A Primeira Revolução Industrial, iniciada no final do século XVIII, foi um marco na evolução tecnológica, transformando economias e sociedades. A mecanização da produção e a introdução de novas tecnologias permitiram avanços significativos que moldaram o mundo moderno. Hoje, perante os desafios geopolíticos e os conflitos bélicos atuais, uma nova “revolução industrial na Defesa” está a ter um impacto semelhante, impulsionando o desenvolvimento tecnológico e fortalecendo a segurança nacional das nações que não se deixaram ficar para trás.

A introdução de máquinas a vapor, teares mecânicos e processos de fabricação em massa aumentou a eficiência e a produtividade, desencadeando uma era de crescimento económico sem precedentes. Além disso, esses avanços tiveram um impacto significativo na área militar, com a produção de armas e equipamentos bélicos mais avançados, que mudaram a forma como as guerras eram travadas.

Analogamente, uma revolução industrial na Defesa pode impulsionar avanços tecnológicos significativos em resposta aos desafios contemporâneos. No cenário atual, caracterizado por conflitos bélicos, ameaças cibernéticas, terrorismo e tensões geopolíticas, a inovação tecnológica na Defesa é crucial. O investimento em I&D pode, e leva, à criação de novas tecnologias de defesa, como sistemas de inteligência artificial, drones, cibersegurança e armamentos avançados. O surgimento de novas tecnologias no campo de batalha ucraniano é disso exemplo, assim como os sistemas de vigilância que temos testemunhado nos últimos meses em Israel e Gaza.

A história mostra que períodos de grande inovação tecnológica muitas vezes coincidem com aumentos significativos na capacidade de Defesa. Durante a revolução industrial, o desenvolvimento de novas tecnologias militares foi essencial para a segurança das nações industrializadas. Hoje, uma abordagem similar pode, e deve, ser adotada. O investimento na indústria de defesa não só fortalecerá a segurança nacional, mas também impulsionará, e está a impulsionar a economia, criando empregos altamente qualificados e estimulando os setores tecnológicos.

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A relação entre a revolução industrial e a Defesa é também evidente na maneira como a inovação tecnológica pode ser transferida para o setor civil. Tecnologias desenvolvidas para fins militares frequentemente encontram aplicações civis, beneficiando a sociedade em geral. Por exemplo, o radar, as micro-ondas, a internet e o GPS, originalmente desenvolvidos para fins militares, são agora indispensáveis na vida quotidiana.

Portanto, ao investir na indústria de defesa, Portugal não estará apenas a garantir a sua segurança e soberania nacional, mas também a promover um ambiente propício à inovação tecnológica e ao crescimento económico. Tal investimento pode, e deve, posicionar o país na vanguarda da tecnologia global, fortalecendo a sua economia e o seu papel no cenário internacional. Esta nova “revolução industrial na Defesa” tem o potencial de transformar profundamente a sociedade, promovendo também a paz e a estabilidade através da força e da inovação.

O investimento na indústria de Defesa é uma alavanca poderosa para o avanço tecnológico. Por exemplo, na área das Tecnologias da Informação e Comunicações, o desenvolvimento de redes seguras de comunicação e sistemas de cibersegurança no âmbito militar têm uma aplicação direta nas tecnologias de cibersegurança empresariais, que são vitais para proteger dados pessoais e comerciais. Desenvolvimentos nas redes de comunicação podem melhorar a infraestrutura de internet e rede móvel, assim como suportar uma rede nacional de emergência que tem um histórico critico em Portugal.

Já no campo da Inteligência Artificial e Automação, os sistemas de drones autónomos para reconhecimento, ataque e missões de vigilância podem ser utilizados em múltiplas aplicações civis, tais como em sistemas de prevenção de incêndios, monitoramento de plantações agrícolas, na construção civil para inspecção de obras, ou até na entrega de mercadorias, como já implementado por algumas empresas de logística. A evolução dos sistemas de satélites para vigilância e comunicação permitiu dar um salto de gigante nas questões de observação do globo terrestre, sendo utilizados por todos nós para uso comum lúdico ou de forma mais técnica para monitorização climatérica, gestão de recursos naturais e navegação (GPS).

Em termos de Medicina e Biotecnologia, os conflitos bélicos têm sido verdadeiros laboratórios de desenvolvimento, infelizmente pelos piores motivos. Os cuidados médicos avançados para tratamento de soldados têm repercussões diretas nas tecnologias médicas desenvolvidas para tratamento de traumas aplicadas em hospitais, unidades de emergência e unidades de recuperação, melhorando os cuidados de saúde para a população em geral.

