Sá Carneiro quando proferiu esta frase marcou não só a sua geração como todas aquelas que lhe seguiram, e nos dias que correm ela faz mais sentido do que nunca!

Antes de condenar, dar uma palavra ao senhor primeiro-ministro, uma vez que ele é apenas suspeito, sem provas que o tornem efetivamente culpado, mas como o povo também gosta de afirmar, “cada um se deita na cama que faz”. Isto para dizer que quando se nomeiam pessoas suspeitas de corrupção ou quando se seguram ministros que já não possuem legitimidade política para continuar, não se pode esperar que isso não venha a ter consequências!

Mas talvez para percebermos o que se passa no nosso país tenhamos de sair dos casos próprios e passar a analisar o todo, e temos que ter noção de que existem corruptos em todas as forças partidárias e quem negar isto não sabe nada ou não quer saber do país onde vive.

Portugal, segundo o índice de Perceção da Corrupção (dados de 2022, Transparency International) ocupava a 32ª posição no ranking, com 62 pontos em 100, igualando o nível de 2019 e 2021 no que toca ao combate da corrupção, sendo dito no mesmo relatório: “No relatório deste ano, a Transparency International assinala que a Estratégia Nacional Anticorrupção (ENAC), que foi lançada sem diretrizes ou plano de monitorização, resultando em fraca aplicação e implementação lenta de medidas dirigidas à prevenção da corrupção no setor público.”

Analisando estes dados há uma conclusão bastante prática: os casos aumentam, as suspeitas duplicam e nada se faz! Isto tem duas grandes consequências: sentido de impunidade pelos que cometem os atos e descrença e descredibilização nas instituições políticas nacionais.

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No sentido de impunidade, acho que é de fácil compreensão: quem mais prejudica o povo melhor está, levando à desistência, à emigração e ao desligar de momentos democráticos como as eleições. Só alguém que desconhece completamente o país onde vivemos é que nunca terá ouvido “não lhes acontece nada, fazem o que querem e ninguém lhes toca”. Se isto for assim temos em risco todos os níveis éticos da política. No segundo ponto, a descrença leva a que discursos políticos mais populistas, mas radicais (sejam eles de esquerda ou de direita) ganhem terreno às soluções mais tradicionais.

Neste momento, nem PSD nem PS tem credibilidade governativa. Um PS que está entre um ex-ministro que assina despachos pelo Whatsapp e se demite por não ter viabilidade política e um ministro que é a continuação das políticas “costistas” que levaram o país a ruína. O PSD que tem um líder que ainda tem contas a prestar à justiça e que não consegue ter o apoio do povo!

Que soluções restam? BE e PCP que têm culpa, juntamente com o PS, do estado em que o nosso país ficou ao longo dos últimos 8 anos? Livre e PAN que têm públicos demasiado específicos para serem solução para os problemas nacionais, sendo que um deles tem um deputado eleito porque o nosso sistema eleitoral promove a disparidade entre o valor que cada zona do país e de cada voto que os cidadãos comuns tem? Viramos para a direita? IL que perdeu o peso que ganhou com o seu antigo líder e que perde o seu tempo em lutas internas em vez de se preocupar com o futuro? CDS desaparecido, injustamente, diga-se, do adro do poder há dois anos? Ou o Chega que cavalga sobre estes casinhos que vão aparecendo? O Chega só existe devido aos casos de corrupção que os partidos de centro tem cometido nos últimos anos. Se culpam alguém pelo crescimento do Chega não olhem para André Ventura olhem para o PS e PSD!

Mas o futuro é assim tão negro, estaremos entre uma geringonça radical de esquerda ou um governo populista de direita?

Espero que não, mas o futuro não parece nada fácil.

Termino com apenas mais uma reflexão: o precedente que o senhor primeiro-ministro abriu pode ser bastante problemático, porque apresentar demissão quando se é apenas suspeito e não culpado, se isso fosse seguido por todos os presidentes de câmara e de junta de freguesia do nosso país, sejam eles de que partido forem, certamente teríamos não só eleições legislativas, mas também autárquicas. Diga-se que prefiro esta alternativa a ter potenciais corruptos à frente de organismos que devem representar o povo. Todos aqueles que tem contas com a justiça devem sair da política pelo bem da ética e do país. Basta relembrar o caso do autarca de Condeixa que abdica do seu lugar interno no partido, mas não abdica do seu lugar na câmara, demonstrando que o partido é mais importante que a população que o elegeu! Isto não pode acontecer, todos aqueles que estão na política não se podem esquecer que estão para servir o povo e não para se servir do povo. Quem se esquece disto não pode estar na política! Ética e política não são separáveis, porque só com a primeira é que a segunda pode ser bem executada!