frota elétrica quando existe a possibilidade de ter um local próprio de carregamento, seja em casa ou na empresa.”
Quanto à autonomia, desde que tenha um carregador basta ligar o cabo na tomada e programar o início do carregamento para a hora pretendida. Dessa forma, “a bateria passa o menor tempo possível a 100%, ou perto disso,” explica Daniel Trigo, da IDTec, adiantando que “se precisar de sair às 07h00 da manhã e o carregamento demorar quatro horas, programa para iniciar às 03h00.” Para viagens longas é conveniente planear o itinerário e a operação de carregamento. Para isso recomenda a Electromaps , uma aplicação que permite filtrar os postos disponíveis segundo o tipo de tomada e prever onde será possível carregar.
A IDTec é uma empresa, sediada em Águeda, que atua no setor da eletrónica e sistemas de iluminação LED, vocacionada para o fornecimento de produtos e soluções customizadas, com uma forte componente de investigação e desenvolvimento. Utilizam um Renault Zoe, desde dezembro de 2017, e aguardam a entrega do segundo Zoe nos próximos dias.
Os baixos custos de manutenção são outro dos atrativos. “As revisões ocorrem a cada 30.000 Km e o valor ronda os 80€, um valor bastante mais baixo do que a média, de 300 a 450€, exigida na manutenção de um carro Diesel,” explica o gestor da GoEasy. Outro aspeto importante é ausência de componentes mecânicos e peças de desgaste cuja manutenção e substituição é, habitualmente, dispendiosa como é o caso da distribuição, embraiagem e órgãos da caixa de velocidades.
No caso da IDTec, Daniel Trigo também destaca as vantagens da redução das despesas de oficina. O primeiro Zoe, de dezembro de 2017, “já tem 86.000 Km e apenas fez duas revisões na marca, com valor inferior a €100 Euro cada, além da substituição dos pneus.”
O colaborador, da área da Ótica, mostra-se bastante satisfeito com a condução do Renault Zoe considerando-a “mais calma, pela ausência de vibrações, por não ter motor a combustão, pela suavidade na aceleração graças à ausência de caixa de velocidades, pela pouca utilização do pedal do travão devida à travagem regenerativa ou pela ausência de ruídos, além dos aerodinâmicos”.
No mesmo sentido, João Fonseca destaca vários “casos de motoristas da GoEasy que pediram para trabalhar numa viatura Diesel e preferiram regressar ao elétrico, precisamente por ser muito prático e confortável de conduzir.”
Por enquanto ainda é possível efetuar o carregamento em alguns postos públicos gratuitos, situação que deverá ser revista este ano. No entanto, se tivermos em conta o preço da eletricidade consumida durante a noite, podemos alcançar um custo inferior a 2€ Euro por cada 100 Km, dependendo do modelo e do regime de utilização.
Na Delta Cafés está a decorrer o processo de renovação progressiva da frota comercial, distribuída por todos os departamentos do país, que deverá ser totalmente elétrica em 2025. Em Lisboa, todas as viaturas comerciais são elétricas, integrando uma frota que conta, atualmente, com cerca de 150 veículos elétricos.
Há mais de 50 anos que o Grupo Nabeiro-Delta Cafés se afirma determinado em construir um modelo de negócio assente na sustentabilidade. “O investimento realizado nas viaturas elétricas é apenas um dos muitos que estamos a fazer, mas o nosso compromisso com o futuro passa por muitas outras áreas de atuação,” sublinha Rui Miguel Nabeiro, Administrador do Grupo Nabeiro-Delta Cafés, que mantém o objetivo de “continuar a assegurar a rentabilidade económica, reduzindo o impacto ambiental e maximizando o impacto social positivo.”
O Grupo EDP também aposta na substituição gradual da frota ligeira, que será totalmente elétrica até 2030, devendo ultrapassar a quota de 20% de automóveis elétricos em 2022. Atualmente, 12% da frota ligeira do Grupo EDP, em todas as geografias, é elétrica, sendo que 11% são veículos elétricos (BEV=Battery Electric Vehicle) e 1% são híbridos plug-in (PHEV=Plug-in Hybrid Vehicle).
Vários estudos sobre a “mobilidade verde” sugerem que ainda há pouca informação sobre as motorizações alternativas. A alteração dos comportamentos do consumidor e a necessidade de poupar energia e combustível, juntamente com os incentivos dos governos nacionais, poderão ajudar a impulsionar o crescimento das vendas nos mercados europeus.
Mais de três quartos da população europeia acredita que um automóvel ecológico é a melhor escolha para tornar o ambiente sustentável. Estudos recentes indicam que mais de metade dos cidadãos europeus, com idades entre os 18 e os 34 anos, tencionam comprar um automóvel elétrico nos próximos 10 anos. Entretanto, construtores como a Renault , vão continuar a investir no desenvolvimento de modelos cada vez mais eficientes e acessíveis.
Este artigo integra o projecto desenvolvido em parceria com a Renault que visa a promoção da mobilidade sustentável.
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