No passado dia 31 de julho foi lançado um aviso do Fundo Ambiental para apoiar projetos que promovam a flexibilidade de rede e o armazenamento de energia no sistema elétrico nacional. O aviso tem uma dotação de 99,75 milhões de euros, com vista a instalar pelo menos 500 MW de capacidade de armazenamento de energia no sistema elétrico – sistemas de armazenamento, tanto ligados à rede de transporte, como ligados à rede de distribuição, até 2025, tal como previsto no Plano de Recuperação e Resiliência.

A data-limite foi inicialmente definida como dia 2 de setembro, sendo adiada para dia 9 de setembro. Apesar disso, e como defendido pela APREN, este prazo revelou-se francamente insuficiente tendo em conta a relevância do tema, bem como a sua complexidade.

Importa recordar que o armazenamento é uma peça crucial para a transição energética. É fundamental, ao possibilitar a integração de mais renováveis mantendo o sistema elétrico equilibrado, e, consequentemente, para o processo de descarbonização e eletrificação direta e indireta que Portugal quer liderar, de forma ímpar, na Europa e no mundo.

O Plano Nacional de Energia e Clima 2021-30 (PNEC), em revisão, após uma consulta pública que contou com uma elevada participação da sociedade civil, o que reflete a importância e a complexidade do tema, propõe passar dos atuais 4.6 GW de capacidade solar instalada para 20.8 GW e dos atuais 5.9 GW de eólica para 12.4 GW. Ora, não será possível quadruplicar a capacidade instalada de solar e duplicar a capacidade instalada de eólico sem que, paralelamente, seja equacionado um aumento significativo da capacidade de armazenamento de energia.

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Se ambicionamos alcançar uma potência renovável instalada de cerca de 40 GW devemos garantir um nível de armazenamento não inferior a 30% desse valor, o que está muito aquém face ao objetivo de armazenamento de 4,9 GW proposto no PNEC.

A bombagem, com uma potência instalada presentemente de 3,7 GW, que maximiza os aproveitamentos hidroelétricos, já funciona como uma gigante bateria em Portugal, canalizando a produção de eletricidade para as horas de maior consumo. Assim terá de continuar.

A bombagem hídrica é uma das tecnologias necessárias para o armazenamento num sistema elétrico 100% renovável. Assume-se como uma solução sustentável, mesmo em contexto de forte redução das disponibilidades hídricas: não consome um recurso, que é escasso, mas utiliza-o de forma circular para melhorar o funcionamento e segurança de um sistema cada vez mais renovável.

A instalação de outras tecnologias de armazenamento, como as baterias de lítio, o hidrogénio ou mesmo os combustíveis renováveis de origem não biológica, por exemplo, são alternativas igualmente fiáveis e são essenciais para o sucesso da transição energética.

A energia renovável potencial, armazenada nas barragens com sistemas de bombagem, continuará a ter um contributo muito relevante para o equilíbrio do sistema elétrico na integração e gestão da nova capacidade solar e eólica prevista, sob pena de aumentarmos a geração de eletricidade desperdiçada por incapacidade de integração da mesma no sistema, o que colocaria em causa o cumprimento do próprio PNEC.