No Facebook circula uma publicação com um vídeo em que se alega que a plataforma streaming Netflix paga centenas de euros aos clientes por assistirem a filmes e séries. Mas não é bem assim.

Ao longo de quase 12 minutos de vídeo, surgem relatos de assinantes que alegadamente enriqueceram com a Netflix — mudaram de casa, compraram um carro, pagaram rendas — e explicam, passo por passo, como é que os utilizadores da plataforma podem ganhar centenas de euros “sentados no sofá”. É descrita como uma fórmula “secreta” para ganhar muito dinheiro e foi partilhada com o autor do vídeo por supostos trabalhadores da Netflix. Segundo a propaganda falsa, quanto maior o número de séries e filmes a que os espectadores assistirem, mais dinheiro ganham — principalmente com as estreias.

São entre 1500 a seis mil reais por dia, ou seja entre os 200 e os mil euros, que caem na conta dos utilizadores depois de assistirem ao primeiro episódio. No entanto, a Netflix é uma plataforma de streaming — uma das maiores do mundo — e, para ter acesso ao serviço, os clientes têm de pagar uma mensalidade.

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A falsa publicação foi partilhada dezenas de vezes nas redes sociais, principalmente no Brasil — país onde surgiu o vídeo que estamos a analisar.

Numa pesquisa mais aprofundada encontrámos um outro vídeo de outro utilizador. O esquema é o mesmo, mas desta vez a publicação não está nas redes sociais mas num site que mistura negócios com Netflix no URL: “Brasileiros ganham entre 100 a 200 reais por dia apenas a assistir a séries”, lê-se.

Mais uma vez, o vídeo mostra vários depoimentos de um alegado benefício financeiro da atividade de assistir a conteúdos da plataforma: uma mulher que conseguiu comprar dois iPhones, outra que com o dinheiro que ganhou, a assistir a séries e filmes (180 reais, ou seja 32 dois euros por dia), consegue comprar o que quiser num centro comercial.

Ao analisar este esquema, percebemos que os burlões se aproveitaram da criação do novo plano da Netflix. É que existe de facto uma modalidade, “mais barata”, para ver séries e filmes na Netflix. O plano chama-se “Basic with Ads” (“Básico com anúncios”), foi lançado em novembro de 2022 em vários países, mas é pago, como explica o Observador neste artigo. O plano é semelhante à modalidade de que os vídeos falam, mas há uma grande diferença: os utilizadores não recebem dinheiro por assistirem às séries/documentários ou aos filmes da Netflix.

Neste esquema, os burlões vendem um curso chamado “Sistema Netflix” às vítimas e garantem que após a conclusão do mesmo começará a ser debitado dinheiro nas suas contas — por cada série ou filme a que assistirem através da Netflix. O Observador encontrou um Portal da Queixa com reclamações de clientes que pagaram pelo curso, na esperança de virem mais tarde a ganhar dinheiro. “Comprei o curso ‘Sistema Netflix’, que prometia ganhar dinheiro assistindo a filmes e séries. Custou 147 reais (quase 30 euros). Quero o meu dinheiro de volta, o curso é enganador”, pode ler-se.

Fonte oficial da Netflix garantiu ao Observador que esta modalidade não passa de um esquema fraudulento: “A informação é falsa e não tem qualquer fundamento.”

Conclusão

É falso que a Netflix pague centenas de euros aos clientes por assistirem aos conteúdos da plataforma. Nenhum assinante do streaming é “premiado” por utilizar o serviço e não existe nenhum curso para ganhar dinheiro “sem sair de casa”, como sugere a publicação. É verdade que a Netflix lançou, no ano passado, um plano mais barato — com um custo de cerca de sete euros por mês —, com anúncios publicitários, mas os clientes não recebem dinheiro com a utilização da plataforma. Além disso, Portugal nem está na lista de países que podem usufruir desta modalidade. Fonte oficial da plataforma garantiu ao Observador as informações são “falsas” e “não têm qualquer fundamento”.

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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