A Sociedade Portuguesa de Cardiologia divulgou recentemente os resultados do estudo PORTHOS, que tem como objetivo determinar o impacto da insuficiência cardíaca em Portugal. O último estudo deste género, realizado no nosso país há 26 anos, estimava que mais de 400 mil portugueses a tinham. Contudo, o estudo PORTHOS mostra agora números mais alarmantes – mais de 700 mil portugueses vivem com esta doença, ou seja, uma em cada seis pessoas com mais de 50 anos. Outro dado surpreendente revelado no estudo é que 90% das pessoas não sabem que têm esta patologia.

Atendendo ao envelhecimento da população, é expectável que o número de pessoas com esta doença venha a aumentar ainda mais nos próximos anos. De modo a conseguir controlar o crescimento exponencial desta patologia em Portugal, é crucial atuar na prevenção, com o controlo dos fatores de risco para o seu desenvolvimento.

A insuficiência cardíaca é uma síndrome crónica, causada pela incapacidade do coração em bombear sangue suficiente para todo o organismo, que pode resultar em vários sintomas, como cansaço, falta de ar, inchaço das pernas, dificuldade em respirar durante a noite, palpitações, entre outros.

O diagnóstico pode passar despercebido dado que estes sintomas são comuns a outras doenças e muitas vezes atribuídos pelas pessoas simplesmente ao cansaço e ao stress do dia-a-dia. Para a sua deteção, é necessária uma avaliação médica cuidadosa e o recurso a exames complementares, como o eletrocardiograma, o ecocardiograma e as análises sanguíneas.

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Os sintomas podem ser incapacitantes, levando a uma redução marcada da qualidade de vida e a internamentos hospitalares frequentes: em Portugal é a principal causa de internamento em pessoas com mais de 65 anos. Tem também uma elevada mortalidade – superior à de muitos cancros – caso não seja detetada e tratada adequadamente.

As causas mais frequentes de insuficiência cardíaca nos portugueses são a pressão arterial elevada e a doença das artérias do coração, como a angina de peito e os enfartes. Existem ainda outros fatores de risco para o desenvolvimento desta doença: diabetes, tabagismo, obesidade, sedentarismo, colesterol alto, consumo alcoólico excessivo, história familiar de doenças do coração, entre outros.

A população idosa é ainda mais afetada. Segundo o estudo PORTHOS, quase um em cada três portugueses com mais de 70 anos são atingidos. Infelizmente, o diagnóstico é muitas vezes tardio, o que implica uma fraca qualidade de vida, o recurso a internamentos recorrentes e uma mortalidade elevada.

No entanto, é possível mudar o paradigma desta doença. Para isto, é essencial o diagnóstico precoce, que se baseia na avaliação médica de pessoas com sintomas sugestivos de insuficiência cardíaca, bem como na deteção de pessoas assintomáticas, mas em risco de a desenvolver.

Após o diagnóstico, o doente deve ser encaminhado para uma consulta especializada para iniciar o tratamento adequado. Felizmente, devido à evolução da medicina nas últimas décadas, com um diagnóstico realizado de forma atempada, o tratamento – baseado em medicamentos, exercício, dieta e, eventualmente, intervenções cirúrgicas – pode melhorar bastante os sintomas e prolongar a vida.

Este estudo vem demonstrar de forma clara que a insuficiência cardíaca é uma das principais epidemias no nosso país, embora a maioria das pessoas não saiba que tem esta patologia. É assim crucial melhorar a capacidade de diagnóstico desta doença, já que a deteção e o tratamento precoces podem fazer toda a diferença na vida das pessoas.