Muitos especialistas acreditam que a automação em larga escala é inevitável. Até o maior fundo de investimentos do mundo, a Bridgewater Associates, anunciou recentemente que está a ponderar utilizar a Inteligência Artificial (IA) para substituir os seus gerentes, muitos deles altamente qualificados e anteriormente considerados invulneráveis à ameaça da automação. Parece que os robôs vão gerir tudo. Será que vão?
Uma tecnologia de última geração, que vai provavelmente chegar dentro de cinco a dez anos, está a ser anunciada como a “salvadora” do capitalismo. Conhecida hoje como “prótese neural”, esta tecnologia é capaz de ler as nossas ondas cerebrais e promete conectar os nossos cérebros à tecnologia cloud e à IA, com o objetivo de nos ligar às máquinas unicamente através do pensamento.
Enquanto esta tecnologia nos parece improvável, centenas de milhares de pessoas em todo o mundo possuem já implantes conectados nos seus cérebros. Até agora, todos eles foram implantados por razões médicas, sendo a mais comum o implante coclear – que permite aos surdos voltar a ouvir, estimulando o nervo auditivo. Cada vez mais, os pacientes com Parkinson e Alzheimer recorrem à tecnologia na esperança de combater as suas doenças. E a iniciativa BRAIN, levada a cabo pelo então Presidente Barack Obama, em 2013, alocou 70 milhões de dólares financiados pelo governo à DARPA, para impulsionar o campo dos implantes cerebrais.
Para que os humanos vençam as máquinas, ou pelo menos sejam competitivos, vamos ter que seguir este caminho – vamos ter de nos ligar diretamente com elas.
A Kernel, startup da Califórnia fundada pelo empresário Bryan Johnson, quer construir uma prótese neural que permita aos humanos, entre outras coisas, acompanhar as máquinas em tempo real – algo semelhante a uma mente humana literalmente conectada à internet e a todos os seus algoritmos e funções de pesquisa. Também Elon Musk anunciou planos para criar uma empresa de prótese neural chamada Neuralink. Conhecido pela sua disrupção wild tech, Musk afirmou mesmo no Dubai: “Com o tempo, acho que provavelmente veremos uma fusão mais próxima entre inteligência biológica e inteligência digital”. Neste contexto, Elon Musk espera ser bem-sucedido com sua nova empresa em apenas cinco anos.
A realidade é desafiante e sugere que, se os humanos não desenvolverem este tipo de implantes, centenas de milhões de empregos serão ocupados por robôs. Alguns, como eu, até acreditam que Wall Street vai ficar sem vendedores humanos. Esta mesma automação irá provavelmente atingir também escritórios de advocacia, empresas de engenharia e até mesmo políticos, que um dia poderão ser substituídos por máquinas que procuram apenas ajudar as pessoas através de algoritmos melhores e mais altruístas. Membros aumentados, órgãos biónicos e o uso generalizado da tecnologia de exoesqueleto serão necessários para competir contra a força robótica. E talvez o lema futuro da humanidade e do capitalismo possa ser: “Se não consegue vencer as máquinas, torne-se uma delas”. Como defensor radical da ciência e da tecnologia, sou capaz de apoiar esta filosofia.
*Zoltan Istvan é transumanista e defensor da evolução da condição humana através do recurso a inovações científicas e tecnológicas. É orador convidado de organizações como o Fórum Económico Mundial, Banco Mundial e Universidade de Harvard, e foi jornalista da National Geographic. A 31 de outubro, vai participar no Business Transformation Summit, em Lisboa.