Nos últimos anos, o Sistema Nacional de Saúde (SNS) tem enfrentado desafios crescentes que põem em causa a sua sustentabilidade. Entre os problemas mais urgentes encontram-se o aumento da procura por serviços de saúde, os elevados custos associados ao tratamento de doenças crónicas e a crescente pressão sobre os hospitais. Numa altura em que se torna imperativo encontrar soluções inovadoras e eficazes, a farmácia emerge como um pilar estratégico fundamental para a sustentabilidade do SNS.
Nesse sentido, as farmácias comunitárias desempenham um papel vital na prestação de cuidados de saúde primários. São, muitas vezes, o primeiro ponto de contacto dos cidadãos com o sistema de saúde. O farmacêutico, sendo um profissional acessível e presente no dia a dia da comunidade, torna-se numa figura familiar e de confiança para a população. Esta proximidade faz com que numa situação de desconforto ou sintomas ligeiros, os utentes recorram em primeiro lugar ao aconselhamento por parte destes profissionais, que podem fornecer uma orientação imediata e encaminhamento adequado, antes de recorrerem a serviços médicos. Esta proximidade e disponibilidade tornam os farmacêuticos numa peça fundamental no cuidado e bem-estar da sua comunidade.
Este posicionamento privilegiado permite às farmácias aliviar a pressão sobre os serviços hospitalares e os centros de saúde, ao mesmo tempo que proporcionam um atendimento rápido e próximo do cliente.
Um exemplo disso foi a Campanha de Vacinação Sazonal do Outono-Inverno 2023-2024 contra a Gripe e a COVID-19 que esteve disponível em todas as farmácias do país, uma função, antes exclusiva da enfermagem nos centros de saúde. O estudo levado a cabo pela Associação Nacional de Farmácias (ANF) revelou que este alargamento terá gerado uma poupança de 2,4 milhões de euros para os utentes e de 310 mil horas de trabalho aos profissionais do SNS.
De facto, uma das formas mais eficazes de poupar recursos ao SNS, libertando-os para outras prioridades, é através da expansão dos serviços farmacêuticos. Atualmente, as farmácias já oferecem serviços como o aconselhamento farmacêutico, realização de testes rápidos (como a tensão arterial e a glicemia), enfermagem, nutrição a vacinação. No entanto, existe um enorme potencial a ser explorado. Ao promover novos serviços, como a gestão de doenças crónicas, o SNS pode beneficiar de um sistema mais eficiente e acessível.
As farmácias, através de programas de seguimento farmacoterapêutico, podem assegurar que os utentes seguem corretamente os seus tratamentos, reduzindo assim a incidência de complicações e hospitalizações. Esta abordagem não só melhora a qualidade de vida das pessoas, como também gera poupanças significativas para o SNS.
Além disso, as farmácias podem desempenhar um papel crucial na promoção da saúde pública e na prevenção de doenças. Através de campanhas de educação e sensibilização, os farmacêuticos podem informar a população sobre hábitos de vida saudáveis, a importância da vacinação e a prevenção de doenças infeciosas. Este trabalho de proximidade é essencial para a criação de uma sociedade mais consciente e capaz de tomar decisões informadas sobre a sua saúde. Para além disso, podem desempenhar um papel central na triagem inicial de sintomas e encaminhamento dos utentes para outro tipo de atendimento, se necessário.
Para que esta integração entre farmácias e SNS seja bem-sucedida, é fundamental um enquadramento regulamentar adequado e uma colaboração estreita entre todos os intervenientes no sistema de saúde. O Governo, as entidades reguladoras e os profissionais de saúde devem trabalhar em conjunto para definir estratégias e políticas que promovam o papel das farmácias no SNS. A formação contínua dos farmacêuticos e o reconhecimento do seu contributo são também essenciais para assegurar a qualidade e a eficácia dos serviços prestados.
A farmácia tem ainda um potencial imenso a ser explorado e que pode contribuir para a sustentabilidade do SNS. Ao expandir os serviços farmacêuticos, promover a gestão de doenças crónicas, incentivar a prevenção e a educação para a saúde, as farmácias podem aliviar a pressão sobre os hospitais e os centros de saúde, melhorar a eficiência do sistema e reduzir os custos associados aos cuidados de saúde. A integração estratégica das farmácias no SNS é, sem dúvida, um caminho promissor para assegurar a sustentabilidade e a resiliência do nosso sistema de saúde, garantindo um acesso mais equitativo e de qualidade aos cuidados de saúde para toda a população.