António Costa governou 8 anos, mantendo um país estagnado, e caiu por indecente e má figura. Seria de esperar, e mais do que natural, que nesse momento se abriria um novo ciclo do espaço político que é alternativa ao PS, ainda liderado pelo PSD. Um novo ciclo de desenvolvimento do país estava ali à mão de semear, aplicando reformas urgentes de desburocratizarão e racionalização do Estado e políticas que permitam crescimento económico.

Eis senão quando, algures do seio do binómio Montenegro-HugoSoares, brotou a ideia de recuperar a Alternativa Democrática. A tentativa de abrir um alçapão para o passado para pedir prestígio emprestado revelou-se trágica.

Não o foi por ser atrevido comparar Luís Montenegro a Sá Carneiro, Nuno Melo ao Freitas do Amaral de 1979 e Nuno da Câmara Pereira a Gonçalo Ribeiro Telles. Foi-o porque esta tentativa de reedição de um sucesso do passado por actores secundários, por ainda terem os direitos do nome, abriu um caminho de cacofonias e confusões que afectou de forma determinante o resultado eleitoral e o futuro do país.

Por um lado, esta opção do PSD fê-lo ter de carregar o peso dos legados do CDS e do PPM, o que o obrigou a passar a campanha a tentar disfarçar o cheiro a mofo das posições de Núncio e a esconder as diatribes do líder do PPM. O preço a pagar pela respiração boca-a-boca aplicada ao CDS, já no leito de extrema-unção, foi a forte atenuação da imagem de um PSD que devia aparecer renovado e virado para o futuro, o que custou votos.

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Mas muitos mais votos custou a confusão da sigla AD com a do partido ADN, uma lição em comportamento humano possibilitada por uma decisão política mal calculada de tirar PSD do boletim de voto. Pelo simples facto de o PSD se chamar AD, perdeu um deputado em Lisboa para o PS (o décimo quinto), um deputado em Viseu para o PS (o quarto), e um deputado em Coimbra para o Chega (também o quarto).

Apenas com estes três deputados perdidos pela confusão de siglas, o PSD juntamente com a IL (muito castigada pelo voto útil) teriam maioria face a toda a esquerda junta. PSD + IL teriam 91 deputados. PS (que perderia 2 deputados) + BE + PCP + Livre + PAN teriam no seu conjunto 90 deputados. Isto foi o quão perto o país esteve de poder ter um governo a que se poderia chamar de direita liberal, o que foi apenas impedido por uma confusão de siglas a partir de uma má estratégia eleitoral do PSD.

Se os deputados da Iniciativa Liberal mais os do PSD tivessem maioria face à esquerda, não existiria qualquer dúvida da solução que iria governar o país: a Iniciativa Liberal integraria o governo porque dela dependeria a sua manutenção, o que permitiria implementar algumas das suas propostas. Os deputados do Chega, claro está, não fazem parte de nenhuma destas equações. Não contam e, face a um orçamento de um governo PSD com IL, só se poderiam abster para o viabilizar. Se o Chega mandasse abaixo um governo de direita liberal que estaria a acabar com as paralisantes décadas do socialismo, ficaria reduzido de volta ao deputado único Ventura na eleição seguinte (que continuaria a dar entrevistas nos canais de televisão dia sim, dia sim).

O que o país estaria a experimentar agora seria uma correcção histórica do seu crónico atraso. Um governo obrigado a ser reformista em todas as suas entranhas, que baixaria o IRS para todos de forma significativa, que colocaria o IRC a 15%, que encetaria uma forte modernização da administração pública e racionalização do Estado e que defenderia de forma intransigente a liberdade individual e o direito à propriedade.

Este PSD não tem coragem de aplicar medidas impopulares mas teria na culpabilização dos liberais uma saída permanente. A Iniciativa Liberal, que tem conseguido um crescimento nunca interrompido de eleição para eleição num país ainda muito árido às suas ideias, não tem qualquer tipo de clientelas e mantém consigo o único eleitorado que de facto pretende todas essas mudanças e reformas, pelo que ficaria com toda a responsabilidade pelas medidas mais difíceis de bom grado.

A mais estúpida ideia política da década, a recuperação da AD para os boletins de voto, impediu este cenário de se concretizar. Em vez de um governo reformista temos um governo indistinguível do anterior. Montenegro governa pelo livro de estilo de Costa, e gosta.

