A publicação intitula-se “O vírus do medo”. Debaixo de uma imagem de uma máscara cirúrgica pode ler-se que “filtra partículas superiores a 5000 nm”, depois, debaixo de uma máscara N95 lê-se que este equipamento “filtra 95% das partículas superiores a 300 nm”. Por último, surge a imagem do novo coronavírus. A legenda é que o SARS-Cov-2 “tem cerca de 125 nm”. A mensagem final do utilizador: “Já consegue entender assim que as máscaras só o protegem do vírus do medo? Se tiver de apanhar coronavírus, vai apanhar na mesma… com ou sem máscara…”

A publicação do Facebook, sinalizada como potencial notícia falsa pela empresa fundada por Mark Zuckerberg, já foi partilhada centenas de vezes pelos utilizadores da rede em Portugal.

Mas será falsa? Nesta altura, um dos poucos consensos entre a comunidade científica é que ainda há muito por saber sobre o novo coronavírus, responsável pela pandemia de Covid-19. E não faltam estudos contraditórios sobre o mesmo assunto, como é o caso da efetiva proteção que as máscaras cirúrgicas e N95 garantem ao seu utilizador.

A publicação já teve centenas de partilhas no Facebook

Primeiro, os dados. O SARS-Cov-2 “tem cerca de 125 nm”. Aqui, o nm corresponde a nanometros — unidade de medida de comprimento do sistema métrico, correspondente a 0,000000001 metro. A maioria dos vírus tem entre entre 20-300 nm de diâmetro e o novo coronavírus não é exceção.

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Várias fontes aceitam este valor como tamanho médio das partículas do vírus. Na ScienceDirect, uma plataforma que reúne textos de várias revistas científicas, lê-se que os coronavírus “têm de diâmetro entre 65–125 nm” — medida que também é aceite pela Sciensano, o instituto nacional de saúde pública da Bélgica.

Tal como é referido na publicação, também é aceite pela comunidade científica que as máscaras N95 filtaram 95% das partículas de 300 nanometros ou maiores, ou seja, partículas que são, à partida, maiores do que o novo coronavírus.

Mas um ponto fundamental é que a maioria das máscaras que hoje são usadas como barreira para o coronavírus não foram criadas para proteger o utilizador de outras pessoas ou de ser infetado. Foram antes pensadas para proteger terceiros dos nossos próprios vírus. Ou seja, servem para não contaminarmos os outros se tivermos Covid-19.

No entanto, um estudo recente de Yuen Kwok-yung, microbiologista da Universidade de Hong Kong, chega à conclusão de que as máscaras limitam a transmissão do coronavírus pelo ar. O estudo, feito em hamsters, foi divulgado pelo Le Figaro.

“A transmissão do vírus pode ser reduzida em 50% quando máscaras cirúrgicas são usadas, especialmente se as máscaras forem usadas por indivíduos infetados”, disse o microbiologista. Na sua experiência com hamsters, ficou claro que se os animais (ou humanos infetados) usarem máscaras protegem as outras pessoas.

No meio de tanta incerteza científica, a Organização Mundial de Saúde pediu que se fizesse um estudo que compilasse toda a informação existente sobre o assunto, para assim poder aconselhar os Estados-membros, as organizações e a população, tal como o Observador noticiou.

OMS. Máscaras cirúrgicas não são proteção suficiente para profissionais de saúde

Conclusão? A revisão de 172 estudos observacionais, feitos em 16 países de seis continentes — sobre o SARS-CoV-2, mas também sobre o SARS e MERS — defende que quanto mais distantes estivermos uns dos outros, menor a probabilidade de transmissão do vírus e que esta distância nunca deve ser inferior a um metro. Para além disso, e sobre as máscaras, escreve que as N95 e respiradores semelhantes oferecem melhor proteção que as máscaras cirúrgicas ou as comunitárias, defendendo que para quem tem de lidar com doentes infetados com o SARS-CoV-2 as máscaras cirúrgicas são uma proteção insuficiente.

Os resultados, publicados na revista científica The Lancet, fazem ainda um outro alerta: as conclusões são baseadas em estudos observacionais, que olham para o passado e que tentam encontrar relações entre situações, como distância e transmissão do vírus. Assim, há alguma segurança ao afirmar-se que o distanciamento é importante, mas a evidência científica sobre máscaras e óculos de proteção é ainda muito mais fraca. Para se obterem dados mais conclusivos são precisas experiências desenhadas para testar cada uma destas medidas e que ainda não existem.

Conclusão:

Esta publicação é parcialmente errada. Apesar de alguma da informação citada estar correta, a comunidade científica ainda não chegou a acordo sobre a eficácia das máscaras cirúrgicas e N95 e sobre se conseguem proteger, ou não, quem as usa da infeção pelo novo coronavírus. A mais recente compilação sobre os diversos estudos que abordam este tema diz-nos que precisamos saber mais e estudar mais  para podermos chegar a uma conclusão, seja ela qual for.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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