Portugal conseguiu, recentemente, um feito histórico. Gonçalo Parreira e Miguel Lopes sagraram-se campeões mundiais de ginástica acrobática, um título que enche de orgulho qualquer nação. Contudo, a conquista passou quase despercebida no panorama mediático nacional, ofuscada pela omnipresença do futebol.

É inegável que o futebol ocupa um lugar especial no coração dos portugueses. No entanto, a obsessão nacional pela modalidade, alimentada pelos órgãos de comunicação social, cria uma cultura desportiva distorcida, onde apenas o futebol parece importar.

O contraste é gritante: enquanto um simples apuramento de uma equipa de futebol pode garantir uma receção no Palácio de Belém, a conquista do título mundial de ginástica acrobática mereceu apenas notas de rodapé na imprensa. Que mensagem transmitimos aos jovens atletas que se dedicam a outras modalidades? Que o seu esforço e talento não têm valor, a menos que chutem uma bola?

A ginástica acrobática, como tantos outros desportos, exige dedicação, disciplina e sacrifício. Os atletas enfrentam desafios e superam limites, muitas vezes com apoios residuais do Estado e das federações. Apesar disso, alcançam feitos notáveis, que deveriam ser celebrados e reconhecidos por todos.

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É lamentável que estes jovens campeões mundiais não tenham recebido o destaque que merecem. Fossem eles futebolistas, e a sua conquista estaria estampada nas capas dos jornais e nos principais telejornais. Esta disparidade revela uma cultura desportiva elitista e míope, que perpetua a ideia de que apenas o futebol é digno de atenção e reconhecimento.

É hora de repensarmos a nossa relação com o desporto. Precisamos de uma cultura desportiva mais inclusiva e plural, que valorize o talento e o esforço em todas as modalidades. Os órgãos de comunicação social têm um papel fundamental neste processo, ao darem visibilidade a outros desportos e aos seus atletas.

O Presidente da República, como figura máxima da nação, também tem a responsabilidade de reconhecer e celebrar os feitos de todos os atletas portugueses, independentemente da modalidade que pratiquem. Afinal, todos representam Portugal e contribuem para o engrandecimento do país.

Para além da questão da representatividade e do reconhecimento do mérito desportivo, urge também relembrar a importância do desporto para a saúde física e mental, como nos recorda a máxima “mente sã em corpo são”. Num momento em que assistimos a um aumento exponencial de adolescentes e jovens adultos com problemas de saúde mental, a promoção do desporto, através do desporto escolar, por exemplo, assume um papel crucial na prevenção e mitigação destes problemas. O desporto não só contribui para o bem-estar físico, como também promove o desenvolvimento de competências socioemocionais, como a resiliência, a disciplina, o trabalho em equipa e a autoestima, essenciais para uma vida saudável e equilibrada.

É este o país que queremos? Um país onde apenas o futebol é rei e os outros desportos são relegados ao esquecimento? Ou um país que valoriza o talento e o esforço em todas as suas formas, celebrando os seus campeões, independentemente da modalidade que pratiquem e que promove ativamente o desporto como ferramenta de desenvolvimento integral dos seus cidadãos? A escolha é nossa.