Para mim, que trabalho sobre o papel do design na inovação há mais de dez anos, foi um privilégio encontrar-me com Philippe Starck e Tim Brown. Por isso, gostava de refletir sobre essa experiência única, e partilhar as lições que obtive desses dois homens.

Primeiro, Philippe Starck, indiscutivelmente o designer mais icónico do mundo, aceitou o nosso convite para apresentar a um grupo de estudantes da cadeira de gestão do design da CATÓLICA-LISBON em março. Agora residente em Lisboa, Starck partilhou insights sobre sua filosofia de design e apresentou alguns dos seus produtos mais icónicos feitos com marcas globalmente reconhecidas como Alessi ou Kartell. Starck apresentou uma colaboração única com a Delta. A parceria resultou na criação da máquina de café Rise que desafia a gravidade, injetando o café pelo fundo da chávena.

Num encontro separado, na Global Peter Drucker Conference em Viena em dezembro, tive o prazer de conhecer Tim Brown. Brown, pai do Design Thinking e antigo CEO da consultora californiana de design IDEO, enfatizou o papel crucial da liderança criativa na promoção da colaboração e otimismo. Também destacou a importância de alocar tempo para a criatividade numa era dominada pela inteligência artificial. No seu livro Change by Design, Brown detalha o processo muito estruturado de Design Thinking, que começa no foco nos utilizadores, passa pela ideação e envolve experimentação, voltando sempre aos utilizadores.

Comparar os dois mestres do design revela uma fascinante contraposição em suas abordagens. Starck, com um portfólio que abrange cadeiras, máquinas de café, barcos e até espremedores de limão, é uma ilustração da inovação através do design. Por outro lado, Tim Brown, sublinha a importância do foco nos humanos. De um lado temos um designer que impõe a sua visão (com muito sucesso) e do outro um designer que recomenda equipas multidisciplinares para auscultar o mercado. São duas perspetivas frutuosas, valiosas e sem dúvida, diferentes.

Com a mesma formação em design, estes dois designers escolheram caminhos muito diferentes, quase opostos. Starck concentra-se em aplicar o seu design e a sua marca a diversos produtos, enquanto Brown ocupa-se com o processo organizado de design. Questionado sobre a sua perspetiva sobre o Design Thinking, Starck respondeu provocativamente não estar familiarizado com o termo. Essa dicotomia forma o foco do meu trabalho como professora e investigadora. A interação entre inovação através do design e o Design Thinking, personificada por Starck e Brown, continua a inspirar e moldar o cenário em evolução da disciplina de design. Nesta era de grandes desafios como a inteligência artificial e a sustentabilidade, não tenho dúvida que design vai ser uma disciplina chave para a nossa perceção do mundo… mas não de maneira uniforme.

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