A facilidade com que, hoje em dia, se confunde democracia com demagogia é uma consequência do contínuo afastamento da classe política da população e da sua incapacidade de, nos últimos 50 anos, resolver os grandes problemas das pessoas.

Democracia, por definição, é um regime político em que os cidadãos, no aspecto dos seus direitos políticos, participam — diretamente ou através de representantes eleitos — na proposta, no desenvolvimento e na criação de leis, exercendo influência na governação através do sufrágio universal.

Demagogia é: 1. Preponderância do povo na forma do governo; 2. Abuso da democracia; 3. Dominação tirânica das facções populares; 4. Discurso ou ação que visa manipular as paixões e os sentimentos do eleitorado para conquista fácil de poder político. (“demagogia”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024).

Hoje em dia, desde o extremo da Esquerda ao extremo da Direita, em Portugal, assistimos a um claro abuso da Democracia. A prevaricação, o desrespeito e o aproveitamento político associado a este termo é o que sustenta o crescimento de movimentos que dividem a população e cria uma aura de descontentamento tão grande, que o voto das pessoas deixa de ser um voto consciente e assente em princípios sólidos, para ser um voto de revolta, mágoa e frustração (responsabilidade dos partidos que não querem mudar o sistema eleitoral e que faz com que as pessoas não sejam verdadeiramente representadas na Assembleia da República – como consequência direta dessa inércia partidária, mais de 1 Milhão de votos não serviram para eleger qualquer deputado).

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À esquerda, principalmente na ala do Bloco de Esquerda, vê-se um discurso de manipulação e apelo à revolta da população que se identifica com os suas ideias, no sentido de não aceitar o resultado das eleições (democráticas) e criando, mais uma vez um clima de separação, revolta e desconfiança. Ao mesmo tempo, colocam toda a direita “dentro do mesmo saco”, quase afirmando que à direita do PSD é-se fascista. Este discurso para além de falso, é muito perigoso. Afirmam querer defender a democracia, no entanto, este discurso não passa de mais uma demagogia grotesca por parte do Bloco de Esquerda.

A reunião dos partidos de esquerda (quem votou no Livre a pensar que estava a entregar o seu voto a um partido progressista, democrático e a favor do diálogo a bem da estabilidade deve estar desiludido neste momento), com o objetivo de lá sair um possível entendimento para um governo ou apenas para ir contra um governo minoritário da AD (PSD/CDS-PP/PPM), não passa de mais um exercício demagógico e, por sua vez, não democrático. Faz parte do jogo da democracia aceitar a pluralidade de opiniões e a rotatividade do governo (ainda que em Portugal, só governem dois partidos). Afirmar-se que se vai apresentar uma moção de censura (PCP) antes de se conhecer a constituição do governo, é votar contra apenas porque sim, sem qualquer sentido lógico e sem o menor sentido de responsabilidade.

Apostar em grandes mobilizações para os dias 25 de Abril e 1 de Maio, com o objetivo de mostrar à direita que a resistência não desistiu e que a força da esquerda ainda cá está é desvirtuar por completo estas duas datas. 50 anos depois da revolução, é triste celebrarmos esta data não pelo seu significado mas por indecente apropriação política. A liberdade e a democracia não têm donos.

Do outro lado do espectro político, mais à direita, a demagogia vai mais longe e passa mesmo para a mentira e falta de integridade. Um partido que, diz que quer mudar e limpar Portugal, tem nas suas listas (e agora deputados), pessoas que foram emigrantes ilegais (em França e nos EUA, por duas vezes), que teve, em tempos, um cabeça de lista condenado por violência doméstica e que todos os dias muda de opinião sobre todo e qualquer tema, é um partido que não se pode levar a sério.

Acredito que quem tenha votado no Chega comece a ficar desiludido e a legislatura ainda não começou.

Apresentaram-se como a grande força da revolta e da mudança, como a força que não quer fazer parte do sistema e, no entanto, desde o dia 10 de Março até hoje, tudo o que vemos o partido de André Ventura fazer é uma entrada à força no sistema que tanto criticam e uma sede de estar no poder que não olha a meios (provavelmente, à data desta publicação, a posição do Chega já se alterou e aceita tudo o que Luís Montenegro disser).

Acredito que as pessoas são inteligentes e que serão exigentes com o seu voto.

Portugal precisa de mudar, sim. Mas Portugal não precisa de se dividir, não precisa de ter a sua população revoltada. Precisa de soluções, estabilidade e crescimento.  Se o que queremos é ser Democratas, é preciso estudar o que é a Democracia e aceitá-la, mesmo quando não nos é favorável.

Tantos a querer ser os donos de Abril, que se esquecem de o cumprir.

Precisamos de mais transparência, integridade, competência e, acima de tudo, mais liberdade!