1 Ao princípio achei que era uma surpresa depois percebi que talvez fosse um milagre. O olhar fito no écran, imóvel na cadeira, a pressa ausente e a curiosidade alerta, descobri-me inteiramente disponível para aquela história, que o mesmo é dizer inteiramente disponível para o milagre.

Era um filme chamado “A Herdade”. A inspiração tudo tocou no écran, as palavras e as pessoas, a paisagem, a grande casa e as outras casas, a luz, os sentimentos, a terra, os olhares, os silêncios e os seus andamentos. Como um vento forte ela soprou sobre tudo isto como sobre as notas com que se escrevem as sinfonias e as cantatas. Há tempos ouvi o pianista chinês Lang Lang a contar-nos no Mezzo, o que mais o deslumbrava na música e como tinha chegado até ela: a “inspiração” disse ele, “é sempre ela o que mais me toca, é de onde vem tudo”. (cito de memória).

Estou pouco habituada a milagres e que me ofereçam, em português, uma história portuguesa contada tal e qual ela foi, com uma prodigiosa justeza de tom, de substancia e de beleza — ainda menos.

Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.