A economia portuguesa está entre as economias europeias que estão a recuperar mais rapidamente da pandemia, alegou João Paulo Correia, deputado do PS, no “Explicador” da Rádio Observador desta terça-feira. Esta foi uma declaração que foi imediatamente posta em causa por outra deputada que participava no debate, Cecília Meireles do CDS-PP, que argumentou que “os dados do Eurostat mostram que Portugal não está entre os países que estão, realmente, a recuperar mais rapidamente”.
Foi na resposta de João Paulo Correia à deputada do CDS-PP que se percebeu que os deputados estavam a olhar para dois indicadores diferentes. Depois de atacar Cecília Meireles por usar um método que não era “sério”, o deputado socialista defendeu que para perceber se a economia está ou não a recuperar “tem de olhar para os trimestres“. Já Cecília Meireles contrapôs que para se perceber quais países estão a recuperar mais rapidamente deve-se olhar para o PIB no final de 2019 (antes da pandemia) e comparar com as previsões para 2021 e, também, para 2022.
João Paulo Correia referia-se ao aumento de 15,5% no PIB do segundo trimestre, em comparação com o trimestre imediatamente anterior. Esse foi o cálculo avançado pelo Eurostat em agosto, os últimos números oficiais disponíveis. Esse foi, de facto, o quinto maior crescimento económico trimestral dos países da União Europeia entre os 20 países para os quais foram divulgados dados.
Esta é a comparação entre um segundo trimestre que já foi marcado por algumas medidas de desconfinamento após o pior momento da pandemia em Portugal, que surgiu entre janeiro e fevereiro. Ainda assim, o crescimento de 15,5% foi superado por Espanha (19,8%), França (18,7%), Hungria (17,7%) e Itália (17,3%).
Porém, esta é uma forma enganadora de responder a esta questão. Para saber se a economia portuguesa está ou não a recuperar mais rapidamente do impacto da pandemia, deve-se usar o PIB de final de 2019 como a “base 100”, ou seja, o ponto de partida após o qual surgiu a crise pandémica – desde logo, porque embora todos os países tenham sofrido um golpe económico, não foram exatamente coincidentes as alturas em que cada país esteve sob maior pressão e que aplicou os confinamentos mais gravosos.
Aí, olhando para o crescimento económico acumulado entre 2020 e as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para 2021 e 2022, Portugal não aparece tão bem na fotografia.
Os dados mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam para um crescimento acumulado de apenas 0,5% em Portugal neste período comparativo, ou seja, que se inicia no final de 2019 e que vai até às previsões para 2022. É o segundo pior registo entre os países europeus, depois dos 0,3% de Espanha.
Os dados do FMI, que constam do seu World Economic Database, são previsões. Assim, se não se quiser ir tão longe quanto o ano de 2022, no final de 2021 Portugal deverá terminar o ano com um PIB de 194,94 mil milhões de euros, o que fica 4,4% abaixo da riqueza criada em 2019 no país (203,86 mil milhões). Também aqui só Espanha tem um registo pior: -5,7%.
Conclusão
Os dados trimestrais utilizados por João Paulo Correia não estão errados, mas é uma forma enganadora de responder à questão de partida que é comparar a velocidade a que os diferentes países europeus estão a recuperar do impacto desta crise. Portugal foi, de facto, um dos países que mais cresceram no segundo trimestre mas isso explica-se pelo facto de ser uma comparação em cadeia, com um (primeiro) trimestre que ficou marcado pelo confinamento e pelo pico da pandemia.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ENGANADOR
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.