Estes 300 não são os heróis espartanos liderados pelo seu rei Leónidas, que enfrentaram o exército de Xerxes em Termópilas. São os 300 mil milhões de euros que foram acordados na COP26 para financiar os países em vias de desenvolvimento, com menos recursos financeiros destinados às necessárias medidas para a transição energética. Fiquei sem saber se foi a fundo perdido, através do qual quase todos os países do mundo desenvolvido pretendem ajudar esses países, ou se na realidade é um fundo criado para empréstimos, do qual desconheço a taxa de juro. Ou seja, a pretexto da transição energética e da diminuição dos gases com efeito de estufa, dá-me ideia que esses países já com escassos recursos financeiros, parece que ficarão mais endividados.
É preocupante o que consta no portal da ONU: “As instituições financeiras internacionais também deverão desempenhar o seu papel e trabalhar no sentido de conseguirem que biliões de financiamento do setor privado e público sejam investidos em projetos que garantam a neutralidade carbónica”. Não conheço nenhuma instituição financeira nem nenhum investidor que trabalhe de graça e que se preste a investimentos sem retorno de lucro. O portal da Dialogue Earth refere o seguinte: Quase três quartos (71%) do financiamento climático fornecido pelos países desenvolvidos vieram na forma de empréstimos pagos por bancos multilaterais de desenvolvimento (BMD).
Ora um dos três pilares do Acordo de Paris é o financiamento e a forma de o canalizar para os países em vias de desenvolvimento, sem que haja necessariamente lucro. Ora, a forma de financiamento seria por canalização de fundos públicos e privados pelos BDM. E é quase de certeza por estes motivos que a solução do problema fica num impasse. O financiamento através de dinheiros públicos depende dos orçamentos de Estado dos vários países e os financiamentos do setor privado muito provavelmente dependem da boa vontade e das disponibilidades deste setor.
Por outro lado, um dos objetivos da COP26 para alcançar o tão almejado limite médio do aumento de temperatura, é “acelerar a transição para veículos movidos a eletricidade”. Começa a enfadar este fanatismo com a mobilidade elétrica quando sobre o tema da mobilidade, a técnica tem tantas soluções alternativas para desenvolver e oferecer. É um objetivo acéfalo pois o fim dos motores de combustão interna – note-se que a combustão não tem que ser forçosamente de combustíveis à base de produtos fósseis naturais – e a imposição da mobilidade só elétrica, sem qualquer preocupação com as necessidades do tipo de mobilidade da população industrial, comercial e doméstica e com soluções alternativas, vai ter como consequência o encerramento de fábricas, conduzir a despedimentos de milhares de trabalhadores, a tensões sociais e à perda de mercados onde os motores de combustão interna ainda vão ser necessários por muito tempo. Mercados estes, já na mira da China que apresentou recentemente o motor a gasóleo com o maior rendimento de sempre. A Europa podia muito bem continuar a desenvolver e produzir motores a combustão interna adaptados para os mercados que deles necessitem. Em caso de dúvida, quem tenha carro elétrico, experimente ir do sul da Europa a Marraquexe ou Tombuctu. E embora a Noruega tenha quase todo o seu parque automóvel baseado na solução elétrica, por opção dos cidadãos, por outro lado paga boas pensões com os lucros da venda de petróleo.
E qual a origem da eletricidade para os postos de recarga? Vem de Centrais a Carvão, a Gás? Ou consegue-se que esta disponibilização de energia elétrica com energias renováveis é suficiente, ainda que tenha de satisfazer também as necessidades industriais e domésticas? E como está avaliado o impacto ambiental das indústrias de fabrico de equipamentos para as energias renováveis? E como está avaliado o impacto ambiental dos equipamentos para energias renováveis desde a extração e obtenção de matéria prima, do seu fabrico, da sua instalação e manutenção, do impacto em ecossistemas onde se vão localizar e da sua reciclagem em fim de vida útil? Entre tantos outros, só este objetivo deixa mais perguntas do que respostas. Considerando as metas da “União” Europeia teremos que ter Fé na Ciência para que todas as questões técnicas se resolvam rapidamente.
