Em 1957, Robert Dahl propunha uma visão mecanicista da liderança, ao definir o poder como uma relação assimétrica entre dois sujeitos. Quase como se o líder (o indivíduo com mais poder) atirasse uma bola ao liderado (indivíduo com menos poder) e, com o resultado do embate, o liderado se movesse, coisa que não faria de outra forma. Esta ideia foi obviamente refutada e/ou completada por outros autores (Bachrach e Baratz), em 1963, assumindo que o liderado também exerce influência no líder.
Muitos anos passaram, muitas ideias surgiram, mas ainda encontramos líderes que veem na liderança uma aura de poder estático, que funciona num só sentido, existindo à sua frente uma massa amorfa, homogénea, à espera de ser picada pela sua agulha, para então reagir.
E, assim, atiram a bola para promover a suposta deslocação do liderado ou da equipa. Há quem atire com mais ou menos força. Depois, perante a sua incapacidade de mover o(s) outro(s) ou, pelo menos para o sentido idealizado, voltam-se para as equipas de gestão de pessoas das suas organizações com queixas relativas a comportamentos, falta de competências, desalinhamento, entre outras. No entanto, neste pedido de ajuda disfarçado, estão a fazer um exercício relevante: a partilhar responsabilidade.
Não obstante, essa partilha de responsabilidade da liderança deve ser feita à luz da relação com a equipa, quase como uma dança. A ideia de que “o problema não está em mim, mas no outro que não se mexe” não faz sentido. Na dança da liderança, os dois membros do par têm de se mover. Nenhuma parte é estática. A liderança não é uma posição, um degrau do pódio onde se permanece à espera da medalha, ou a dar (apenas) instruções de como lá chegar. E há até quem, após receber a medalha, não queira abandonar o degrau do pódio, e nem se aperceba que o evento acabou, e o campeonato já seja outro.
Não faz mal não saber exatamente como dançar. A liderança aprende-se e pode ser desenvolvida. E é necessária humildade para assumir que não se tem as ferramentas certas. A humildade é precisamente uma competência-chave para um bom líder. C. S. Lewis dizia que a humildade não é pensar menos de nós, mas sim pensar menos em nós. Sem conhecer e compreender o outro não acertamos passo. Na Formação de Executivos da CATÓLICA-LISBON temos apoiado muitos líderes no desenvolvimento da sua arte, em prol de melhores danças com as suas equipas.
O segredo para incentivar ou inspirar o começo da dança não passa por impedir os outros de se sentarem, mas garantir que a música e a coreografia são atrativas o suficiente e que, enquanto líderes, tomamos a dianteira e abrimos a pista. Ainda que tenhamos que desbravar salões de dança que nem sempre queremos, a escolha da banda sonora deve estar alinhada com quem temos à frente, com as suas preferências. E mesmo que a gestão de pessoas na organização nos possa ajudar na sua identificação, é nossa responsabilidade enquanto líderes colocar a moeda na Jukebox.