Inflação1 é ter que pagar cada vez mais pelo mesmo cabaz. É equivalente a shrinkflation, o receber um cabaz cada vez mais pequeno pelo mesmo dinheiro2. Só raramente não resulta em shrinklary, o receber um cabaz mais pequeno em troca do mesmo trabalho3. O que levanta uma questão: porque é que os partidos de esquerda, os autodenominados defensores dos direitos das classes trabalhadoras, são historicamente tão tolerantes em relação à inflação que sistematicamente reduz os salários reais? A resposta é simples: porque a inflação tende a reduzir o cidadão comum à miséria e à dependência e assim a aumentar o poder político e económico do estado.

São atribuídas várias causas ao presente episódio inflacionário. Uma é a disrupção das supply chains. Por exemplo, se para produzir um automóvel de certo modelo na Roménia for necessária uma peça que é produzida numa fábrica na China, onde os trabalhadores estão em confinamento porque o seu governo ainda acredita no que a sra. da DGS nos dizia em 2020, esse modelo não estará a ser produzido ou, pelo menos, estará a ser produzido a uma cadência mais lenta. Havendo menos oferta para uma mesma procura é natural que os preços desse modelo aumentem, e que subam também os preços dos produtos substitutos, i.e., modelos semelhantes, enquanto a supply chain não voltar a fluir.

Outra causa é a subida dos preços de várias commodities, dos cereais, ao estrume e à energia, devido a guerra na Ucrânia ter impossibilitado ou dificultado o acesso a alguns dos principais produtores. Mais uma vez, quando a oferta contrai, para uma mesma procura, é natural que os preços subam enquanto durar a contração da oferta.

Um terceira causa é a desvalorização do euro face ao dólar: como grande parte do comércio internacional (excetuando o efetuado intra EU) é invoiced & paid em bucks, quando o dólar valoriza, mesmo que não haja problemas nas supply chains nem nos commodity markets que levem a uma subida de preços em dólares, o preço em euros das peças chinesas, estrume russo e petróleo árabe sobe.

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Qual é a causa mais importante? Nenhuma destas. Qual então? Milton Friedman (1912—2006) demonstrou que “a inflação é sempre e em toda parte um fenómeno monetário”. O que queria ele dizer com isto? Que todos os fenómenos inflacionários são precedidos por um crescimento na massa monetária ou por uma subida na sua taxa de crescimento. Trocado por miúdos, a causa primeira da inflação que estamos a viver hoje na Europa é devida à política monetária seguida pelo BCE durante a última década. O gatilho que a despoletou pode ter sido os problemas criados pela guerra, mas mesmo que a invasão russa não tivesse ocorrido, outra causa teria, mais cedo ou mais tarde, acionado a crise inflacionária que estava a ser incubada. E se a política monetária não tivesse sido ativamente laxa no passado, as subidas de preços causadas pelos problemas atuais com as supply chains e commodity markets seriam pontuais e reversíveis, isto é, não seriam inflação. Então para que é que o BCE seguiu uma política monetária expansionista? Para evitar a falência de 2 ou 3 estados fiscalmente incontinentes nas praias da Europa.

Mas será que agora que o BCE subiu as taxas de juro a inflação vai abrandar? Provavelmente não. As taxas de juro são um instrumento indireto, tosco, de efeito retardado e de eficácia reduzida para esse fim. Não só não resolvem os problemas causados pelas supply chains e commodity markets, mas mais crucialmente o seu impacto na massa monetária é reduzido, lento, incerto e indireto.

Haverá, então, instrumento mais potente e mais preciso? Há: chupar o excesso de liquidez existente através a venda de ativos no balanço do BCE, incluindo os títulos de dívida púbica emitidos pelos estados membros que o BCE tem em carteira. Mas não será que essa operação pode levar à queda da cotação de alguns desses títulos, e à consequente subida das suas taxas? E tornar difícil para alguns estados conseguir financiar a sua dívida pública e, quiçá, levar a que alguns deles caiam em incumprimento? Pois pode, e é por isso, para não causar problemas políticos e institucionais, não para resolver o problema económico que é da sua direta responsabilidade4, que o BCE ainda não procedeu ao início dessa venda, antes optou por mexer nas taxas de juro e o levou a instituir o Transmission Protection Instrument, anunciado no passado dia 21, para continuar a aspirar a dívida pública dos estados fiscalmente irresponsáveis, continuando assim a aumentar a massa monetária e a por lenha na fogueira inflacionária.

