A Nova Direita de Francisco Rodrigues dos Santos (FRS) combina o seu tipo de liderança com os valores políticos que pretende defender ao leme do CDS-PP. O termo “Nova” ilustra a renovação proposta por FRS, que pretende de modo incisivo, enérgico e combativo, mas não revolucionário, redefinir a estrutura, imagem e mensagem do partido. Quanto à “Direita”, reflecte o conjunto dos valores do conservadorismo democrático que são comuns aos apoiantes do partido. Este pequeno texto pretende precisamente identificar esses valores e reflectir sobre a sua importância para o fortalecimento do CDS-PP.
Comecemos pelo que a direita de FRS não é: extrema e populista. O termo “nova direita”, assim como “nova esquerda”, tem sido associado a diversos projectos políticos de cariz renovador. Alguns desses projectos reflectem vertentes extremistas e populistas que não estão obviamente relacionadas com o projecto de FRS para o CDS-PP. Em primeiro lugar encontramos um tipo de projecto etnocêntrico de extrema direita iniciado no final dos anos 60, que actualmente se manifesta em movimentos identitários na Europa. Em segundo lugar encontramos os projectos populistas que recentemente tem conquistado grandes fatias do eleitorado em países tão distintos como os EUA, o Brasil, e a Hungria.
A direita de FRS é conservadora, influenciada por Burke, Oakeshott, Scruton e afins. É um conservadorismo democrático, inerentemente prudente e moderado. Baseia-se na defesa da vida e dignidade humana, na liberdade individual (independentemente da etnia, género, preferência sexual ou religião), na valorização da família, na iniciativa privada, na limitação do papel do Estado, no respeito pelas tradições compatíveis com um sistema moral humanista de inspiração cristã, na preferência por transformações graduais da sociedade em vez de revolucionárias, na democracia secular, na construção de sistemas adequados de defesa e segurança e num patriotismo que não receia abraçar o mundo.
Olhando para esses valores e para as preferências dos apoiantes do partido, pode inferir-se que todos os militantes do CDS-PP são conservadores e que não deve continuar a promover-se a divisão entre conservadores, liberais e democratas cristãos: o conservadorismo português incorpora necessariamente valores do liberalismo e da cultura cristã. Primeiro, um conservador é liberal em relação aos direitos individuais e à economia de mercado, se bem que não é liberal em relação à natureza humana (o conservador alimenta-se de um pessimismo condimentado com um pouco de esperança) e aos costumes (até ser confrontado com um argumento moral peremptório ou evidência científica, o conservador valoriza mais o conhecido que o desconhecido). Segundo, qualquer conservador português abraça os valores sociais do cristianismo, essencial na construção do quadro moral prevalente no nosso país. Seja um católico, um ateu “cristão cultural” como Dawkins ou mesmo um crente noutra religião cujos valores sociais são compatíveis com os do cristianismo, um conservador português reconhece a importância vital de princípios herdados dessa tradição, como o respeito pela dignidade humana e a solidariedade para com os membros mais carenciados da sociedade. Isto é o verdadeiro conservadorismo democrático e não a doutrina extremista, populista ou teocrática que habita o imaginário de muitos habitantes da Europa continental quando se fala em conservadores.
A variação de preferências no campo conservador parece ocorrer principalmente em relação a questões de estratégia política e ao tipo de tradições que devem ser protegidas. Por exemplo, um conservador ortodoxo será a favor de uma moldura penal mais pesada e de uma política de imigração mais restritiva, assim como avesso a mudanças em relação à natureza do casamento e a actividades culturais como a tauromaquia. Um conservador menos ortodoxo, mais próximo do centro, tende a ter preferências menos vincadas. No entanto, não deixam de estar unidos pelos mesmos valores fundamentais.
Neste contexto, o CDS-PP tem condições doutrinárias para expandir o seu espaço político de modo firme e paciente. Em termos comparativos, o CDS-PP pode, em teoria, ocupar uma posição semelhante à do Partido Conservador britânico ou do Partido Republicano norte-americano, transformando-se no grande partido da direita democrática em Portugal. O PSD, o IL e o Chega não parecem ter as características ideológicas adequadas para o fazer, visto ocuparem áreas da direita democrática que são menos abrangentes. Assim, creio que a construção de um espaço alargado da direita democrática deve ser o objectivo a longo prazo do CDS-PP, mesmo que tal pareça actualmente utópico devido aos resultados das últimas eleições e à tradicional preponderância do PSD nesse espaço político.
Não obstante a evidente qualidade das outras candidaturas, a Nova Direita de FRS encontra-se especialmente apta para fortalecer o CDS-PP e iniciar um combate político que passa, numa primeira fase, por reconquistar o eleitorado que costuma apoiar o partido. Em todo o caso, seja quem for o líder eleito, o CDS-PP deve permanecer unido, consciente de que os seus militantes ocupam o mesmo espaço político e que partilham o sonho de um Portugal melhor para si e para as gerações futuras.