O envelhecimento do corpo docente em Portugal é uma realidade há muito conhecida e, na mesma medida, ignorada. Ano após ano, milhares de estudantes ficam sem aulas em pelo menos uma disciplina durante quase todo o ano letivo. É um problema sem solução? Não. Será fácil? Consensual? A resposta continua negativa, mas nenhuma decisão política fácil fará bem ao país, e na área da educação, esta realidade é ainda mais gritante.
A medida levada a cabo pelo ministro, que possibilitou o regresso de professores reformados ao serviço, mostrou-se, como esperado, insuficiente e ineficiente. Apenas 79 professores reformados manifestaram a intenção de regressar à docência (Professores: 79 reformados manifestaram disponibilidade para voltar a dar aulas, Público, 17 de Outubro de 2024). Isto tem duas grandes justificações: em primeiro lugar, os professores estão cansados, muitos deles contando os minutos para se reformarem e não têm intenção de voltar; em segundo lugar, a falta de valorização da carreira docente. A profissão não é atraente nem para quem está, nem para quem deseja entrar. Quer a nível monetário, quer no que diz respeito à evolução da carreira, a docência perdeu o apelo, mas não deixou de ser desgastante, com cada vez mais burocracia, tarefas secundárias e menos recursos para cumprir a principal missão dos professores: ensinar.
Percebendo que a sua primeira medida não tinha funcionado, o ministro recorreu ao caminho que devia ter seguido desde o início: olhar para a classe mais qualificada de sempre e dar-lhe a oportunidade de mostrar o seu valor no país. E, mais uma vez, os jovens responderam positivamente. Foram colocados 174 professores com habilitação própria (174 professores sem profissionalização e “sem um único dia de serviço” vincularam no último concurso extraordinário, CNN, 5 de Dezembro de 2024). Este é o caminho que deveria ter sido traçado há vários anos: permitir que os jovens, ao concluírem o curso superior, possam ingressar diretamente no mercado de trabalho e no corpo docente nacional. No entanto, para que isso aconteça, a profissionalização em serviço deve ser estendida a todos os professores (do ensino público, cooperativo e privado), acompanhada de uma formação pedagógica que pode ser facilmente dada por colegas mais experientes na profissão.
O futuro do país não se apresenta promissor. Existem estudos que mostram que, em 2031, os alunos poderão ter falta de professores em todas as disciplinas. Portugal apresenta a classe docente mais envelhecida da União Europeia. Está na hora de olhar para a educação com a urgência que ela exige. Uma reforma estrutural no sistema educativo é condição necessária para que Portugal se mantenha competitivo no contexto europeu e mundial. Devemos considerar três pilares fundamentais para que isso aconteça: escola, professores e alunos.
Cada um deles com necessidades distintas: autonomia, rejuvenescimento e liberdade.
As escolas com maior autonomia são mais capazes de responder de forma célere e eficaz aos seus problemas, afinal, ninguém conhece melhor a sua realidade do que as pessoas que a enfrentam diariamente. A classe docente
deve ser rejuvenescida, é preciso olhar para os jovens, dar-lhes a oportunidade de aprender com quem tem mais experiência. Ter um mestrado em educação não garante que se seja um bom professor. A revitalização da classe docente é o único caminho para que o futuro de Portugal seja competitivo.
Os alunos devem ter liberdade para escolher o seu próprio caminho. Está na hora de acabar com as caixinhas em que colocamos os jovens, obrigando os a seguir um único percurso. Um aluno pode ser extremamente capaz em matemática e geografia e deve poder estudar ambas as áreas sem que isso comprometa o seu futuro.
O que está em jogo é o futuro do país, e se não tomarmos as decisões certas agora, seremos os arquitetos do nosso próprio declínio.