Tendemos a olhar para o Passado com Nostalgia e para o Futuro com Esperança.

Pelo menos, esse era o olhar da minha geração, na juventude.

Falando com as gerações mais novas, agora (e não há nada de científico nas minhas observações), reparo que consideram existir dois Passados – o Passado histórico – que, para elas, é tudo com mais de 30 anos!, e o Presente/Passado, ou seja o Passado recente, das últimas décadas. O Passado histórico é uma abstração, mais ou menos conhecida, dependendo do grau de motivação e educação. O Passado/Presente é olhado com irritação, não com Nostalgia. E o Futuro, com Inquietação, não com Esperança. A irritação resulta de uma acusação, provavelmente, justa: as gerações mais velhas, egoisticamente, através das suas escolhas e decisões, nomeadamente, económicas, industriais e ambientais, destruíram a possibilidade de Esperança no Futuro, das gerações mais novas. O Futuro, por diversas razões – desde as oportunidades de trabalho, de rendimentos e de viver num ecossistema sustentável – é considerado como um lugar estranho, potencialmente, perigoso.

Assim, muitos jovens “estacionaram” as suas vidas no Presente.  O grau de abandono escolar aumentou na escolaridade obrigatória, e, são mais, os jovens que não concluem o ensino superior. Há maior consumo de substâncias aditivas, entre os jovens, desde o tabaco, ao álcool e drogas. O tempo passado em redes sociais e com jogos é muito elevado. O Presente, em que muitos jovens “estacionaram” as suas vidas, é uma espécie de birra com o Passado recente e de falta de expetativas, sobre o Futuro.

As sucessivas experiências falhadas de governos e discursos das Esquerdas – desde o acesso a habitação e emprego, à forma como o discurso identitário resultou numa erosão da estabilidade social – têm levado uma maioria de jovens a preferir, recentemente, o discurso conservador.

Conservar, parece, agora, a melhor forma de revolução.

Face às dificuldades que os jovens enfrentam no dia a dia, aos antagonismos políticos exacerbados para os extremos, cada vez mais, a ambição do Presente reside em coisas, aparentemente, simples, mas, se pensarmos bem, fundamentais: a família, os amigos, um lugar pacífico para viver. Num mundo em crescente agitação, com violência explícita e implícita a tomar conta de cada um de nós e das sociedades, aspirar a coisas que pareciam há muito adquiridas – e agora, sentidas em risco – viver a vida do Presente, procurando conservar o que se estima, é uma aspiração legítima.

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Ao contrário dos jovens dos anos 60 do século passado, que sentiram a necessidade de rasgar o conservadorismo e abrir novos valores – make love, not war – os jovens atuais, paradoxalmente, ao defender valores conservadores, estão a tentar (parece) o mesmo – make love, not war.

A Nostalgia com que, na minha geração, se olhava para o Passado, tinha um lado estético forte, na celebração de ícones, modelos e modos de vida. A esperança com que, enquanto jovens, olhávamos para o Futuro, residia num mundo onde a ameaça da hecatombe ambiental ainda não era evidente e as oportunidades de criação nos eram dadas. Foram os anos 80, depois de passadas as crises do FMI (1ª e 2ª intervenção) e consolidada a democracia e a entrada na CEE. Muitas portas se abriram. O país estava a avançar, a crescer, a desenvolver-se.

Tanto Portugal como o Mundo tiveram tombos sucessivos nas últimas décadas – crises petrolíferas, financeiras, sanitárias. Guerras maiores, agendas disruptivas dos valores tradicionais, aumento dos movimentos migratórios, diminuição do poder de compra e aumento do desemprego. Face às dificuldades, os políticos dos partidos tradicionais não perceberam as angústias e as dificuldades das classes médias. Em Portugal e na Europa, parecem continuar a não perceber. Abriu-se espaço para os movimentos políticos de extrema esquerda e de extrema direita, para o aumento de movimentos religiosos extremistas, para a exacerbação de antagonismos. Não bastasse o facto de tais coisas estarem a acontecer, na geoestratégia global, os interesses anti-ocidentais, aproveitando-se das oportunidades do universo digital, contribuem, ativamente, para que cada pequena fogueira se transforme num incêndio. Assim, conceitos como democracia, liberdade de expressão, solidariedade, nomeadamente, parecem, cada vez mais, perigosos aos olhos daqueles que deles não obtêm os eldorados que a sociedade consumista promete e que vivem cercados pela demagogia, intoxicação comunicacional e falta de oportunidades.

Em quem dizer, aos jovens, para confiar?

Naqueles que identificam e capitalizam as insatisfações, através de propostas de soluções demagógicas? Mesmo que, mais tarde, se venha a descobrir que eram lobos em pele de cordeiro?

Parece que esta é a aposta dos europeus em geral e dos jovens em particular, fartos da erosão dos valores e dos modos de vida atuais, fartos da incapacidade de soluções dos políticos dos partidos que asseguraram durante décadas, a estabilidade do modelo político liberal.

Para onde vamos?