Mas será que ao menos a inflação vai-nos proteger de uma recessão? Infelizmente não, e aparentemente o BCE, a UE e os seus estados também não. Não cai em saco roto a ironia de acreditar que um descontrolo económico pode ser a nossa única salvação.

Us avtores não segvem a graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein a do antygo. Escreuem coumu qveren & lhes apetece. #EncuantoNusDeixam

  1. Inflação: aumento sustentado dos preços, sustentado pelo aumento sustentado da quantidade de moeda na economia, sustentado pelo aumento sustentado da dívida pública, sustentado pelo aumento sustentado da despesa pública; causa de aflição5 para órfãos, viúvas e reformados; desfalque do cidadão comum operado pelos poderes públicos; roubo; aquilo para cuja não ocorrência o BCE foi instituído (ver nota 4).
  2. Dinheiro: aquilo que nos permite comprar cerveja; ser criado pelo simples fiat do suberano que, no nosso caso recentemente delegou este seu poder no BCE; ser inanimado que anima as mulheres; uma bênção que nos alcança o inferno; instrumento de troca e unidade de conta; graça temporal que só nos traz vantagem material quando nos desfazemos dele; certidão de cultura para quem o possui; excremento do demónio; passaporte para a sociedade refinada e conselho nacional do ps/d; propriedade portável; imobilizado em estado liquido; móbil para militância no BE; aquilo em que Nosso Senhor Jesus Cristo nunca tocou, ao contrario de cadáveres, leprosos e hemorraísas; Aristóteles, o pai da biologia, pensava que o dinheiro, como ser inanimado, não se deve reproduzir, e por isso condenava o juro como imoral; embora gerações posteriores de banqueiros, comerciantes & economistas tenham demonstrado que, de facto, o dinheiro se consegue reproduzir como coelhos, os biólogos modernos, presos a tradições peripatéticas, ainda não classificaram o dinheiro em nenhuma das famílias de seres vivos, seja como procariontes, seja como eucariotos; dinheiro e moeda são para todos os efeitos sinónimos, embora o Prof. Dr. Flugêncio Lopes Rabecão, no seu erudito manual Moeda e Bancos(Univ. Coimbra) exponha as 99 diferenças conceptuais entre os dois termos e as demonstre com 101 dissemelhanças técnicas. O seu livro custa €200. Mas vale nada. Qual é o VAL? [Resp.: VAL = -€200, para todas as taxas de desconto verosímeis.]
  3. Trabalho: aquilo para que o Homem (adam) foi criado (Gn 2, 15); o correr atrás do vento (Ec. 2, 17); processo através do qual um laborioso adquire propriedade para um preguiçoso (Ec. 2, 21) no capitalismo; processo através do qual um forçado adquire um viver luxuoso para um nomenclado no socialismo; pura dor e tristeza (Ec. 2, 23); Warx pensava que só o trabalho cria valor o que levou Keynes a sugerir que para aumentar o rendimento nacional, e assim fazer a economia sair de uma recessão, bastava o estado por equipas de trabalhadores a fazerem buracos nas estradas ao mesmo tempo que punha outras a tapá-los; esta ideia keynesiana de que o trabalho inútil a dobrar é duas vezes melhor do que o simples trabalho inútil tem levado a uma constante expansão da função púbica em Portugal durante as últimas décadas.
  4. “O principal objetivo do Eurosistema é a manutenção da estabilidade de preços, ou seja, a salvaguarda do valor do euro.” Missão do BCE
  5. Aflição: preparação psicológica para o que vem aí, especialmente o que vem aí causado pelas políticas económicas, de habitação, saúde, proteção civil, educacionais, justiça e segurança do nosso governo; aquilo que um santo & justo varão sente quando faz o exame de consciência.