O português João Mendes é geralmente tido como o primeiro ocidental que chegou à Península da Coreia, em 1604, quando aportou à Cidade de Tongyeong, no Sul, depois de um tufão ter destruído a frota em que estava integrado. Era um simples comerciante, à procura de oportunidades para o seu negócio. Hoje é um forte elo de ligação entre Portugal e República da Coreia, repetidamente lembrado por políticos e historiadores. Há menos de um ano foi inaugurada à beira do Tejo uma estátua da autoria de Vhils que celebra o acontecimento. Não importa a aventura ou causa que levou João Mendes àquelas remotas paragens. Interessa que ficou para sempre e é motivo de aproximação entre os dois Países e Povos. O comércio apagou-se e fica a História.

A 70km a Leste do sítio onde João Mendes pisou território coreano, fica Busan. Portugal tem possibilidade de chegar outra vez à Coreia, desta feita simbolicamente. Busan candidata-se à realização da Expo 2030. Os outros candidatos são Roma e Riad. Daqui a uns meses Portugal irá fazer a sua escolha no Bureau International des Expositions, votando numa das candidaturas. A opção por Busan teria carga simbólica. Mas não apenas.

Busan, com 3,5 milhões de habitantes é a segunda maior da República da Coreia. Quem a visita ou vê imagens reconhece uma metrópole dos tempos modernos, não obstante os registos históricos recuarem ao século IV. Concilia uma atividade económica vibrante em torno do seu porto, o sexto mais movimentado do Mundo, com monumentalidade, cultura, laser e cosmopolitismo. O projeto da Expo 2030 conjuga natureza e ambiente, mar, tecnologias e esperança no futuro.

Hoje, como há quatro séculos, o que parece mera questão de interesse económico pode ter implicações muito mais fundas. Para um europeu, o voto natural parecerá, talvez, o voto em Roma. Todavia, o voto naquela que é já uma expo universal permanente, visitada e venerada por milhões de turistas, pouco mais significado tem do que a confirmação rotineira de uma cumplicidade europeia. A escolha de Busan tem outro alcance.

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Por um lado, tal escolha homenageia a Cidade que durante a Guerra da Coreia, iniciada em 1950, constituiu a certa altura um dos últimos redutos da resistência das forças aliadas contra a onda invasora da Coreia do Norte. No Cemitério Memorial das Nações Unidas, único no Mundo, lá localizado, repousam 2300 lutadores pela liberdade, de onze Países, que lutaram pela liberdade sob a bandeira das Nações Unidas.

Por outro lado, a escolha de Busan tem um inequívoco significado político. A República da Coreia é hoje um bastião democrático numa zona do Globo periférica em relação à prática da democracia, da liberdade e do respeito pelos direitos humanos.  Num Mundo em acelerada transformação, em que a democracia e os direitos humanos perdem tração ou são colocados em dúvida, a República da Coreia fez – ou manteve – as suas próprias escolhas. Vê-se a si própria como um Global Pivotal State: um Estado que contribui para a liberdade global, para a paz e a prosperidade da comunidade internacional e que salvaguarda a ordem internacional baseada no Direito. Além da preservação das suas alianças tradicionais, designadamente com os EUA, a República da Coreia tem desenvolvido um esforço de aproximação com a Europa. Esse esforço de reflete-se, por exemplo, na grande similitude da visão em relação à guerra da Ucrânia. No que toca a Portugal, é demonstrado pelo gradual crescimento do investimento no nosso País, em várias áreas, destacando-se, ultimamente, o setor das energias renováveis, mas com tendência a aumentar e a diversificar-se.

A adoção da candidatura da República da Coreia e da Cidade de Busan com o apoio, entre outros, de Estados europeus, tem o inequívoco significado de reforço de uma coligação de Estados de dimensão universal que afirmam os valores da democracia e da liberdade.