O desenvolvimento de fontes de energia portáteis e materiais resistentes para veículos e equipamentos militares acaba sempre por chegar às aplicações civis. Materiais avançados utilizados na construção civil, na indústria automóvel e na produção de dispositivos eletrónicos, bem como tecnologias de energia, podem ser adaptados para melhorar a eficiência energética em diversos setores, nomeadamente nas baterias.

Impacto Profissional, Económico e Desenvolvimento Regional

Paralelamente ao desenvolvimento tecnológico, o investimento na indústria de defesa gera um grande número de empregos, tanto diretos quanto indiretos. A construção e manutenção de infraestruturas militares, indústrias, bem como o desenvolvimento de centros de investigação, requerem uma força de trabalho diversificada e altamente qualificada. Recordemos o impacto que trouxe a implementação da Autoeuropa na região de Palmela, representando hoje um cluster com centenas de milhares de trabalhadores diretos e indiretos e um impacto económico superior a 1,5% do PIB. Será possível mensurar o potencial português, sabendo que se podem implementar clusters na região de São Jacinto (Aveiro), Santa Margarida (Constança), Évora e Beja? Isto sem contar com a Zona Económica Exclusiva (ZEE) que Portugal detém, e pela qual é responsável.

A indústria de defesa oferece oportunidades para engenheiros, cientistas, técnicos, especialistas em tecnologias de informação, entre tantos outros profissionais, e claro, infindáveis oportunidades para os militares. Estes empregos são geralmente bem remunerados e permitem o desenvolvimento profissional contínuo. Num momento em que a carreira militar está em risco, este é mais um ponto a favor para colocar na discussão. É fundamental ter sempre em mente que todo este desenvolvimento profissional está sempre alicerçado em parcerias entre instituições militares, universidades e entidades privadas, que promovem não só programas tecnológicos mas também a formação através de programas de pesquisa e desenvolvimento conjuntos que permitem a transferência de conhecimento e tecnologia entre o setor militar e académico.

A indústria de defesa representa uma parcela significativa do PIB em muitos países. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Indústria de Defesa é um dos principais setores económicos. Em 2024, representa um mercado com um valor de 310 mil milhões de dólares (288 mil milhões de euros), com uma previsão de crescimento superior a 3,5% ao ano. Estima-se que o mercado valha mais de 370 mil milhões de dólares já em 2029. Não admira, portanto, que Donald Trump tenha feito ameaças claras aos países da NATO sobre a necessidade de investimento dos 2% do PIB na área da Defesa.

Em países como França, Itália, Alemanha e Reino Unido, a defesa também desempenha um papel importante na economia, contribuindo significativamente para o crescimento económico. Na Alemanha, a Rheinmetall viu o valor das suas acções multiplicar por 8x no espaço de dois anos. Grandes projetos de Defesa, como bases militares internacionais, indústria e instalações de investigação e desenvolvimento, levam ao desenvolvimento regional e nacional, criando empregos e estimulando a economia local.

Com estes tópicos desenvolvidos, temos uma visão clara de como o investimento na indústria de Defesa pode não apenas fortalecer a segurança nacional, mas também promover o desenvolvimento tecnológico, económico e social de Portugal. É verdade que os custos são elevados e há outras prioridades orçamentais. No entanto, é crítico considerar os benefícios a longo prazo, como a estabilidade, a segurança, o trabalho e o crescimento económico, assim como o desenvolvimento social. Um orçamento equilibrado pode, e tem de acomodar essas necessidades.

Embora haja preocupações éticas sobre a produção de armamentos, uma Defesa forte promove a paz através da dissuasão. Os países com Defesas robustas tendem a ser menos alvo de agressões externas. A paz dos últimos 80 anos fez os europeus esquecerem-se dos princípios básicos e fundamentais que são o garante da soberania, paz e, sobretudo, das liberdades colectivas e individuais.

Investir na Indústria de Defesa é crucial para garantir a segurança e a soberania nacional. Os benefícios vão além da proteção, abrangendo a inovação tecnológica e o crescimento económico. É imperativo que o governo português considere seriamente o aumento destes investimentos para um futuro seguro e próspero, colocando Portugal na vanguarda da inovação e da cooperação internacional.