Na véspera da entrega da proposta de Orçamento do Estado para 2021, o partido Iniciativa Liberal divulgou um tweet em que procura pôr em evidência que o fraco crescimento de Portugal nos últimos 20 anos – face à média da União Europeia (UE) – nos está a afastar cada vez mais da convergência com os restantes 27 Estados-membros. E complementa: os portugueses “têm hoje menos poder de compra face à média da UE” do que tinham há duas décadas. O partido também complementa o tweet com um gráfico em que compara a tendência de crescimento do PIB face à média da UE de Portugal com outros países, como a República Checa, a Estónia e a Lituânia.
Neste fact check analisamos apenas a frase de título – que é a que extrai uma conclusão – e não a comparação com os três países. Também não nos debruçamos sobre a comparação de Portugal com estes mesmos três países em “Liberdade Económica”, medidos pelo Heritage Freedom.
???????????? Quer mais duas décadas de atraso?
Quer ver Portugal como o país mais pobre da Europa? pic.twitter.com/7MM5WBOGlB
— Iniciativa Liberal (@LiberalPT) October 11, 2020
No que diz respeito ao rendimento per capita, Portugal está, de facto, entre os países com níveis mais baixos da União Europeia a 28. Num ensaio publicado em fevereiro no Observador, o economista e investigador Abel Mateus dava conta que “cada português tem um rendimento médio de cerca de 20.510 euros, por ano, que compara com a média europeia a 28 membros, de 31.831 euros, em que os holandeses têm 46,5 mil e os austríacos 44,9 mil, segundo os dados do Eurostat para 2019”.
Isto, com valores “medidos a euros de mercado”, ressalva o investigador. Corrigindo pela Paridade do Poder de Compra (que ajusta o rendimento pelo nível de preços do país), podemos calcular o rácio com a média europeia. É assim que Abel Mateus chega aos valores da Figura 1 (abaixo), em que “Portugal [tinha], em 2019, um PIB per capita médio igual a 77% da média da EU-28″. Face aos três países que têm o PIB per capita mais elevado (Holanda, Áustria e Dinamarca), o valor para Portugal é apenas de 60%.
Numa análise mais longa, Abel Mateus compara depois as posições de Portugal em PIB per capita (ainda em paridade de poder do compra) em dois momentos: 2000 e 2019. É perfeito para avaliar a afirmação do Iniciativa Liberal.
Assim, em 2000, Portugal estava na 16.ª posição dentro da UE a 28. Duas décadas depois, em 2019, Portugal tinha caído cinco lugares, para a posição 21.º no mesmo indicador. Como mostra a figura abaixo, de 2000 a esta parte, vários países do Leste europeu – que, quando entraram na UE, eram bastante mais pobres – iniciaram uma trajetória de crescimento intenso que os levou a ultrapassar Portugal em PIB per capita: República Checa em 2oo7; Eslováquia em 2012; Lituânia em 2017.
“Hoje, temos apenas sete países atrás de nós. Se a notícia é má, fica ainda pior: como veremos, vamos ser ainda ultrapassados por alguns destes países até 2025”, antecipa Abel Mateus.
Da análise dos números, conclui-se que Portugal, depois de convergir 20 pontos percentuais entre 1980 e 2001 para a média do rendimento per capita da União Europeia, encontra-se hoje 6,5 pontos percentuais abaixo da posição que tinha em 1999. “Ou seja, desde 1999 que o país se encontra em divergência europeia”, salienta Abel Mateus.
Conclusão
Tanto a afirmação que lança o tweet da Iniciativa Liberal como a ideia que a complementa estão corretas. “Portugal está cada vez mais longe da Europa” e os portugueses têm hoje, efetivamente, “menos poder de compra face à média da UE” face à realidade de há duas décadas.
Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
CERTO
NOTA: este artigo foi produzido no âmbito de uma parceria de fact-checking entre o Observador e a TVI