A tecnologia digital deveria tornar a distância geográfica irrelevante. As empresas que têm de gerir a distância recorrem ao apoio das tecnologias digitais, mas ao mesmo tempo para estimular a inovação, as empresas muitas vezes têm que reduzir a distância. Na indústria europeia da moda encontramos empresas que gerem um portfolio complexo de múltiplas localizações.

Depois de uma longa e forte vaga marcada pelo offshoring em países de baixo custo, como a China, surgiram limitações a esse modelo: custos ocultos na logística, na qualidade e na coordenação, contrafação, impacto negativo no ambiente, más condições de trabalho e aceleração na mudança de tendências. Um estudo recente realizado pelo Boston Consulting Group mostra uma redução do gap entre os custos laborais na China e nos Estados Unidos, devido a um aumento dos custos laborais na China e da produtividade nos EUA. Antevê-se portanto, uma onda de reshoring em várias indústrias.

Ao mesmo tempo, o desenvolvimento de tecnologias veio simplificar significativamente as comunicações globais. Houve quem inclusivamente previsse que a tecnologia digital iria tornar irrelevante a distância geográfica. A cloud, assim como as plataformas de inovação on-line estão a tornar o offshoring mais simples.

Podemos encontrar argumentos a favor do reshoring, bem como elementos que mostram que a tecnologia está a tornar mais fácil o trabalho à distância. Qual a melhor estratégia numa perspetiva de inovação? Qual o papel desempenhado pela tecnologia?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ao focar na capacidade de inovação das empresas, o offshoring tem sido percebido como um desafio. Na indústria da moda, por exemplo, a inovação de produto está diretamente ligada ao processo de produção. Como consequência, o design não devia ser separado da produção. Por esta razão, recomenda-se co-localizar as duas actividades, o que para muitos significa a manutenção do processo de produção no país de origem. Nesse sentido, a inovação é mais um argumento a favor do reshoring. Um estudo aprofundado de 20 empresas europeias que operam na área da moda, realizado pela CATÓLICA-LISBON e pela ESCP Europe Lectra Chair, mostra um cenário mais complexo. Em primeiro lugar, mais do que uma clara mudança para reshoring ou offshoring, as empresas de moda europeias estão a adotar aquilo a que chamamos de “multi-shoring”, ou seja, um portefólio complexo de múltiplas proveniências, de acordo com os produtos e o seu nível de inovação. Uma das empresas, por exemplo, realiza um terço da sua produção na Europa (incluindo Portugal) e dois terços na Ásia, e em alguns casos o mesmo produto é fabricado na Europa em pequenas séries no início e para o reabastecimento no final da estação, e na Ásia em grandes volumes, durante a estação.

Concluindo, a indústria da moda mostra que a distância entre o design e a produção para uma inovação otimizada, pode ser gerida de formas diferentes, seja através da efetiva redução da distância geográfica, ou da utilização da tecnologia para minimizar os efeitos da distância, e muitas vezes, de ambas. Estas estratégias podem servir de exemplo para outras indústrias que pretendem utilizar o offshore, sem comprometer a inovação.

Professora Associada da Católica Lisbon School of Business & Economics