O debate da ADSE confronta o setor Privado da saúde versus o Público. A análise que faço é óbvia: o sector público de saúde não viverá sem o apoio do privado e vice-versa.

A discussão à volta da saúde pede o tempo que as pessoas não têm. Afinal, quando somos confrontados com notícias diárias sobre o sector da saúde, desde logo nos apercebemos que, quando não existe responsabilidade pública ou privada pelo bem-estar das comunidades, são as pessoas que pagam os atrasos, sendo colocada em risco a qualidade do serviço e o aumento das longas listas de espera. Falamos de algo que é crítico para o futuro de qualquer sociedade e que por isso deve merecer um outro tipo de sentido ético de todos.

Estudos recentes realizados na área da saúde em vários países apontam para três fatores que as pessoas mais valorizam quando recorrem a serviços de saúde:  o custo, a reputação e conveniência dos serviços de saúde. Hoje em dia, a facilidade e rapidez de acesso ao conjunto de informações pessoais, proporcionadas pelas novas tecnologias, particularmente as aplicações móveis, tangibilizam a nossa capacidade de decisão quando confrontados com a necessidade de recorrer a um serviço de saúde.

Torna-se importante lembrar:

  • O número de beneficiários da ADSE tem tido uma tendência de redução ao longo dos últimos anos, sobretudo desde 2014, data em que deixou de ser obrigatória a contribuição para este subsistema de saúde;
  • Dados oficiais de 2016 dão conta de cerca de 1,2 milhões de beneficiários, dos quais cerca de 850 mil são titulares no ativo e aposentados — os restantes são familiares de titulares, a quem se estendem os benefícios da ADSE;
  • Dados mais recentes, referentes a 2018, foram fornecidos pela própria ADSE, ao jornal Expresso. Segundo a entidade, dos cerca de 1,2 milhões de beneficiários do subsistema, 900 mil recorreram ao regime convencionado no ano passado.
  • Óscar Gaspar, presidente da APHP, adiantou ao Observador que os serviços da ADSE correspondem a apenas cerca de 18% do total da atividade dos hospitais privados, um valor que tem vindo a decrescer ao longo dos anos. Questionado sobre qual o peso que este subsistema chegou a ter no passado nos hospitais privados, a APHP respondeu apenas que há 15 anos correspondia a cerca de “33% da faturação dos hospitais privados”;
  • A maioria dos beneficiários da ADSE que recorre aos hospitais privados, fá-lo sobretudo para ser submetido a cirurgias, possivelmente para contornar os maiores tempos de espera no SNS. Dados mais detalhados da APHP sobre as valências que os hospitais privados prestam aos beneficiários da ADSE (excluem-se outros privados como centros de diagnóstico) indicam que, em 2015, as cirurgias correspondiam a 32% dos atos médicos praticados, sendo as mais comuns a cirurgia geral, a cirurgia ocular e a cirurgia do sistema músculo-esquelético, de acordo com dados divulgados pela própria ADSE.
  • O diferendo entre a ADSE e os hospitais privados, que levou alguns dos maiores grupos hospitalares ameaçaram abandonar estar parceria, tem por base um valor específico: 38,8 milhões de euros, que o organismo do Estado diz ter a receber por parte dos privados, e cujo pagamento, estes têm vindo a contestar. Em causa está a diferença de preços praticados por vários hospitais em diferente material médico.

Obviamente os vários envolvidos terão de discutir e chegar a um entendimento, até sobre o seu próprio papel num sistema de saúde que promova a eficiência dos recursos, traduzida na prevenção, da qualidade do atendimento ao utente, e do tratamento competente das pessoas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

E como será este tratamento competente das pessoas no meu entendimento? Será uma mistura do seu equilibro físico, mental e emocional. A felicidade é assim algo que deve focar os decisores na área da saúde sendo que o cliente interno é tão importante como o externo ainda mais nesta área.

É essencial assim perceber se as várias negociações irão representar um ganho de qualidade de atendimento, prazos de resposta e reembolso mais rápidos assim como uma experiência positiva para as pessoas que recorrem aos vários serviços de saúde. As partes estão “condenadas” a um entendimento e por isso é essencial que a parte mais importante, que são as pessoas, sejam o maior beneficiário.

Acho que esta é a questão central de uma política de saúde que deve ser eficiente, mas inclusiva e humana na sua essência, seja privada ou pública.

Diretor IPAM Porto; Co-autor do livro Health Care Marketing