A aposta no processo de eletrificação da mobilidade colocou de parte fontes de energia alternativas eficazes e sustentáveis, que podem ter um papel decisivo no processo da transição energética e que devem ser, por isso, consideradas complementares. O futuro da mobilidade é, certamente, mais do que elétrico, mas saberemos identificar as opções mais sustentáveis e impulsionar a sua adoção?
Durante os últimos anos, foi possível observar o investimento de diversas marcas no processo de eletrificação do setor automóvel. A Ford Europa, a Volvo e a Bentley anunciaram que vão ser 100% elétricas a partir de 2030, enquanto a Jaguar aponta para 2025, o mesmo ano em que a MINI vai lançar o seu último veículo com motor de combustão interna. Também a Volkswagen e a Audi, do mesmo grupo automóvel, já anunciaram o fim do desenvolvimento de novos motores a combustão, apenas adaptando os existentes a todas as necessidades regulamentares que possam surgir.
O desinvestimento no motor a combustão reforça a ideia de que o veículo elétrico é a única solução capaz de descarbonizar os transportes. No entanto, a sua implementação ainda é pouco significativa e altamente complexa, já que o processo de transição para uma mobilidade 100% elétrica é bastante dispendioso tanto para o consumidor, que tem de trocar de automóvel, como para os produtores, que precisam de adaptar a sua fábrica à produção de novos modelos. Existe ainda a questão do carregamento, pois um veículo elétrico só será verdadeiramente verde quando a energia que o carrega também o for.
Mas então, quais as alternativas?
O hidrogénio tem estado sob os holofotes com os projetos de elevado investimento para a produção de hidrogénio verde. Alguns chegam a defender que o futuro da mobilidade será 100% do hidrogénio. No entanto, também esta alternativa, apesar de promissora, apresenta algumas fragilidades que tornam difícil a sua implementação e obter resultados a curto-prazo, nomeadamente os custos e a complexidade do processo de transformação para estado líquido.
Já em desenvolvimento e crescimento está a indústria dos biocombustíveis de resíduos e outros avançados, alternativas que são uma fonte de energia totalmente viável e pronta para implementar no setor automóvel. Produzidos a partir de resíduos, como óleos alimentares usados, gorduras animais, resíduos de palha, molhos fora de prazo, borras de café, entre outros, a sua produção não só dá origem a fontes de energia capazes de diminuir a pegada carbónica da frota automóvel, como reduz a dependência energética de Portugal e promove a economia circular. Só em 2020, quando não existia meta obrigatória, o biocombustível avançado produzido a nível nacional permitiu evitar a emissão de 25 mil toneladas de CO2. A substituição direta de combustíveis fósseis por biocombustíveis de resíduos e outros avançados significa uma poupança de pelo menos 83% de emissões de gases de efeito de estufa em relação aos combustíveis fósseis. Ainda mais, os automóveis estão preparados para receber esta fonte de energia, não sendo necessária a aquisição de um veículo novo, como acontece no elétrico.
A meta que falta cumprir para a implementação desta fonte de energia é permitir que uma maior quantidade de biocombustíveis de resíduos e outros avançados seja incorporada nos atuais combustíveis fósseis disponibilizados ao consumidor. Desta forma, garantimos que os transportes se movem com recurso a uma fonte de energia não só sustentável para o ambiente, como para a economia do país.
Estão a ser dados passos importantes no caminho da descarbonização com o apoio desta alternativa energética. O elétrico e o hidrogénio não devem, contudo, sair da equação. É essencial que se desenvolva uma estratégia de complementaridade para a promoção de uma mobilidade sustentável, capaz de contribuir, já hoje, para o cumprimento das metas de descarbonização para o país.