A desigualdade de género continua a ser um problema profundamente enraizado especialmente no sector tecnológico. Apesar da crença generalizada que este seja um tema ultrapassado, com a existência de políticas que obrigam as empresas a cumprir cotas de género, essa visão não poderia estar mais distante da realidade. A disparidade persiste e deve continuar no centro das discussões, pois afeta diretamente o progresso social e económico.

Desigualdade Salarial: A Ferida Aberta

Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2022, a disparidade salarial entre homens e mulheres em Portugal situava-se em cerca de 13,5%. As mulheres, em média, ganham menos do que os homens para funções equivalentes. No setor tecnológico, essa diferença é ainda mais acentuada, chegando a ultrapassar os 15% em posições de topo e de elevado nível técnico. A igualdade salarial é uma promessa não cumprida e continua a ser um desafio à justiça no local de trabalho.

Progressão na Carreira: Barreiras Invisíveis

As mulheres enfrentam barreiras invisíveis na progressão das suas carreiras. Apenas 34% dos cargos de gestão em Portugal são ocupados por mulheres, e esse número cai drasticamente nas áreas de tecnologia. A falta de representação feminina em cargos de liderança perpetua a ausência de modelos a seguir, desencorajando outras mulheres a seguirem carreiras tecnológicas.

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Maternidade: O Preço a pagar

A maternidade, frequentemente celebrada como uma realização pessoal, torna-se um desafio na progressão profissional. Dados do INE revelam que as mulheres que se tornam mães enfrentam um atraso de 3 a 5 anos nas suas carreiras, acompanhado por uma redução nas oportunidades de formação e desenvolvimento. No setor tecnológico, onde tudo acontece muito rápido, esse atraso pode significar o fim de aspirações de liderança.

Educação e STEM: A Raiz do Problema

Embora as mulheres representem cerca de 55% dos estudantes do ensino superior em Portugal, apenas 28% optam por cursos relacionados com STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Esta disparidade reflete-se diretamente na baixa representação feminina no setor tecnológico.

Caminhos para a Igualdade:  A Urgência da Ação

Para enfrentar essas desigualdades, é essencial começar pela base: a educação. Desmistificar áreas como a programação e incluir iniciativas que incentivem as raparigas a explorar carreiras em STEM desde cedo são passos fundamentais. A inclusão de disciplinas tecnológicas no currículo escolar obrigatório, por exemplo, pode ajudar a combater o desequilíbrio. O papel do Estado é igualmente crucial. É necessário criar condições económicas mais atrativas para cursos com alta demanda de talento e implementar políticas que promovam um mercado de trabalho mais justo e competitivo. As empresas, por sua vez, devem adotar práticas de recrutamento e promoção transparentes, assegurando que o género não seja um fator determinante. Abraçar a diversidade (mudança de carreira ou de sector) e ajustar políticas de benefícios para apoiar a conciliação entre vida profissional e pessoal, como horários flexíveis e teletrabalho, são essenciais para que as mulheres não precisem escolher entre carreira e família.

A desigualdade de género na tecnologia não é apenas uma questão de justiça, mas uma urgência económica e social. Ignorar essa realidade é ignorar o futuro das nossas mães, mulheres, amigas, filhas e netas. É urgente adotar estratégias eficazes para superar essa disparidade.

Observador associa-se à comunidade PortugueseWomeninTech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade