Porque dos desafios advêm as aprendizagens, partilho as lições consolidadas no meu desafio recente de criar do zero e fazer crescer uma equipa em Portugal para a proptech norte-americana Buildium.
#1 Co-criar uma missão clara
As equipas existem para gerar resultados. Ponto. Impõe-se, pois, documentar os resultados esperados pela organização. A missão, pelo seu carácter condensado, revela-se o formato ideal para veicular uma mensagem que ajuda todos os elementos da equipa a remarem na mesma direção.
#2 Contratar adequadamente
Sabidas a missão e a dimensão esperadas para a equipa, delineiam-se as necessidades de contratação. Os scorecards, que Geoff Smart e Randy Street apresentam no livro Who, são instrumentos que podemos usar para desdobrar a missão da equipa em missões individuais, resultados concretos e competências necessárias. Eles são uma boa base para procurarmos talentos especializados que possam liderar nas diversas vertentes que a equipa deve integrar.
Discutir com cada candidato o contexto organizacional em que se pretende enquadrar os resultados foi, para mim, um divisor de águas. Por muito duro que seja deixar partir um candidato altamente qualificado por não haver um cultural fit, a equipa como unidade estará mais capacitada para o sucesso. Importa ainda garantir que nesse enquadramento cultural cabe uma ampla diversidade, porque, dizem-nos investigadores da Harvard Business Review, a mesma dota as equipas de uma maior capacidade para lidar com adversidades e de uma melhor performance perante desafios.
#3 Acolher melhor
A criação de um Programa de Acolhimento específico para a equipa (ainda que incluísse porções posteriormente reaproveitadas para outras equipas) revelou-se a etapa relativamente à qual recebi melhor feedback por parte dos novos elementos.
Desenhei e criei este programa com conteúdos e recursos específicos para cada um dos seus primeiros quinze dias na empresa. Reforcei assim a mensagem de que a aprendizagem inicial deve ser encarada com a dedicação e disciplina adequadas à importância que assume na futura performance de cada um.
Para guiar cada um dos novos elementos na autoavaliação do seu processo de aprendizagem, desenvolvi também um questionário anónimo, que potenciou a identificação de tópicos para as sessões diárias de Q&A que estabeleci durante esse período de acolhimento.
#4 Unir os membros em equipa
O acolhimento tem um papel crucial na fase de formação de uma equipa – fazendo aqui referência às fases de maturidade da framework “Forming, Storming, Norming and Performing”, de BruceTuckman. Mas importa também a criação de uma confiança inabalável – essa que Patrick Lencioni, no seu livro The 5 Disfunctions of a Team, aponta como a pedra basilar de uma estrutura sólida sobre a qual assentam os resultados.
Com esse fim em vista, apostei na criação de oportunidades de colaboração, que se revelam especialmente relevantes em casos em que as pessoas estão dispersas por projetos distintos. Momentos de crítica e feedback a um nível mais técnico; apresentações conjuntas numa vertente de disseminação de conhecimento. Momentos de ice-breaking que criam oportunidades para que conheçamos um pouco melhor cada um dos colegas. Identificação de oportunidades de trabalho colaborativo em projetos experimentais ou de roadmap. Reflexões conjuntas sobre os pilares em que assenta o sucesso da equipa: a confiança, o abraçar do conflito, o compromisso, a co-responsabilização e a obtenção de resultados.
#5 Fazer crescer
Estabelecida a equipa enquanto entidade una, impõe-se o seu crescimento. Só assim cria ramificações que adentram e suportam as diversas áreas da organização, singrando.
Esse crescimento assenta necessariamente numa cultura de melhoria contínua. Com reuniões individuais que são mais de mentoria do que pontos de situação. Com discussões individuais regulares sobre o plano de desenvolvimento profissional (gosto de fazê-las mensalmente). Com a partilha de conhecimento doseada em porções fáceis de digerir e de implementar por cada um. Com a celebração das conquistas individuais e conjuntas, para que todos se sintam parte ativa do sucesso da equipa. Com retrospetivas e uma cultura de experimentação, em que a equipa é rápida a testar soluções criativas e mais rápida a ajustar o curso quando necessário.
Portanto…
Se delineares uma missão para a tua equipa, saberás quem deves contratar.
Se acolheres firme e gentilmente as tuas pessoas, tê-las-ás integradas na organização.
Se criares uma rede que envolve essas pessoas, elas serão, juntas, mais fortes.
Se gerares essa força motriz, criarás valor para a organização.
Nota: Este artigo representa a opinião pessoal da autora.
O Observador associa-se à comunidade PortugueseWomeninTech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.