Efetivamente, este evento bateu com força no meu íntimo e espoletou algumas reflexões. Relativizemos as coisas: qual a fortuna dos homens mais ricos do mundo? Em outubro de 2024: 1 – Elon Musk, 54 anos, com fortuna avaliada em 269 mil milhões de dólares; 2 – Larry Ellison, 80 anos, com um património de 208 mil milhões de dólares, cofundador da Oracle; 3 – Jeff Bezos, 60 anos, com uma fortuna de 202 mil milhões de dólares; 4 – Mark Zuckerberg, 40 anos. Fundador e CEO da Meta, tem um património de 198 mil milhões de dólares. Ou seja, se estes quatro homens doassem cada um, 80 a 100 mil milhões dólares teriam reunido mais do que todos países que acordaram em “abrir os cordões à bolsa” na COP26 e ainda ficariam classificados a meio a tabela dos 10 mais ricos do mundo. O que ainda lhes sobra dinheiro para pelo menos uma bica e um pastel de nata … E deviam ter doado, porque são eles próprios poluidores em consequência da sua atividade económica e financeira. Portanto, em termos comparativos, os 300 (mil milhões) parecem ser uma verba pífia.
Do meu ponto de vista, foi uma conferência que começou com um acrónimo infeliz que significa conferência das partes (conference of parties), o que não evoca nada do tema que nos preocupa: transições energéticas para limitar o aquecimento global médio abaixo de 1,5 °C e efeitos no planeta. Divórcio? Custódia de filhos? Partilhas de uma herança? A conferência começou mal com um nome tão triste como o Tratado de Maastricht que já data de 7 de fevereiro de 1992. Lido rapidamente em português soa a “mais triste”. O leitor decidirá se a leitura em português é a mais correta e representativa deste tratado e dos objetivos que alcançou.
Nesta conferência COP26 e com interesses económicos tão divergentes, já receava que qualquer acordo que daí resultasse teria muita probabilidade de se assemelhar com o Pacto Nazi-Soviético ou Pacto Hitler-Stalin, onde ambas as “partes” se comprometiam em não entrar em conflito durante dez anos. Nesta conferência COP26, o confronto entre as “partes” teve um âmbito muito mais abrangente, pois ainda que não seja um conflito militar, está em causa a sobrevivência da civilização, senão da espécie humana, e da fauna e da flora, enfim, a nossa existência como a conhecemos com tudo o que nos rodeia, pelo que consequentemente a responsabilidade do que se acordou é muito maior. Se em verdade os ambientalistas não fossem os grandes percursores do desenvolvimento industrial para obtenção de uma tecnologia menos poluente, ainda hoje estaríamos despreocupados com as alterações climáticas relacionadas com a atividade humana e ainda teríamos por exemplo viaturas a gasolina altamente poluentes. Por outro lado, devido à natureza humana também parece que têm sido involuntariamente os grandes criadores de oportunidades de negócio. Que felicidade para a alta finança, sempre pronta para emprestar dinheiro para investimentos, neste caso investimentos em defesa do planeta e da nossa saúde, para ir recebendo o retorno.
A espécie humana é um mistério que se distingue das restantes espécies. Se para um peixe é indiferente saber como é que os pássaros voam, a espécie humana necessita por natureza, de compreender, investigar e criar. Infelizmente tudo o que faz de bom vem a tiracolo com um preço a pagar. Dominou-se o átomo para criação de energia nuclear, mas primeiramente com objetivos militares e produtora de resíduos altamente poluentes. E de tantos exemplos, cito apenas mais dois: a internet que foi criada por Tim Berners-Lee para que os investigadores das diversas universidades tivessem um sistema de comunicação compatível com todos os seus sistemas informáticos e que de seguida se popularizou, logo foi aproveitada para fins militares e criminosos, ou seja, a guerra cibernética e a pirataria informática. Os avanços da Ciência em virologia e bacteriologia para tratamento de doenças consideradas incuráveis, imediatamente foi recurso para mais uma especialidade militar, isto é, a guerra biológica. Esta espécie humana (porque podem ter existido outras face à idade do planeta) já conseguiu ir à Lua e enviar máquinas para Marte e mais além (o reverso da medalha poderá ser que em breve teremos latas de Coca-Cola e plásticos a proliferar em terrenos lunares, já que na órbita da Terra já se acumulam sucatas de experiências espaciais.
A humanidade também é arrogante e por isso se perde em discussões sobre a sua responsabilidade nas alterações climáticas. Julgo que sim e não.
Sim, e para quem tenha dúvidas, quando em 2020 a atividade económica e industrial abrandou devido à pandemia COVID, de imediato a Natureza ocupou o seu espaço. Em Lisboa, os golfinhos voltaram ao Tejo, nas praias da Caparica a água do mar parecia veludo e diminuiu a nuvem de poluição (a que me agonia quando já se avista antes de Alverca, quando regresso das minhas férias na serra e me dá logo vontade de voltar para trás).
