Uma publicação nas redes sociais indica que um jornalista foi morto durante o Campeonato do Mundo de Futebol 2022, que teve lugar no Qatar, porque as autoridades do país do Médio Oriente descobriram “que o seu irmão era gay”. “Todos têm de se lembrar que isto é um mundial de fantochada e muitos interesses políticos e outros demais.”
De facto, várias entidades acusam o Qatar de ser um país que não respeita os direitos da comunidade LGBT+. Por exemplo, a Organização Não Governamental (ONG) Humans Right Watch fala num cenário de “discriminação, detenções, violações da privacidade e práticas de conversões”, tendo denunciando que as autoridades qataris “prenderam arbitrariamente membros da comunidade LGBT+ e submeteram-nos a tratamentos enquanto estavam detidos”.
O Parlamento Europeu aprovou mesmo uma moção (que esteve na origem de outra polémica, já que a eurodeputada grega que acabou detida por suspeitas de favor lóbi a favor do Qatar, Eva Kaili, terá feito pressão para influenciar o texto do documento, embora não fazendo parte do grupo de trabalho), em que se “condena as detenções arbitrárias rotineiras e os maus-tratos a que se sujeitas as pessoas LGBT+ no Qatar em virtude da discriminação do governo”.
Aliás, o próprio Código Penal do país estipula que a pena para relações sexuais entre dois homens pode chegar aos três anos de prisão. Contudo, durante o Mundial, e para evitar um coro de críticas da comunidade internacional, as autoridades qataris tentaram suavizar as práticas discriminatórias dirigidas à minoria LGBT+.
Apesar desta tentativa de transmitir ao mundo que o Qatar era um país que respeitava a comunidade LGBT+, várias vozes condenaram a legislação e a discriminação a que está sujeita a minoria. As próprias seleções que participaram na competição também reagiram e alguns capitães queriam usar uma braçadeira — com um desenho de arco-íris idêntico à bandeira LGBT+ e a frase “One Love” (um amor, em português) — inscrita. A FIFA teve mesmo de intervir na questão e determinou que imporia “sanções desportivas” se o acessório fosse utilizado.
Um dos casos mais polémicos relativamente a esse assunto ocorreu com um jornalista norte-americano que trabalhava para a CBS Sport, Grant Wahl, que revelou, na sua conta pessoal do Twitter, ter sido detido durante 25 minutos, à porta do estádio Ahmad bin Ali antes do jogo entre os EUA e o País de Gales, por usar uma t-shirt em que demonstrava o seu apoio “aos direitos LGBT+”. “Tiraram-me o telemóvel e obrigaram-me furiosamente a retirar a t-shirt.”
Free to read: What happened when Qatar World Cup security detained me for 25 minutes for wearing a t-shirt supporting LGBTQ rights, forcibly took my phone and angrily demanded that I remove my t-shirt to enter the stadium. (I refused.) Story: https://t.co/JKpXXETDkH pic.twitter.com/HEjr0xzxU5
— Subscribe to GrantWahl.com (@GrantWahl) November 21, 2022
Duas semanas e meia após deste caso, a 9 de dezembro, Grant Wahl morreu repentinamente enquanto fazia a cobertura do jogo entre os Países Baixos e a Argentina. Quatro dias antes, o jornalista já tinha confessado, durante um episódio do podcast que mantinha, Futbol with Grant Wahl, que se sentia com um “aperto no peito” e dirigiu-se a uma clínica no Qatar, que lhe receitou ibuprofeno.
A família de Grant Wahl ficou em choque, incluindo o seu irmão, Eric, que é homossexual. “Sou gay, sou a razão pela qual o meu irmão usou a t-shirt com o arco íris no Campeonato do Mundo. O meu irmão era saudável e disse-me que recebeu ameaças de morte. Eu não acredito que o meu irmão morreu simplesmente. Acredito que ele foi morto”, sugeriu num vídeo Eric Wahl.
Eric Wahl, the brother of sportswriter Grant Wahl who died in Qatar while covering the World Cup, is asking for help.
Grant was detained in Qatar for wearing a rainbow shirt two weeks ago pic.twitter.com/lak0b1UZwa
— philip lewis (@Phil_Lewis_) December 10, 2022
A publicação nas redes sociais parece seguir o argumento do irmão, tendo ainda para mais em consideração que Grant Wahl já estaria a ser controlado pela autoridades qataris. No entanto, a mulher do jornalista, Céline Gounder, veio depois revelar a causa de morte, determinada por uma autópsia realizada num hospital de Nova Iorque: rutura de um aneurisma da aorta ascendente, não detetado e de crescimento lento, com hemopericárdio.
A mulher de Grant Wahl, que é médica, salientou ainda que, por muitas “manobras de reanimação que tivessem sido feitas, ou choques dados, isso não teria sido suficiente para o salvar”.
Conclusão
Apesar de o Qatar ser acusado de desrespeitar os direitos LGBT+, nenhum jornalista morreu pelo facto de o irmão ser homossexual. A causa da morte Grant Wahl foi natural, não tendo sido morto nem por causa do apoio à causa LGBT+, nem devido à orientação sexual do irmão. Isto, embora Eric Wahl tenha apontado para essa hipótese, que foi conjeturada antes de ter sido feita uma autópsia que determinou que o jornalista da CBS Sports morreu após sofrer um aneurisma.
Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.