Quando tinha 12 anos, Michael Seres foi diagnosticado com doença de Crohn. Aos 14 foi submetido à primeira cirurgia, a que se seguiriam outras 24 e que culminariam numa ileostomia, um procedimento que consiste na abertura de um orifício exterior na parede abdominal. Condenado a usar um saco de ostomia para recolher o seu conteúdo intestinal, Michael vivia frustrado pelos constrangimentos quotidianos da sua nova condição e por não existir uma maneira fácil de verificar se o saco estava cheio. Foi aí que Michael começou a pensar numa solução e descobriu um elemento da luva da Nintendo Wii que, se colocado na parte externa do saco, o poderia ajudar a medir o seu conteúdo. O produto evoluiu e Michael fez vários protótipos do que é hoje o Ostom-i Alert Sensor, um dispositivo que envia, via Bluetooth, as medições do saco para um smartphone. O que começou por ser uma solução para resolver o problema do Michael, é hoje um dispositivo com enorme valor social e económico, disponível em hospitais de todo o mundo e que pode facilitar o quotidiano e vida social dos mais de cinco milhões que sofrem desta condição.

Este tipo de inovação, em que os próprios utilizadores desenvolvem soluções inovadoras para resolverem os seus próprios problemas, está a revolucionar o nosso entendimento sobre a inovação. Tal facto está espelhado na plataforma online Patient Innovation, sediada na Católica Lisbon School of Business and Economics, na qual já colecionámos e curámos mais de 600 inovações, oriundas de uma comunidade global superior a 37.000 doentes ou cuidadores. Talvez por isso o Museu de Ciência de Londres tenha decidido dar visibilidade ao projeto, selecionando o Patient Innovation e alguns das suas “inovações de doentes” para a exposição europeia ‘Beyond the Lab: The DIY Science Revolution’ que está atualmente em Londres, Bona, Varsóvia e Ljubljana e irá percorrer 29 cidades europeias, incluindo Lisboa.

Para além da exposição, dois importantes livros publicados em 2016 sob a chancela da MIT Press, realçam esta nova realidade. Em Free Innovation, Eric von Hippel, considerado o “pai da inovação de utilizador”, discute as origens e implicações deste novo paradigma. O conhecido professor do MIT foi o primeiro a constatar que muitos dos produtos que usamos todos os dias foram concebidos por “utilizadores” que os desenvolveram com o intuito de os utilizar e não com o objectivo de os comercializar. A ideia de que os utilizadores inovam tem-se revelado da maior importância e tem ajudado inúmeras organizações a tornarem-se mais inovadoras. Também o livro Revolutionizing Innovation editado por Dietmar Harhoff (Max Planck) e Karim Lakhani (Harvard), apresenta modelos distribuídos de inovação que incluem comunidades e plataformas, incluindo o Patient Innovation, bem como a evidência empírica desta realidade.

Se gostava de perceber melhor a revolução silenciosa que está a acontecer na inovação, não deixe de ler estes livros e não perca o Patient Innovation numa das 29 cidades europeias que vai receber a exposição.

Senior Associate Dean for Faculty and Research, poliveira@ucp.pt

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