Sou uma rapariga normal: estudo, trabalho, saio com os meus amigos; gosto de café, de discotecas e de devorar séries – como disse, absolutamente normal. Tenho os meus problemas e dúvidas existenciais, mas, let’s face it, quem é o pré-adulto de 23 anos que não os tem? Sou uma eterna contestatária, dentro de toda a disfuncionalidade da nossa sociedade, e questiono-me sobre mais do que aquilo a que consigo responder.

Na minha mesa de cabeceira podem encontrar-se uma série de blisters de comprimidos: para as dores de cabeça, para conseguir dormir, para me poder acalmar, etc. Tudo comprimidos de efeito imediato. Tudo fabricado para diminuir o desconforto momentâneo, para conseguir proporcionar um maior bem-estar a curto prazo. Claro está que, o abuso destas substâncias a longo prazo, trará mais problemas do que uma mera dor de cabeça (e para alguém que sofre de enxaquecas desde pequena, classificá-las como “meras dores de cabeça” é um pontapé no estômago). No entanto isso não interessa, porque daqui a meia hora já me sinto melhor, já vou atingir aquilo que pretendo — o alívio imediato. Portanto, entro neste ciclo que tanto critico.

Mas vamos ter calma, não sou nenhum tipo de maníaca automedicada e hipocondríaca. Sou apenas fruto da minha geração. Uma geração que vive do imediato. Do instantâneo. Nós não nos satisfazemos com objetivos a longo prazo. Temos de esperar demasiado, desesperar demasiado. Precisamos que o sucesso seja palpável, precisamos de sentir que ele vai acontecer. Precisamos que ele aconteça quando fazemos por ele.

Estamos habituados a receber tudo o que queremos no momento em que o queremos. Se queremos comer, basta-nos ferver água e deitá-la sobre um copinho de uma mistura seca, que compramos no supermercado e no qual gastamos menos dinheiro do que aquele que gastaríamos numa refeição completa – comida instantânea. Se queremos falar com alguém, basta-nos ligar ou enviar uma mensagem, quer esta pessoa esteja a 2 metros de nós, quer esteja do outro lado do mundo, e na qual não envolvemos tanto esforço como envolveríamos se tivéssemos uma conversa real com essa tal pessoa – resposta instantânea. Até se quisermos conhecer alguém ou ter uma relação com alguém temos aplicações que nos permitem fazer “match” instantaneamente! Tudo nos é entregue com facilidade. E tudo o que não é já nos parece envolver demasiado esforço. Já acaba por não compensar. Ou assim achamos nós.

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E atenção, sou uma fervorosa adepta de que as pessoas mais preguiçosas acabam por ser as mais espertas, pois encontram formas mais fáceis (e que envolvem menos esforço) de fazer as coisas. Mas tenho a impressão de que já estamos a chegar ao ponto em que sentimos sempre que a vida nos deve alguma coisa quando algo não corre bem. Que não fomos nós que erramos, não fomos nós que não nos esforçamos o suficiente por isso… E assim talhamos o caminho para muitas desilusões na vida.

No entanto somos os mais corajosos!

Nada nos assusta, temos sempre todas as respostas. Somos donos do mundo porque ele se encontra (nas palavras de um professor meu de faculdade) à fria distancia de um browser de internet. E para quê alterar alguma coisa quando é tudo tão fácil assim? Quando no momento nos parece tudo funcionar tão bem?

E, portanto, não temos vontade de mudar. Vamos continuando a viver de forma imediata, a comer comida instantânea, a receber respostas instantâneas e a criar relações instantâneas. A internet assim nos habituou. E eu vou continuando a tomar os meus comprimidos, para o alívio instantâneo do meu desconforto físico. Porque para este desconforto social não há remédio.

Ainda.