Os números de novos infectados da Covid-19 em Portugal pioraram na última semana, mas os números de internados e dos internados em cuidados intensivos mantiveram uma tendência de redução, enquanto que os números de recuperados continuam a subir a um ritmo constante. Este crescimento não era o espectável, pois o que seria expectável era que o número de recuperados aumentasse a um ritmo semelhante ao que o número de infectados cresceu no início do surto, em valor absoluto, mas ainda assim é positivo.

Estes gráficos estão reproduzidos em resolução completa no fim do documento

Portugal promoveu na primeira semana de Maio uma redução do confinamento e aliviou algumas das medidas, aliás como outros países da União Europeia estão a fazer. Será que o desconfinamento efectuado estará a provocar este aumento do número de infectados? Será que isto tem a ver com o 1º de Maio? A resposta é clara e simples: directamente, não! Indirectamente, talvez, por efeito psicológico.

Como referido diversas vezes, os novos casos de infectados são conhecidos nos números oficiais com, pelo menos, 10 dias de atraso em relação à infecção. São necessários em média 7 dias para que o desenvolvimento de sintomas se torne notório, depois efectuam-se o primeiro teste e o teste de confirmação e passam, por isso, mais 3 dias, pelo menos, para que os resultados se tornem oficiais.

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Estamos por isso, agora a observar os resultados do que se passou na semana do 25 de Abril em que, como todos sabemos, houve nessa semana uma descontracção comportamental crescente da classe política e, por isso, da população em geral, que foi induzida numa falsa sensação de segurança, de que o pior já teria passado.

As pessoas começaram a sair à rua, muitas delas sem tomarem as precauções que hoje são obrigatórias e, com isso, o distanciamento social baixou, o número de contactos subiu, isto tudo ainda sem as pessoas usarem máscaras em espaços públicos e vemos, por isso, agora surgir estes novos casos.

Os efeitos do relaxamento induzido psicologicamente pela classe política durante a semana do 25 de Abril fizeram-se sentir nos novos casos diários, sobretudo na zona norte de Lisboa e no Distrito de Braga.

Já sabemos que em Ovar deu-se o acaso de, perante uma situação como esta, termos tido um Presidente de Câmara que actuou à altura do desafio, exigindo o teste massivo da população e o rastreio de contactos detalhado, mas e na Azambuja, no Montijo, em Barcelos e em Vila Verde, será que teremos uma situação semelhante?

Com esta nova onda de casos, que acontece ainda no espaço temporal do que poderíamos considerar a primeira vaga, temos motivos para estarmos preocupados, pois estamos a aproximar-nos de uma linha vermelha que não queremos ultrapassar.

Só lá para meados da próxima semana (entre o dia 11 e o dia 15 de Maio) é que se começarão a fazer sentir os efeitos do actual desconfinamento nos números oficiais, já com as novas regras. Em particular, teremos oportunidade de verificar o impacto do fim-de-semana do 1º de Maio nos números e, se se verificar que antes do desconfinamento já tínhamos perdido o controlo da situação, o Governo vai sentir-se tentado a dar alguns passos atrás. Não será demais repetirmos, a quem ainda não compreendeu, que o vírus não pára aos feriados, nem aos fins-de-semana.

Esta semana foi paradigmática do que pode vir a acontecer daqui para a frente. Continuamos com um problema de estratégia e a navegação continua a ser feita à vista sem grande planeamento ou estratégia.

Não temos, actualmente, um Gabinete de Pilotagem, não de índole político, que permitiria informar devidamente e de forma coordenada a população e actuar sobre as situações de forma localizada, como deveria ser feito, de forma pró-ativa e/ou reativa.

Este Gabinete, ao ter uma comunicação pública sobre a situação, iria prestar um serviço muito mais importante ao país, ajudando a pilotar a estratégia portuguesa no combate à Covid-19, do que as “Sessões de Apresentação sobre a Situação Epidemiológica da Covid-19 em Portugal” organizadas pela DGS, em ambiente fechado, e que não ajudam a estabelecer um clima de confiança para que a economia recupere.

Como já referido no artigo da semana passada, temos de ter informação de qualidade e localizada, para informar devidamente  cada população local e saber como se deve actuar nessa zona, de forma a evitar que  cada um actue à sua maneira.

A acção localizada permite controlar os surtos que surgem como os verificados esta semana, sem necessidade de o Governo dar passos atrás. É o princípio dos testes e rastreio localizado de todos os surtos existentes, por zonas: casa, prédio, rua, quarteirão, freguesia, cidade, concelho, país e área do globo.

Como referido antes, isto é fundamental para transmitir segurança e garantia de tranquilidade às pessoas que têm de começar a sair, estudar ou trabalhar.

É por isso fundamental termos em Portugal um “Gabinete de Pilotagem Covid-19″ que teria de ter, como objectivo principal, fazer o rastreio detalhado de todos os contactos de cada um dos surtos que entretanto surjam, e manter as pessoas suspeitas em monitorização, fazendo com que todos os que constem do círculo de contactos sejam testados, pois é preciso tratar todos os caso de Covid-19 como pequenos círculos da epidemia e tentar isolá-los, para que esses círculos não cresçam exponencialmente.

Para isso, é necessário uma maior capacidade de testes não só para detectar e isolar mais infectados, como para testar todos os contactos desses infectados. Há novos métodos de teste que permitem acelerar o processo de teste e rastreio (há testes com resultados em 15~25 minutos, ver caso da Emirates), os quais permitem reduzir substancialmente os custos de todo o processo.

Repetindo a ideia chave, uma equipa destas é cara, mas é uma fracção do que custa ter a economia parada mensalmente, e assim poderemos continuar a relaxar as políticas de distanciamento social de uma forma muito mais segura, transmitindo mais confiança à população. Se sabemos onde o vírus está, podemos actuar, de forma focalizada, nesses locais, e assim conseguir manter controlada a epidemia, sem tanto isolamento social.

Todas as medidas de teste e rastreio permitiram controlar o crescimento da Covid-19 em vários países asiáticos e alguns europeus, e puseram a epidemia sob controlo, sem necessidade de manter uma forte imposição de restrições de distanciamento social por muito tempo e, só assim, se consegue a recuperação da economia, da forma rápida, que todos desejamos.

Agradecimentos ao Think Tank informal “INFO | Covid-19” pelos seus contributos.

Gráficos usados neste artigo

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