Em tempos em que a profissão de enfermagem enfrenta desafios significativos, torna-se confortante assistir ao preenchimento da quase totalidade de vagas no curso de Enfermagem das Escolas Superiores a Sul do país.

O entusiasmo dos candidatos ao curso de Enfermagem serve como um brilho de esperança num cenário desafiador e marcado pela adversidade.

A resiliência e o compromisso daqueles cuja decisão passa por seguir a profissão de Enfermagem, reconhecendo que não é a profissão com maior reconhecimento financeiro, nem com as melhores condições de trabalho, nem tão pouco, com o reconhecimento social do qual é merecedora, mas que pode ser assumido como uma prova do impacto profundo que os enfermeiros têm na vida das pessoas.

A vocação do Cuidar:  Uma Motivação Pessoal e Coletiva

A escolha por esta profissão, no meio de tantas outras, geralmente nasce de uma vocação profunda para cuidar e para a compaixão. Muitos candidatos são motivados pelo desejo de fazer a diferença na vida das pessoas, oferecendo apoio, alívio e conforto em momentos de necessidade.

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A vocação para cuidar pode também refletir os valores coletivos que a sociedade atribui à profissão de Enfermagem, onde se reconhece a contribuição para o bem comum, mesmo face a dificuldades. Em tempos de crise, como durante a pandemia de COVID-19, a importância dos enfermeiros foi amplamente destacada, através da sua dedicação no combate à doença, mesmo sob condições extremas e riscos pessoais, servindo como um poderoso testemunho do contributo crucial que desempenham na sociedade.

Os Desafios da Profissão e a Persistência dos Novos Candidatos

Atualmente, as condições para o exercício profissional dos enfermeiros são extremamente exigentes. Muitos enfrentam sobrecargas de trabalho, pelo incumprimento das dotações seguras, ou seja, a garantia de número suficiente de profissionais para oferecer cuidados de enfermagem seguros e com a qualidade. Mas também, a existência de ambientes hostis/violentos, a escassez de recursos materiais e horários de trabalho, que frequentemente incluem turnos excessivamente longos e ausência de tempo para descanso.

Todas as situações mencionadas, podem levar a estados de exaustão física, emocional e mental, aliado à constante desmotivação e insatisfação profissional, o que aumenta significativamente o risco de problemas de saúde, tanto físicos quanto mentais.

Estas dificuldades são ampliadas por questões como baixa remuneração, falta de reconhecimento adequado, tempos de integração inadequados, ausência de tempos exclusivos para formação e investigação, tornando a prática da enfermagem uma profissão exigente, mas essencial para o sistema de saúde.

A Importância de Apoiar e Valorizar os Novos Profissionais

A presença de novos alunos interessados na profissão da Enfermagem é um sinal promissor, indicando uma nova geração disposta a enfrentar os desafios do setor. Estes futuros enfermeiros podem ser potenciadores de revitalização e robustez da profissão, através do seu espírito de dedicação e compromisso que introduz novas perspetivas e soluções inovadoras para problemas antigos. Além disso, eles contribuem para garantir a continuidade dos cuidados de saúde, promovem a inovação e a evolução da prática de Enfermagem, ajudam a reduzir a pressão sobre os serviços de saúde e trabalham para melhorar as condições de trabalho.

Simultaneamente, contribuem significativamente para o apoio à recuperação e resiliência do Sistema de Saúde, uma vez, que permitem um investimento na capacidade de resposta do sistema, garantindo a presença de profissionais qualificados, o que é fundamental para a valorização da enfermagem.

O interesse contínuo nos Cursos Superiores de Enfermagem é refletido no preenchimento das vagas no Ensino Superior, o que permite o destaque da pertinência e do valor da profissão. Esse cenário apresenta um potencial considerável para impulsionar políticas de valorização e reconhecimento dos Enfermeiros, tanto em termos de condições de trabalho, quanto de remuneração.

Portanto, o preenchimento das vagas de Enfermagem este ano não é apenas uma vitória para as Instituições de Ensino Superior, mas um avanço crucial para a Enfermagem, para o Sistema de Saúde e a sociedade como um todo. No entanto, a sustentabilidade motivacional desses futuros profissionais deve ser baseada na garantia de suporte e reconhecimento adequados, incluindo oportunidades de desenvolvimento profissional, ambientes de trabalho saudáveis, remuneração justa e qualidade de vida. Estes fatores são essenciais não apenas para manter o entusiasmo e a dedicação dos novos enfermeiros, mas também de todos os outros, assegurando que continuem a contribuir de forma significativa para a saúde pública.

Além disso, é elementar que a sociedade como um todo reconheça e valorize o trabalho dos Enfermeiros, promovendo uma cultura de respeito e apreço pela sua contribuição inestimável. Esse reconhecimento é crucial para que a sociedade continue a beneficiar do compromisso e compaixão desses profissionais.

A valorização da profissão não só ajuda a atrair e reter talentos, mas também assegura que as qualidades dos cuidados oferecidos se mantenham de excelência, mantendo o alto padrão de cuidado que os enfermeiros portugueses têm consistentemente nos habituado.