A educação é uma das melhores proteções contra o risco económico. Durante o pico da pandemia, a taxa de desemprego aumentou de forma mais expressiva entre as pessoas menos qualificadas, logo com menor capacidade para se adaptarem às novas tecnologias ou a empregos que permitam o trabalho remoto. A pandemia ficou para trás, mas as profundas alterações no mercado de trabalho, que tornam obsoletas e redundantes determinadas profissões, continuam a ocorrer. Esta situação coloca sérios desafios aos países com baixos níveis de qualificações, como Portugal. Sem acesso ao mercado de trabalho, os portugueses em situação de desadequação profissional ficarão mais vulneráveis à pobreza e à exclusão social. É este o país que queremos?

O relatório “Education at a Glance 2023” da OCDE revela que a taxa de emprego da população portuguesa entre os 25 e os 64 anos cresce à medida que aumenta o nível de formação: a taxa de emprego da população com formação inferior ao ensino secundário é de 71%, aumentando para 84% na população com o ensino secundário e 91% com o ensino superior. Por outro lado, na população mais jovem, entre os 25 e os 34 anos, a taxa de desemprego cai para menos de metade quando comparamos a população com formação inferior ao ensino secundário (13,8%) com aquela que tem o ensino superior (6%).

Nas últimas duas décadas, Portugal deu um grande salto nas qualificações da população, graças ao investimento feito no ensino obrigatório e superior para os jovens alunos. Segundo a OCDE, em 2022, a percentagem da população entre os 25 e os 64 anos com o ensino superior era de 31%, cerca de 7pp abaixo da média da União Europeia (25) e 9pp abaixo da média da OCDE. No entanto, se considerarmos a população jovem, entre os 25-34 anos, a percentagem de população com ensino superior sobe para 44%, aproximando-se da média da União Europeia de 45% e da média da OCDE de 47%. A qualidade do ensino superior é hoje reconhecida internacionalmente, com várias universidades portuguesas a figurarem nos melhores rankings globais, contudo, o país foi perdendo o enfoque na requalificação da população menos jovem e menos qualificada, que constitui ainda a maior fatia da nossa força de trabalho, e que se encontra pouco preparada para enfrentar os desafios atuais e menos ainda os do futuro.

A aposta na requalificação de adultos é estratégica para o país pois permitirá oferecer melhores oportunidades de realização pessoal e profissional, melhores salários e melhor qualidade de vida a muitos portugueses. Permitirá também aumentar a produtividade das empresas e a geração de riqueza do país, condição essencial para Portugal conseguir acelerar o seu ritmo de crescimento e voltar ao top 15 europeu de riqueza per capita.

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Este não é um desafio exclusivo do Estado. As empresas e a iniciativa privada, enquanto agentes da sociedade, têm responsabilidades acrescidas, devendo contribuir para a mudança deste paradigma. Trabalhando ativamente com as entidades do ecossistema de ensino e formação profissional, as empresas podem e devem ajudar na identificação das funções profissionais críticas para o crescimento da economia, na criação de novos cursos e na oferta de estágios ou de formação em contexto de trabalho. 

Este é, aliás, o propósito do PRO_MOV, braço português do programa europeu “Reskilling 4 Employment”, que até 2025 pretende requalificar na Europa um milhão de pessoas em situação de desemprego ou em profissões de risco. Em 2021, a Associação Business Roundtable Portugal associou-se ao projeto, contando atualmente com 34 empresas, de 26 associados, ativamente envolvidas para dar escala e acelerar o PRO_MOV. Um objetivo ambicioso que junta já mais de 70 empresas, o IEFP – Instituto de Emprego e Formação Profissional e o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, numa clara demonstração de colaboração entre público e privado. Com sete laboratórios, em áreas tão diversas como vendas, indústria, empregos verdes, saúde, agricultura, business intelligence e digital e 12 percursos formativos, o PRO_MOV contabiliza já 230 formandos, tendo 120 já passado pela fase de formação em contexto de trabalho em empresas BRP.

Mas, cabe também à sociedade estar alerta para os problemas que o mercado de trabalho enfrenta e apoiar esta geração de portugueses com baixas qualificações a investirem numa vida melhor através da valorização e promoção deste tipo de iniciativas. Só com um nível elevado de participação e compromisso de todos será possível requalificar em escala, criar melhores condições para os portugueses e reduzir as diferenças que nos afastam cada vez mais dos nossos parceiros europeus.