Não, porque a Terra é um planeta vivo e dinâmico devido a fatores intrínsecos que lhe são característicos e a fatores externos resultantes da astrofísica e terá sempre alterações climáticas. Uma pequena variação na atividade solar (mínimo de Maunder) ou uma pequena variação na interação gravítica interplanetária e eis que o nosso planeta reage violentamente. O deserto do Saara já foi uma zona verdejante e com abundante população em fauna e flora. Os viquingues desenvolveram colonatos na Groenlândia nos finais do século X (altura em que lhe chamaram a Terra Verde – de GrØn (Verde em Dinamarquês) e Land (Terra) devido à sua vegetação e meios de subsistência. Abandonaram este território devido às alterações climáticas, por volta do século XV, devido ao aparecimento do gelo e da subida das águas do mar entre outros fatores. A Europa estava nessa altura eventualmente no primeiro século da Pequena Idade do Gelo, que durou desde cerca dos anos 1300 até aos anos 1800. Pelo meio, um terço da população da Europa foi dizimada pela Peste Negra A terra era infértil, as populações passavam fome e como se sabe, quando o povo tem fome, quase sempre resultam conflitos sociais. A Revolução Francesa pode não estar dissociada deste fenómeno. Mas estas alterações não ocorreram só na Europa: O Tamisa (excluo o Reino Unido propositadamente, já que se “brexitaram”) congelou pela primeira vez em 1607 e em 1780 podia ir-se a pé da ilha de Manhattan à de Staten Island, com conexões comerciais bloqueadas por via marítima.
Faço notar que não há consenso científico nem quanto a datas certas nem quanto a causas certas. A revista Science Advances publicou um artigo (ref: François Lapointe, pesquisador de pós-doutorado e conferencista em geociências na Universidade de Massachusetts Amherst) no qual refere ainda sem certezas, que a Pequena Idade do Gelo terá sido desencadeada num espaço de décadas, por um episódio de calor incomum. Importa ter em conta que durou por um período de aproximadamente 600 anos, o que é uma ínfima fração de tempo quando comparada com a idade da Terra, que como é sabido, passou por várias alterações climáticas, mas que abrange uma boa parte da História da Europa. Em 2020, na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, e após um trabalho científico de reconstrução de cerca de 3000 anos das temperaturas da superfície do mar do Atlântico Norte (ref: Lapointe e Bradley), foi reportada uma transferência anormalmente forte de água quente para o norte no final dos anos 1300, que atingiu o pico por volta de 1380. Como resultado, as águas ao sul da Groenlândia e dos mares nórdicos tornaram-se muito mais quentes que o normal: intensificação da AMOC (Atlantic Meridional Overturning Circulation): transferência de água quente dos trópicos para o Ártico. Normalmente, a água quente dos trópicos flui para o norte ao longo da costa setentrional da Europa e, quando atinge latitudes mais altas e encontra as águas árticas mais frias, perde calor e torna-se mais densa, fazendo com que esta água afunde no oceano. Essa formação de águas profundas então flui para o sul ao longo da costa da América do Norte e continua a circular ao redor do mundo. Mas no final do século XIII, a AMOC fortaleceu-se consideravelmente, o que significava que muito mais água quente do que o normal se estava a movimentar para o Norte. Consequentemente, causava uma rápida perda de gelo ártico. Ao longo de algumas décadas no final dos anos 1300 e 1400, foram despejadas grandes quantidades de gelo no Atlântico Norte. Este evento não só arrefeceu as águas do Atlântico Norte, mas também diluiu a sua salinidade e colapsou a AMOC. Foi esse colapso que desencadeou um arrefecimento substancial e uma situação persistente de altas pressões na Groenlândia. Eventualmente, terão sido isótopos de radiocarbono encontrados preservados nas árvores, que explicam uma atividade solar excecionalmente alta e capaz de influenciar a “normalidade”. Presentemente a situação de altas pressões na Gronelândia voltou a persistir e estão em curso alguns dos fenómenos acima relatados.
Mas importa ter em conta que aquelas alterações climáticas aconteceram antes da Revolução Industrial. Por este motivo, alguns investigadores acreditam que o atual aquecimento do planeta corresponde a um período de recuperação após a Pequena Idade do Gelo e que a atividade humana não é um fator decisivo para a atual tendência de aumento da temperatura global. Porém, esta tese tem oposição dos ambientalistas em razão da grande proporção da elevação da temperatura nas recentes décadas após a Revolução Industrial. No contexto da discussão da primeira tese e do seu contrário, parece-me que ambos têm razão pelos motivos acima expostos. Sem intervenção humana, existiriam sempre alterações climáticas, estas ou outras. Com intervenção humana, teremos a intensificação dessas alterações e/ou outras. Em qualquer caso ameaçadoras.
