Durante as férias tive a sorte de fazer duas coisas de que gosto muito: falar com amigos e ler livros na praia. Umas das minhas amigas inglesas, hoje com 61 anos, e que está a frequentar um programa de liderança em Harvard, contou-me que estava a ponderar mudar-se para Lisboa com o marido para preparar o que ela chama o terceiro capítulo da vida. E na praia, li o último livro do Andrew Scott e da Lynda Gratton, The New Long Life que analisa o impacto dos avanços tecnológicos e a longevidade na vida das pessoas, das empresas e das universidades. Após a leitura e a conversa com a minha amiga, dei comigo a refletir sobre o meu próprio futuro e o do mundo do trabalho e do ensino.

Primeiro, cheguei à conclusão de que o modelo da geração dos meus pais, que tinha três etapas claras, estudo, trabalho e reforma, já não existe. Hoje as pessoas vão viver muito mais tempo e provavelmente vão trabalhar além dos 70 anos. Com o avanço tecnológico, a automatização e a robotização, o trabalho humano vai concentrar-se nas competências emocionais como empatia, ou cognitivas como a tomada de decisão. Nestas áreas as pessoas com mais de 65 anos têm a vantagem de ter muito mais experiência acumulada.

Segundo, a idade continua a ser medida da mesma maneira de sempre, cronologicamente, quando hoje uma pessoa de 65 anos tem uma vida, experiência e saúde muito melhor que há uma geração atrás. Com a longevidade acrescida e com uma boa saúde, a idade devia ser medida de maneira biológica baseada no futuro que uma pessoa tem pela frente. Hoje uma pessoa de 65 anos tem muito mais anos de vida saudável que na geração dos meus pais. Uma das implicações da longevidade ao nível da sociedade é que múltiplas gerações vão coabitar mais no trabalho, nas empresas, nas universidades e nas comunidades.

Estas tendências interessam-me, para melhor antecipar e preparar o meu futuro pessoal e profissional. Gosto de ter inspiração para uma vida longa e rica com muitas fases e oportunidades, algumas dentro do mundo corporativo, mas também em projetos. Como académica, estou muito interessada no impacto desta longa vida sobre o mercado de trabalho e ainda mais na formação.

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Em termos de educação, a nossa missão como universidade é a de preparar pessoas para a vida e para o trabalho. No contexto de mudança tecnológica acelerada e de longevidade, todos vão precisar de mais formação ao longo da vida, além da formação académica clássica do início da vida. Ao mesmo tempo, a formação de início de vida deve estar muito mais orientada sobre como continuar a aprender no futuro do que nalgum conteúdo com relevância limitada no tempo.

A educação do futuro vai misturar estudantes de idades e gerações diferentes como a minha amiga de 61 anos que voltou à universidade, e por isso deve ser muito mais feita à medida dos adultos com experiência. Em vez de uma vida com estudo, carreira e reforma temos de preparar-nos para múltiplos momentos de estudos e carreiras múltiplas na vida corporativa dentro e fora das empresas.

Neste momento de regresso às aulas, tenho de me preparar melhor para a vida longa à minha frente, mas também tenho de preparar melhor os meus alunos para o muito que vão viver além dos 100 anos, e as empresas para gerir o trabalho, as pessoas e a formação nesta perspetiva de longevidade. Que sorte temos de viver nestes tempos ricos!