Recordo-me com saudade dos tempos em que as crianças tinham tempo para serem apenas crianças.
Quando eu era pequena, as ruas eram o nosso território de aventuras, onde jogávamos à macaca, pião e a tantas outras brincadeiras já conhecidas ou até mesmo inventadas na hora. As tardes eram preenchidas com risos e energia contagiante, enquanto explorávamos a magia de uma infância repleta de brincadeiras ao ar livre.
Naqueles dias, as preocupações com excesso de peso eram desconhecidas para nós. Não havia espaço para dietas ou contagem de calorias, pois o nosso corpo era nutrido naturalmente. Enquanto corria pela rua, trincava uma maçã ou uma laranja, uma recompensa suculenta após a nossa jornada de diversão. Era uma rotina simples, mas profunda em significado.
No entanto, os tempos mudaram. As crianças agora estão mergulhadas em agendas sobrecarregadas, repletas de atividades extracurriculares e horas de aulas. O tempo para brincar foi substituído pelo uso dos computadores!
É com grande preocupação que nos deparamos com os alarmantes números revelados pelo recente estudo COSI (Childhood Obesity Surveillance Initiative): 32% das crianças portuguesas sofrem de excesso de peso e 13,5% são consideradas obesas.
Essa realidade coloca-nos diante de uma urgência: é fundamental enfrentarmos o problema do excesso de peso infantil em Portugal.
O futuro das nossas crianças está em jogo, e a saúde delas é uma responsabilidade que não podemos ignorar. O estilo de vida moderno, marcado pelo sedentarismo e por uma alimentação inadequada, contribui para o aumento desses números alarmantes. É nosso dever, como sociedade, agir de forma ativa para reverter essa situação preocupante.
A obesidade infantil não é apenas uma questão estética, mas sim um problema de saúde pública. Crianças com excesso de peso estão mais propensas a desenvolverem doenças crónicas, como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares. Além disso, o impacto psicológico e emocional dessas condições pode ser significativo, prejudicando a autoestima e a qualidade de vida das crianças.
Devemos unir-nos em prol de um movimento que coloque a infância no pedestal que ela merece. Vamos abrir espaço na agenda das crianças para que elas possam se dedicar às brincadeiras e às descobertas, longe das amarras do sedentarismo e das tentações alimentares pouco saudáveis.
A mudança começa em casa, mas também é necessária uma ação conjunta entre famílias, escolas, profissionais de saúde e de exercício físico e o governo. É essencial promover uma educação alimentar adequada, incentivando o consumo de alimentos saudáveis e a redução do consumo de alimentos processados e ricos em açúcar. Além disso, a prática regular de atividades físicas deve ser estimulada, tanto no ambiente familiar como nas escolas.
As escolas têm um papel fundamental nessa luta contra o excesso de peso infantil. É necessário oferecer refeições equilibradas e nutritivas nas cantinas escolares, educar as crianças sobre a importância de uma alimentação saudável e proporcionar atividades físicas regulares como parte integrante do currículo escolar. Parcerias com profissionais de saúde, nutricionistas e técnicos de exercício físico. Exatamente por este motivo a Portugal Activo vai apresentar ao Governo uma iniciativa “um ginásio em cada escola” para pôr os meninos e suas famílias a praticar atividade física acompanhada.
Além disso, é imprescindível que o governo adote políticas públicas efetivas para combater esta epidemia.
A luta contra o excesso de peso infantil é um desafio que não podemos ignorar. Precisamos agir agora para garantir um futuro saudável para nossas crianças. Juntos, podemos promover uma mudança significativa, onde “de pequenino é que se vira ‘fininho'”. Não podemos perder tempo. As nossas crianças merecem um futuro saudável e feliz.