Preocupados com os gases com efeito de estufa, convém não esquecer a contaminação dos solos e os milhões de toneladas de plásticos vertidas para os oceanos. Além das toneladas de lixo não reciclável que são enviadas por via marítima em contentores, para países remotos. Só a indústria da roupa é uma das mais poluentes e pela natureza das suas fibras, a maioria feitas de aproximadamente 54% de poliéster, e nada acontece para inverter esta tendência, da qual o principal responsável é o consumismo que os grandes grupos empresariais do setor incentivam (*). De acordo com a Agência Europeia do Ambiente, cada europeu produziu em 2020, 16 kg de resíduos têxteis dos quais apenas pouco mais de um quarto desta quantidade (4,4 kg) terá sido recolhido separadamente para reutilização e reciclagem, mas o resto acabou em resíduos domésticos mistos. De todos os resíduos têxteis, segundo a estimativa, 82% vieram dos consumidores e o restante foram resíduos da indústria transformadora ou dos têxteis que nunca chegaram a ser vendidos. Uma diretiva europeia determina que a partir de 2025 os Estados-Membros da União Europeia devem estabelecer sistemas de recolha separada para têxteis usados (“tarde piaste” como dizia o outro).
E apesar das etiquetas de que as embalagens são recicláveis, muitas na realidade não o são totalmente ou parcialmente. Uma lata de chocolate para leite (*) é feita em material reciclável, mas a sua tampa plástica não o é. A reciclagem de muitos materiais industriais é altamente poluente e gostaria de saber se já foram avaliados os os impactos ambientais das indústrias dedicadas ao fabrico de equipamentos que aproveitam a energia eólica e solar para a converter em energia elétrica, e que se assinalaram acima. Este parece ser um assunto que se esconde no armário com outros “esqueletos”. Se há coisa que me faz sair do sério é que os políticos pensem que nós, o Povo, somos parvos, quando na realidade é o Povo que é o guardião da sabedoria acumulada durante séculos. É evidente que a presente postura ambientalista dos nossos líderes políticos, se revela totalmente hipócrita pois “varre o lixo para baixo do tapete”. Todas as iniciativas encetadas: COPs, Acordos, etc., estão em contraponto com o que se denuncia no documentário: [(*) – “A Conspiração Consumista” (Netflix)] e com o comportamento real dos interesses económicos e financeiros.
Apesar das metas definidas por Bruxelas, o planeta dá sinais de que o jogo já terminou, bem como o prolongamento e o árbitro já apitou. E para nosso mal, o planeta está a ganhar nos penaltis, demonstrando a sua força todo-poderosa e a insignificância dos humanos e dos seus esforços para o contrariar.
Ainda nos meus tempos de estudante de engenharia, um dos meus professores dizia: “é preciso evitar fazer com os oceanos o que os nossos antepassados fizeram com os rios”. Mal sabia ele que alguns anos depois foi encontrado um saco de plástico no fundo da Fossa das Marianas (a 11 km de profundidade). Em breve, os gases com efeito de estufa irão aquecer o planeta, os terrenos estarão contaminados e os oceanos envenenados. Pergunto, que alimentação poderá ter a população num futuro próximo. E não há sinais deste cenário se inverter. Analisemos a evolução da população mundial: desde o ano zero até 1800, a população mundial manteve-se abaixo dos mil milhões. Nos anos 1800, foi quando a população mundial ultrapassou os mil milhões. Em 1950 era de 2,5 mil milhões de pessoas. Em 2000 já era de aproximadamente 6 mil milhões e atualmente contam-se 8 mil milhões de humanos no planeta. Ou seja, em 220 anos a população multiplicou-se oito vezes, em oposição a uma população estável abaixo dos mil milhões durante 1800 anos. De acordo com a ONU, apenas 25% da população atual vive em países considerados não subdesenvolvidos, isto é, 2 mil milhões. E sociedades mais ricas e consumistas produzem mais resíduos, ainda por cima muitos deles não recicláveis. É este o mercado dos grandes grupos económicos e industriais e para o qual se prevê mais atividade económica e industrial e mais necessidades energéticas, nomeadamente energia elétrica. E qual a origem desta energia? Pois para já, a solução prevista é a nuclear de fusão, mas de implementação difícil, face ao antagonismo das populações que os políticos parecem recear. Culpa deles porque marginalizam os cidadãos do problema por não fornecerem os esclarecimentos necessários: que vantagens existem e quais os problemas a resolver. Portanto, numa época em que atualmente as necessidades energéticas mundiais dependem em 80% dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás), não me parece que estamos no bom caminho e que é de temer ter que dizer adeus às metas definidas pela “União” Europeia. Ficam bem no papel, mas já se sabe que não vão ser cumpridas e, entretanto, o planeta, que não depende de burocracias, vai-se modificando e segue a sua natureza, com as suas próprias alterações climáticas, algumas destas intensificadas/diversificadas ou não pelo Homem. A solução seria retirar os políticos e burocratas do problema e deixarem os técnicos trabalhar e qualquer produto produzido industrialmente deveria ser certificado com a identificação da origem das matérias-primas, modo de fabrico, utilização e fim de vida, e como pertencente a uma economia circular, certificação essa sem a qual não poderia ser comercializado.