O primeiro-ministro está investido como gestor da situação, sem definição ideológica, a distribuir dinheiro por grupos específicos de interesse. Luís Montenegro foi muito claro ao comentar o seu orçamento socialista: “nós revemo-nos integralmente no orçamento que entregámos no Parlamento”. O ministro das Finanças já veio também admitir que a descida do IRC negociada com o PS de apenas 1% pode cair, que não haverá problema. Nem Pedro Nuno Santos pediu tanto. Fica tudo igual no governo mais do mesmo. Fernando Medina, nesta conjuntura, entregaria um orçamento mais liberal, não haja qualquer dúvida.

O PSD preferiu olhar para o passado nas opções que tomou, por conforto, sem entender que os próximos tempos precisam de uma energia disruptiva que só os liberais podem fornecer. Foi um erro. Só com a IL se poderia ter a oportunidade histórica de mudar as políticas que nos trouxeram até este definhamento e que todos os outros partidos subscrevem quando estão no poder.

Com a potencial eleição de Trump e o aceleracionismo tecnológico a acontecer, o mundo estará irreconhecível daqui a dois anos. Portugal não conseguiu ter um governo que o vire para fora, atraindo investimento e garantindo Liberdade à sociedade para criar e construir. Portugal ficou entregue a um governo muito frágil, a aumentar a despesa pública, num país cuja ambição parece ser apenas pagar pensões.

Se se poderia achar que o governo tem na sua composição muitos elementos com alguma tendência liberal, mais do que a próprio eleitorado que vota PSD, a facilidade com que o governo anuncia medidas de teor socialista e se regozija com o seu orçamento prova que só quando o PSD tiver a IL a obrigá-lo todos os dias a fazer aquilo que promete em campanha é que poderemos ter um destino colectivo diferente. Hoje só podemos sentir saudades dos cartazes do PSD colocados há um ano que diziam “baixar impostos já”. Como já era evidente na altura, a imitação da linguagem da IL foi um transformismo barato para enganar alguns incautos.

Os parceiros europeus da Iniciativa Liberal olham para o partido com curiosidade e admiração. Num contexto europeu de forte subida da extrema-direita e de vários partidos liberais em sérias dificuldades, a Iniciativa Liberal é não só um caso de sucesso único no sul da Europa como um exemplo de crescimento que sustém os populistas, sobretudo na juventude. Evidentemente que a longa estratégia da IL para se tornar terceira força política nacional nas eleições europeias, o que alteraria a percepção dos equilíbrios no panorama político português, foi torpedeada pela surpreendente queda do governo, que apanhou a Iniciativa Liberal em início de ciclo e deu um impulso artificial ao Chega (o que ainda lhe permitiu ficar à frente da IL nas europeias três meses depois, embora apenas por 0,71%).

Podíamos ter tido novas eleições agora caso Pedro Nuno Santos conseguisse fazer o que lhe apetecia. Mas nos partidos a máquina vence sempre e enquanto no Chega 95% da máquina está na cabeça de Ventura e o resto no grupo parlamentar (com autarcas e estruturas locais a valerem zero), no PS a máquina está nas distritais e nos autarcas, que não queriam novas eleições.

Novas eleições agora fariam com que o número de deputados do Chega eleitos em contexto muito específico e irrepetível ficasse bastante reduzido (e nunca mais nenhum líder partidário com dignidade aceitará discutir o que quer que seja com André Ventura), fariam os partidos à esquerda do PS perder deputados, dariam à IL a oportunidade de mostrar que é o único partido não estatista em Portugal e, muito provavelmente, após os votos contados, daria esta maioria da IL com o PSD face à esquerda. O país escolheu a estabilidade, no mesmo. O PSD pode estar contente por poder governar mais dois anos, mas é a única coisa que pode celebrar. Com que país vai Montenegro acabar? Ver-se-á nos indicadores alguma diferença face à governação de António Costa?

Conhecidas todas as políticas dos partidos e comportamentos das suas lideranças, está claro que o PSD não está à altura do momento histórico que vivemos e que só podemos ter esperança de uma mudança de rumo do país quando a Iniciativa Liberal puder condicionar de forma determinante o governo. Disso depende a nossa prosperidade, a nossa Liberdade e a sustentabilidade da qualidade da ideia Portugal no mundo, pelas gerações que cá estão e pelas que hão-de vir.