A propósito do Dia Internacional das Lesões da Coluna Vertebral, que se assinala a 5 de setembro, importa abordar os avanços tecnológicos que a cirurgia da coluna tem vindo a registar nos últimos anos. Cada vez mais são utilizadas técnicas minimamente invasivas que permitem uma rápida recuperação do doente. É o exemplo da cirurgia endoscópica.

Vários avanços tecnológicos aplicados à cirurgia da coluna não têm conseguido ir para além de um interesse temporário da comunidade cirúrgica. Quando comparados com procedimentos já estabelecidos e com provas dadas é difícil causar uma mudança na prática clínica sem que exista um benefício evidente. Este não é o caso da cirurgia minimamente invasiva da coluna vertebral, que nos últimos anos se consolidou como uma forma eficaz e segura de tratamento, com uma limitação considerável do dano causado pelo acesso cirúrgico.

Atingindo os mesmos objetivos é possível limitar o tamanho da incisão, a destruição muscular e a remoção de estruturas ósseas da coluna. Estas vantagens traduzem-se em cirurgias com menos risco de infeções, as recuperações são mais rápidas com períodos de internamento mais curtos, menos medicação e regresso precoce ao trabalho.  A velocidade de recuperação é relevante para pessoas com uma vida ativa, além de diminuir o risco de complicações que é muito importante para doentes mais fragilizados.

Mas em que consiste esta cirurgia e em que difere de uma cirurgia aberta? Estas cirurgias minimamente invasivas são efetuadas através de pequenas incisões na pele – inferior a um centímetro – nas quais são colocados uns afastadores em forma de tubo que separam as fibras musculares e criam um canal de trabalho que pode ser ampliado e iluminado através de um microscópio cirúrgico.

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A endoscopia aplicada à cirurgia de coluna surge como a forma mais extrema de aplicar estes princípios. A cirurgia é realizada com um endoscópio, que é colocado através de um tubo com diâmetro muito reduzido, cerca de 6 milímetros. É através de um canal no endoscópio que os instrumentos cirúrgicos são inseridos, sendo que a utilização de uma câmara na ponta do endoscópio permite uma visualização ampliada e próxima das estruturas anatómicas num ecrã.

Podem ser efetuadas abordagens pelas costas (via posterior) e em alguns casos por uma via lateral – e este acesso perpendicular à coluna consegue alcançar o alvo cirúrgico sem nenhum dano nos músculos lombares.

A endoscopia da coluna já existe há décadas, mas contou com avanços recentes com a melhoria dos instrumentos e da qualidade de imagem. Por isso mesmo está cada vez mais difundida e é cada vez mais utilizada em vários centros pelo mundo, com bons resultados descritos em numerosos artigos científicos. Isto é notório no tratamento de doenças degenerativas da coluna lombar, provocadas pelo desgaste das articulações entre os ossos que compõem a coluna. Sob a forma de hérnias discais ou estenoses do canal vertebral, a compressão de raízes nervosas na coluna lombar é sentida nas pernas, com sintomas como dor, alterações da sensibilidade, diminuição da força e dificuldade a caminhar. Nestes casos o objetivo do tratamento cirúrgico é a remoção da causa da compressão e assim aliviar os sintomas. Em casos que exigem soluções mais complexas, a cirurgia endoscópica não é aconselhável.

A cirurgia endoscópica da coluna vertebral é uma técnica exigente em que a experiência acumulada do cirurgião é muito importante. O potencial benefício para os doentes justifica que aumente o interesse na sua utilização, levando no futuro a uma maior disponibilização da técnica. Os avanços tecnológicos estão cada vez mais ao serviço das pessoas, que merecem tratamentos de excelência.