E como enquadrar Portugal neste cenário? Pois eu como cidadão participativo e preocupado, procurei averiguar no Ministério do Ambiente qual era a fonte principal de energia elétrica que se previa no futuro para Portugal. Pareceu-me uma pergunta simples para ter uma resposta simples. Porém, a Agência Portuguesa do Ambiente “brindou-me” com o envio do Plano Nacional de Energia e Clima 2021-2030 (PNEC 2030) – Atualização/Revisão com a menção “em consulta pública”. Ora, com este “brinde” evidenciou-se novamente o “tique” de julgar os cidadãos de parvos: o documento tem 254 páginas (toma lá e lê) e certamente muito acessível a todos os cidadãos que foram avisados a nível nacional que este Plano estava em consulta pública. Toda a gente sabe que quando não se quer que um documento seja lido, é fazer o documento extenso. Se for para que seja tomada uma decisão rápida, quando muito basta uma redigir uma folha A4 com questões objetivas e claras. É assim quando se ensina: os conceitos são transmitidos de maneira que toda a gente perceba e consiga explicar por suas próprias palavras a outros. Com o “chapéu-de-chuva” de que esteve em consulta pública, o Plano foi aprovado no Parlamento e enviado para Bruxelas que já estava impaciente com a demora (quem quisesse falar, tivesse falado). Acontece e felizmente, que existem peritos na especialidade atentos, e que se opuseram a este Plano (CNN 23 de setembro de 2024: Observatório da Indústria e Energia da SEDES exige a suspensão imediata do Plano Nacional de Energia e Clima). Vale a pena ler este artigo. E também o relatório daquele Observatório que tem apenas 20 páginas e assinado por Mira Amaral, coordenador do Observatório da Indústria, Inovação e Energia da SEDES (OBSIIE) e Clemente Pedro Nunes, Coordenador do Núcleo de Energia, Ambiente, Clima e Economia Circular do OBSIIE. Mas esta é uma maneira de proceder muito tradicional nos nossos políticos: consultam-se os cidadãos, estes contestam, e os nossos políticos decidem o que lhes apetece, haja oposição dos cidadãos ou não, (mal) habituados que estão à mansidão do povo português. Afinal o que estão a fazer os nossos representantes eleitos a fazer no Parlamento? No fundo Portugal enquadra-se numa pequena história ilustrativa: imagine-se um grande rio com milhares de quilómetros, para onde é despejada toda a porcaria industrial e doméstica. Na foz do rio, um município resolve fazer uma Estação de Tratamento de Águas Residuais (esgotos) com o dinheiro dos contribuintes e/ou com recurso a financiamento externo privado. Imagine-se o efeito que essa água tratada vai ter no índice de poluição do rio. Ora quando a China tem 120 centrais a carvão para produção de energia elétrica e este ano já licenciou mais quatro, apesar de ter ratificado o Acordo de Paris, imagine-se a importância da contribuição de Portugal (0,12% das emissões totais de CO2) para o limite do aquecimento global. Parece-me bem que Portugal tenha uma postura de combate á poluição do ar, das terras e dos oceanos. Mas proporcional aos seus recursos financeiros e com impacto percetível, para que não sejamos “os totós do clima” (cidadãos “totós” como consta no artigo da CNN, só se for à força ou sub-repticiamente).
Se não for por incompetência, pode ocorrer o risco de tendência para suspeitar que a maneira como está a ser tratada esta questão das transições energéticas e das alterações climáticas (não exclusivamente a nível nacional), é cúmplice de um eventual grande negócio do “Combate às Alterações Climáticas”. Se assim for, novamente é de referir: a alta finança e os investidores agradecem. O dinheiro está disponível e mais parece que é para ser emprestado. Só falta saber quem paga.