O ano letivo anterior terminou com cerca de 7 mil alunos sem, pelo menos, um professor. O presente ano letivo arrancou com cerca de 60 mil alunos nessa mesma posição.

O acesso à educação é um direito fundamental, e cabe ao estado garantir esse acesso, escolas inclusivas e um ensino público de qualidade.

Enquanto a Finlândia é apontada como um dos países com o melhor sistema educativo do mundo, e Espanha se prepara para uma grande reforma no seu sistema de ensino, que passa a ser mais centrado no desenvolvimento de competências e menos na memorização, em Portugal nem sequer existem professores para todos os alunos. Estamos ao nível dos países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento.

A educação é uma peça fundamental do elevador social (que o ministro da educação diz estar a funcionar), e a única esperança que uma criança pobre tem de poder vir a ter uma vida melhor do que aquela que os seus pais lhe puderam dar. É na educação que reside o futuro da nossa nação, a esperança de um país mais competitivo e melhor para viver.

Não é admissível que, em pleno século XXI, na Europa, num país que se diz desenvolvido, a educação não chegue a todos de igual forma. E se, em Portugal, o local e a família onde se nasce já condicionam a construção de um projeto de vida, é na escola que essas barreiras têm que ser diminuídas. Hoje um jovem português que nasce numa família pobre leva, cerca de, 5 gerações a alcançar a classe média. E o seu único caminho para o fazer é pela educação.

Cabe, portanto, ao Estado combater as sucessivas falhas que a escola pública apresenta, principalmente, a falta de professores que tem sido motivo de vergonha para qualquer português.

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No início deste ano letivo, 60 mil alunos não tinham, pelo menos, um professor. São 60 mil alunos que, se conseguirem ter professor até ao final do ano, vão ter menos tempo para lecionar a matéria de um programa curricular que, por si só, já é extenso. São, muitos deles, alunos que em junho terão de fazer exames nacionais ou provas de aferição a uma disciplina que não lhes foi lecionada por completo. Indica-nos um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos que dentro de 3 anos este número pode alcançar os 250 mil alunos, metade dos hoje matriculados no 3º ciclo e ensino secundário.

A par disso, um estudo da Universidade Nova de Lisboa indica que, até 2030, terão de entrar no sistema cerca de 34.500 novos professores, apenas para fazer face à falta já existente e aos pedidos de reforma que se esperam até lá. Isto significa que universidades e politécnicos vão ter de duplicar o número anual de diplomados, o que é, praticamente, impossível.

A português, por exemplo, a situação é ainda mais grave, até 2025 serão necessários, no mínimo, 232 novos professores por ano, mas saem das universidades e politécnicos portugueses, anualmente, cerca de 50 alunos prontos a lecionar.

Os jovens portugueses não querem ser professores, não veem qualquer atratividade na profissão, e é portanto urgente fazer reformas significativas no modelo de recrutamento, nas condições de trabalho, mas também, no sistema de ensino, para o tornar mais atual e eficaz.

Todas as profissões estão a mudar, a digitalizar-se, a tornar-se mais atrativas e a adaptar-se cada vez mais ao século XXI, é fundamental que a profissão de professor acompanhe também esta inovação. Os futuros professores nasceram já com a tecnologia na ponta dos dedos e os futuros alunos ainda mais, a escola tem que se atualizar e tornar mais interessante.

Hoje, no 3º ciclo e ensino secundário, por cada 100 professores com menos de 30 anos, há 3 187 professores com mais de 50 anos. Se em 2000 estávamos em 21º na tabela da União Europeia, hoje, somos o 2º país europeu com os números mais preocupantes.

Depois de uma pandemia, onde a educação superou barreiras e teve de se adaptar sem qualquer tipo de preparação prévia, era necessário voltar em força para recuperar o que foi ficando para trás e continuar o caminho que ainda precisa de ser feito.

A educação está em estado de calamidade e o futuro do nosso país altamente comprometido, cabe ao governo assumir, de uma vez por todas, as suas responsabilidades e tomar medidas urgentes para combater os resultados do abandono em que tem deixado a educação nos últimos anos.