O fim do mundo pode chegar em 2026, mais concretamente na sexta-feira 13 de novembro daquele ano. Pelo menos, são informações do género que estão a circular nas redes sociais, que alegam que um “especialista” da Universidade de Harvard — uma das mais prestigiadas do mundo — preconizou que o “fim do mundo ocorrerá” daqui a dois anos.

“O físico de Harvard Heinz von Foerster teorizou há várias décadas que a vida no planeta seria insustentável daqui a alguns anos”, lê-se numa das publicações, em que se acrescenta que, “desde a antiguidade”, o fim do mundo foi um “tema que captou a imaginação de cientistas, profetas e filósofos”.

Outra publicação dá mais detalhes sobre estas alegações. Segundo esse post, um estudo de Heinz von Foerster concluiu que, através do uso de uma fórmula, a “população mundial cresceria exponencialmente até aproximar-se do infinito em 2026”.

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“O artigo intitulado ‘Doomsday: Friday, 13 November, A.D. 2026’ sugeria que, mesmo que se conseguisse um abastecimento estável de alimentos e se evitassem desastres naturais, a sobrepopulação provocaria o colapso dos sistemas sociais e ambientais”, lê-se.

É verdade que Heinz von Foerster — juntamente com Patricia M. Mora e Lawrence Amiot — publicaram, a 4 de novembro a 1960, um artigo chamado “Doomsday: Friday, 13 November, A.D. 2026” na revista científica Science. Contudo, existe desde logo uma imprecisão: os físicos nunca investigaram ou lecionaram na Universidade de Harvard, mas antes na Universidade de Illinois. 

É igualmente certo que os três especialistas calcularam uma fórmula, mas esta estava dependente de vários fatores, como a taxa de natalidade ou o estado da indústria alimentar naquela altura. O artigo faz mesmo uma diferenciação entre “otimistas e pessimistas” relativamente à fórmula matemática.

“Os otimistas acreditam na tese de que não importa o quão rápido a população está a crescer, a tecnologia alimentar e as indústrias vão facilmente manter o mesmo ritmo do que o crescimento da população”, lê-se no artigo, que refere que os “pessimistas preferem pintar o futuro da Humanidade não de forma tão cor de rosa”, apontando para a tese contrária — que a ciência não acompanharia o crescimento da população.

Isto significa que, caso as variáveis (como o desenvolvimento da indústria alimentar) se alterassem ao longo das décadas, a data do “fim do mundo” poderia não ocorrer a 13 de novembro de 2026.

Surgiram igualmente críticas à maneira como foi conduzida este estudo de Heinz von Foerster, Patricia M. Mora e Lawrence Amiot. Marvin Shinbrot, professor de física na Universidade de Stanford, chegou a escrever, também na revista Science, que, se o artigo dos três especialistas tiver “algum efeito”, será entre os “tolos”.

Conclusão

Não é falso que os físicos Heinz von Foerster, Patricia M. Mora e Lawrence Amiot tenham escrito um artigo a prever que o fim do mundo chegará, devido à sobrepopulação, no dia 13 de novembro de 2026. No entanto, nunca investigaram na Universidade de Harvard, mas antes na Universidade de Illinois. Além disso, a fórmula esteve sempre dependente de vários fatores, que se alteraram ao longo das décadas. O estudo também chegou a ser criticado por vários físicos da altura.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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