Nas redes sociais, em meados de setembro, surgiu um rumor que dava conta de que um faqueiro oferecido por Isabel II a Costa e Silva, antigo Presidente do Brasil, desapareceu do espólio oficial quando Lula da Silva saiu da presidência, em 2011.
As alegações não são novas e voltaram a ser partilhadas após a morte da Rainha Isabel II, a 8 de setembro. “Onde foi parar o faqueiro”, questiona a publicação feita no Facebook, que contém uma imagem dos talheres banhados em ouro.
Quando as autoridades brasileiras fizeram, em 2016, buscas na casa de Lula da Silva encontraram indícios de que objetos de valor que recebeu durante a presidência estavam a ser mantidos num cofre de um banco em São Paulo, no Brasil. Joias, moedas ou peças de arte foram encontradas no cofre, mas não há qualquer relato que indique que um faqueiro estivesse no local, de acordo com o jornal Estadão.
A assessoria de Lula da Silva confirmou, ao G1, que as alegações contidas nas publicações que circulam nas redes sociais não são verdadeiras, explicando que “toda a retirada do acervo pessoal do ex-presidente foi feita por funcionários, obedecendo a legislação, e tudo isso foi analisado posteriormente pela Lava Jato, sem encontrar nenhuma ilegalidade”.
Mas o caso não fica por aqui. Não só o faqueiro não desapareceu quando Lula da Silva saiu da presidência como nunca esteve no espólio oficial do Brasil.
Quando Costa e Silva e Isabel II se encontraram, em 5 de novembro de 1968, no Palácio da Alvorada (em Brasília), a monarca foi presentada com balangandãs de ouro, um retrato do à época presidente brasileiro e um quadro de Glauber Lima. Por sua vez, a Rainha ofereceu a Costa e Silva uma taça de prata oval e um centro de mesa.
Não há qualquer registo de que Isabel II tenha oferecido um faqueiro banhado a ouro a Costa e Silva. Contactada pelo G1, a secretaria-geral da Presidência da República brasileira disse, em comunicado, o seguinte: “Após uma pesquisa realizada no âmbito da Diretoria de Engenharia e Património da Secretaria Especial de Administração, área técnica responsável, declaramos que não encontrámos qualquer informação no acervo da Presidência da República sobre o faqueiro ou a coleção de talheres supostamente presenteados pela Rainha da Inglaterra em 1968 ao ex-presidente Costa e Silva”.
A imagem do faqueiro utilizada nas publicações que espalham, através das rede sociais, uma mensagem falsa podia ser encontrada no site da Mozart Leilões, do Rio de Janeiro. A descrição do produto — que já não se encontra disponível na página da leiloeira — indicava, segundo o Estadão, que se tratava de um faqueiro coreano, sem estojo, feito de aço inoxidável e banhado a ouro, que foi vendido em fevereiro de 2013.
Conclusão
Não é verdade que um faqueiro oferecido por Isabel II a Costa e Silva tenha desaparecido do espólio oficial quando Lula saiu da presidência. Isto porque quando as autoridades brasileiras fizeram, em 2016, buscas num cofre de Lula da Silva descobriram joias, moedas ou peças de arte — mas não encontraram nenhum conjunto de talheres banhado em ouro.
Mas há mais. Quando a Rainha e Costa e Silva se encontraram, em Brasília em 1968, trocaram presentes entre si. Porém, não há registo de que Isabel II tenha oferecido ao então Presidente brasileiro nada mais do que de uma taça de prata oval e um centro de mesa.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.