Agasta à ciência política não poder fazer experiências. A dificuldade principal é logística. Ao contrário dos biólogos, para quem quando morre o rato as coisas podem ser rapidamente remediadas, quando morre o bicho ao cientista político moderno não lhe é prático repetir as experiências. Chegados aos seus laboratórios na manhã seguinte os cientistas políticos não conseguem melhorar o que não correu bem na noite anterior. Querem decerto perceber muita gente; mas dessa gente nem todos querem as mesmas coisas. Muitos não sabem bem aquilo que querem e o que estão a fazer, e mudam de ideias enquanto estão a fazer o que disseram que iam fazer; e o estado de coisas que resulta daquilo que fazem não é o que ninguém queria.
Os cientistas políticos anseiam por um momento de paz laboratorial semelhante àquela de que os biólogos gozam. Olham com ressentimento para os ratos lustrosos e bem-alimentados, que parecem unidos por pactos de regime. Como seria bom se toda a gente se entendesse e, como nos laboratórios, os animais políticos se prestassem melhor à ciência. Um consenso entre aqueles de quem se ocupam constituiria o primeiro passo para os cientistas poderem testar com método modos de organização política, e poderem repetir as suas experiências com proveito. Visto o passado desanimador, não é contudo razoável esperar que possa haver um acordo sobre coisas concretas. Por sorte a ciência política costuma ser modesta. Basta-lhe ambicionar que todas as pessoas estejam de acordo em estar de acordo.
As várias dificuldades práticas sugerem uma saída científica clara aos cientistas políticos. Onde faltam os roedores e os laboratórios recorre-se à analogia. A analogia tem sobre os ratos uma vantagem: não requer instalações laboratoriais, mas apenas o talento para perceber que duas coisas que toda a gente acha que são diferentes são afinal parecidas. Em vez de ver o futuro na disposição relativa dos ratos inanimados no fundo da chávena basta observar directamente as semelhanças entre o presente e o passado; o futuro, concluem os cientistas políticos, consistirá nessas semelhanças.
Como todavia criar condições para que que se notem essas parecenças? Os cientistas políticos repararam que por sorte não é preciso. Com efeito, em períodos especiais é possível observar nas ruas nações inteiras unidas pelo acordo em estar de acordo. Durante esses períodos, multidões vestidas de igual resgatam a ciência política para os cientistas; são de facto os ratos que lhes faltavam. Ao fenómeno um naturalista chamara com presciência a lei da selecção nacional. A lei da selecção nacional explica que em certas matérias ninguém tenha quaisquer ideias, e ninguém se distraia das que tem. A lei da selecção nacional permite aos cientistas simular sem precisar de laboratórios os efeitos dos grandes acordos sem conteúdo. Podem assim suspirar com autoridade por um sistema político parecido com esses momentos de unanimidade na história das nações.