No passado dia 24 ocorreram as eleições para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, onde, como todos sabemos, a coligação PSD/CDS ficou a um deputado de atingir a maioria absoluta. Tendo em conta este cenário, Miguel Albuquerque, líder do PSD Madeira, encetou negociações, no âmbito das quais todos pensaram que a IL iria fornecer o seu deputado para a formação de um acordo à direita, mas em que foi o PAN a assegurar a governabilidade da região.

A eleita por este último partido foi uma jovem nos seus 27 anos. Mónica Freitas, uma assistente social que luta pela igualdade das mulheres e pela causa climática e do direito dos animais, esteve na Finlândia em participação de um projeto contra o bullying e, alguns anos mais tarde, em representação das jovens portuguesas na ONU. Assim, a deputada, sendo bastante nova, tem, no entanto, uma experiência social, cívica e política que lhe outorga um chão de segurança em que pode caminhar.

Contudo, ao ouvirmos ou lermos a opinião de vários comentadores reputados, percebemos que a idade pode ser uma condição de exclusão ou de uma participação mais precária na política – não pelo seu avanço, mas sim pelos poucos anos de vida que alguém tem quando passa a assumir importância nas decisões em órgãos de representação. Independentemente dos projetos em que já tenha estado ou das intervenções que tenha levado a cabo, um jovem, apenas por o ser, será sempre encarado como um indivíduo impotente, sem a capacidade necessária para trazer estabilidade a algum centro de poder e decisão.

No momento em que soubemos que Mónica Freitas tinha negociado com o PSD a sua inclusão num acordo de incidência parlamentar que garante as condições para que a coligação mais votada possa governar, pudemos confrontar-nos com comentários que identificavam o grau de inexperiência e de miudeza da eleita pelo PAN. Escutei dizerem que, não obstante a solução encontrada, esta somente foi assegurada por uma “miúda”, sem obra política feita, que nada sabe sobre este mundo altamente sacralizado e que, alegadamente, só pode viver com base na gerontocracia. Comentários muito fortes perante alguém que se dispôs a viabilizar uma solução governativa…

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Mas não são as próprias críticas colocadas nestes moldes um paradoxo? Tanto desaprovamos a alegada fraca envolvência dos jovens na política e o desinteresse perante fenómenos e problemas que condicionam a vida de cada um de nós, mas quando alguém, legitimamente eleita, decide avançar para divulgar e tentar implementar as suas ideias junto de um poder consolidado é imediatamente descredibilizada, como se se tratasse de um devaneio próprio daquelas idades.

Ora, não só tal atitude perante as potencialidades da juventude demonstra uma inabilidade para descobrir mentes que pensem de modo diferente – algo que contraria o próprio espírito democrático, o qual deveria focar-se na justiça da alteridade – mas, também, afasta os jovens tanto dos pontos de decisão como de qualquer forma de curiosidade, entusiasmo ou vontade de participar em medidas e projetos de cariz cidadão e com associação direta à melhoria das condições de vida das pessoas.

De modo idêntico ao que é invocado na subvalorização de várias manifestações coletivas juvenis – que, na verdade, funcionam como união pública em prol da defesa de uma causa de relevo – este ponto de vista idadista com que tenho contactado nos últimos dias ignora que qualquer pessoa tem de começar a sua carreira em algum sítio, por um lado e, por outro, que a própria Mónica Freitas tem já um caminho na política que não é de menosprezar. Não é, senão, uma postura paternalista face ao seu papel e ao que ela pode trazer de positivo para a Madeira e desconhecedora das faculdades dos jovens, utilizando-os a seu bel-prazer quando são convenientes para criticar um dado partido, por exemplo.

Jovens informados são cidadãos promotores da educação, da cultura, do bem-estar e do progresso. O impedimento de ingressarem nas esferas do poder é um avanço significativo para o fim de uma perspetiva minimamente sustentável e feliz quanto ao futuro.