Estes últimos meses têm sido muito tensos no jogo político. Parece que, quer ao nível regional, quer ao nível da nação, o poder executivo está a ser todo ele permeado por sérios problemas e tensões. A tal nível que não tem havido Governo que, mais cedo ou mais tarde, não acabe por cair. O que só deixa margem para uma única possibilidade: a convocação de eleições e a chamada às urnas da população portuguesa.

Em pouco tempo – olhemos apenas para este ano – todos teremos vários momentos em que decidiremos que políticos e que políticas irão comandar os destinos do país. Desde as eleições legislativas às europeias, contando com as dos Açores e, quiçá, as da Madeira (que, já agora, aconteceram há cerca de quatro meses apenas), é visível que os eleitores não têm tido nem terão descanso no uso do seu poder de sufrágio. Se alongarmos um bocadinho mais a distância temporal, sucederão no próximo ano Autárquicas e, no ano seguinte, Presidenciais – isto caso não haja percalços pelo meio e interrupções de legislaturas. Ou seja, em suma, num espaço de dois anos apenas, entre 2024 e 2026, haverá lugar para todas as eleições mais importantes que influenciam o rumo de Portugal e das suas relações europeias.

É neste cenário que os jovens são chamados a votar. Não é provável que, nestes meros dois anos, vislumbrem a resolução de todas ou da maioria das suas dificuldades, até porque alturas de escrutínio democrático são, geralmente, durante alguns meses, momentos de transição. Contudo, se os jovens já contam com este compasso de espera, o futuro a prazo é o que os apoquenta. Olhando para os cenários nacionais e internacionais, que esperanças poderão ter os mais novos de que, elegendo agora, colhem frutos mais tarde? Que tipo de compromisso deve ser criado com eles para que continuem a apostar na importância da vitalidade do regime democrático e se dirijam às mesas de voto com a convicção de que, por mais difícil que seja, as suas vidas irão melhorar?

Uma abundância de diagnósticos já foi realizada. Alguns problemas são antigos – a carga elevada de impostos, a falta de poder de compra, o aprofundamento da pobreza; outros têm marcado a atualidade, por exemplo, na educação, com a crise dos professores, na habitação, devido aos preços altíssimos das casas, ou na saúde, com os tempos de espera para uma consulta ou cirurgia. Só observando o estado destas três esferas da vida social podemos constatar que todos os direitos sociais se encontram num estado precário, instável e que afasta os cidadãos do mundo da política. Contando que outros fatores, como o baixo salário dos jovens e a sua taxa de desemprego como sendo a maior entre os grupos de pessoas desempregadas, podemos perceber facilmente a frustração e a desilusão com que os adolescentes e os adultos na casa dos seus 20 e 30 anos lidam diariamente.

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Há algo que é certo: a maior parte dos jovens não se encontra hiper-preocupado com a corrupção. Aliás, esta não é, sequer, a maior complicação que os portugueses enfrentam nas suas vidas. Apesar de cada caso de políticos corruptos provocar um barulho ensurdecedor, como o som de um balão a estourar, sempre que surge, somos um país em que o sistema não está condenado ao fracasso só porque as grandes máquinas partidárias têm algumas maçãs podres. Não, os jovens procuram outras coisas: estabilidade financeira, trabalhos dignos, bem-estar mental, uma educação ligada ao mercado de emprego, um ambiente menos poluído, a igualdade entre as pessoas. Portanto, o que, de facto, se tem revelado um imbróglio imposto à sua emancipação.

Enquanto jovem que se considera moderado, afastando os extremos dos radicalismos no seu quotidiano, e é apartidário, não se encontrando alistado em nenhum partido nem apoiando, a priori, qualquer movimento político, sinto estar completamente indeciso. Os grandes partidos não me trazem muita confiança nem grande animação, e os pequenos revelam-se muitas vezes facciosos e internamente conflituosos. E nenhum parece falar dos jovens ou para jovens de modo estruturado, divulgando somente algumas medidas avulsas com o intuito de parecer que existe uma preocupação com a juventude. Aproveitando o completo vazio da maior parte das forças partidárias sentem que fazem muito, quando, na verdade, apenas se movem na espuma dos dias.

Os debates entre os vários candidatos a primeiro-ministro vão iniciar-se em breve. Seria muito bem pensado se estes homens e mulheres incluíssem nas mensagens que têm a transmitir medidas verdadeiramente fundamentadas para o desenvolvimento das condições de vida dos jovens. Existem temáticas que são exaustivamente discutidas entre os mais novos – aulas sobre temas de cidadania e de finanças, a participação de empresas e políticos na escola, mais espaços verdes, a valorização dos empregos nas letras, nas artes, no desporto e noutras áreas mais esquecidas, mas sobejamente apreciadas, uma maior quantidade de apoios à saúde mental, entre outros – que pouco são trazidas à disputa entre os partidos. Por isso, esta é a hora-chave para que se fale daquilo que realmente importa para o pilar das sociedades, que são os seus cidadãos. Caso contrário, o risco de perder os jovens para a imigração ou para a indiferença acontecerá progressivamente até que o futuro deixe definitivamente de ser, ele próprio, auspicioso.